Epidemia Prata
- Direção: Georgette Fadel
- Duração: 70 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Lançada em 2008 com a peça Porque a Criança Cozinha na Polenta, a Cia. Mungunzá de Teatro ganhou visibilidade com Luis Antonio Gabriela, três anos depois, espetáculo que enfocava um travesti sob um olhar ao mesmo tempo cru e sensível. No drama Epidemia Prata, os atores fundem o discurso social e uma visão particular ao explorar a experiência diante das feridas no centro da cidade. Afinal, o grupo inaugurou em março do ano passado o Teatro de Contêiner, na região da Luz, e não ficou imune aos vizinhos da Cracolândia. A inspiração da dramaturgia coletiva, supervisionada pela também atriz Verônica Gentilin, vem da relação com os moradores dos arredores e da forma como a população interage com os artistas. O ponto de partida apela para a poesia ao apresentar os garotos que pedem esmolas nos semáforos e, pintados de tinta prata, acreditam que podem ficar mais próximos das regras capitalistas. Dirigida por Georgette Fadel, a montagem reafirma contundência e um certo desconforto a cada cena. A mentalidade da classe média entra facilmente em choque diante da realidade desfavorecida. Pelo palco passam, entre outros, um garoto que rouba rolos de papel higiênico do teatro e um menino que, convidado a visitar a casa de dois atores, deixa um odor tão forte que os obriga a desinfetar o sofá. Personagem emblemática, a Mulher da Bolha (representada por Virginia Iglesias) atravessa o espetáculo como uma simbologia das supostas boas intenções dos mais favorecidos, que, com a distribuição de trocados, acreditam dormir em paz diante da convulsão social. O pessimismo se faz evidente, mas, em vez de lamentar, a Mungunzá o transformou em arte. O elenco conta ainda com Gustavo Sarzi, Leonardo Akio, Lucas Beda, Marcos Felipe e Pedro Augusto (70min). 14 anos. Estreou em 23/5/2018.