Filoctetes
- Direção: Marcio Aurelio
- Duração: 70 minutos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
A Cia. Razões Inversas, capitaneada pelo diretor Marcio Aurelio, celebra duas décadas e meia reafirmando a essência de uma proposta radical: o investimento em um teatro que fecha o foco no texto e deposita boa parte da responsabilidade da comunicação nas mãos dos atores. A opção, algumas vezes, pode limitar o alcance das montagens, mas quando atinge a plenitude, como foi o caso mais recente de Agreste e Anatomia Frozen, elas se revelam obras-primas atemporais. Novidade da mostra que ocupa a Funarte desde julho em nome dos 25 anos do grupo, Filoctetes está na linha dos espetáculos menos acessíveis. Escrita por Sófocles e revisitada por Heiner Müller na década de 60, a tragédia é centrada em um herói entre os menos conhecidos dos clássicos gregos. Durante a Guerra de Troia, o personagem-título (interpretado por Paulo Marcello) é abandonado pelos companheiros por mais de dez anos em uma ilha, e a solidão o revolta. Humilhado, o excelente arqueiro, no entanto, trava uma batalha interna para não perder totalmente a sensibilidade. O novo embate com o estrategista Odisseu (papel de Marcelo Lazzaratto, grande destaque do trio) e o idealista Neoptólemo (representado por Washington Luiz) traz à tona a necessidade de se fazer pragmático – e, no jogo político, nem sempre os princípios resultam em sobrevivência. A verborragia poderá até incomodar quem estiver disposto a um programa mais leve, mas, se o espectador dedicar plena atenção ao longo discurso, a desafiadora encenação se mostrará uma experiência instigante e conectada aos dias atuais (70min). Estreou em 25/9/2015. Até 20/12/2015.