Diários do Abismo
- Direção: Sergio Módena
- Duração: 80 minutos
- Recomendação: 12 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
A carioca Maria Padilha marcou forte presença nos palcos nas últimas décadas. Protagonizou uma inesquecível A Falecida, de Nelson Rodrigues, foi dirigida por Enrique Diaz em As Três Irmãs, de Tchecov, e também deu vida ao papel-título de Cordélia Brasil, peça pouco lembrada de Antônio Bivar. Com o monólogo Diários do Abismo, em encenação comandada por Sergio Módena, a atriz recupera uma essência escondida em seu trabalho anterior nos palcos paulistanos, a comédia A Escola do Escândalo, no distante 2011: a capacidade de trazer à tona uma assinatura de artista preocupada em ser desafiada pelo próprio repertório. Guiado pela dramaturgia de Pedro Brício, adaptada do livro Hospício É Deus, o espetáculo atual revela uma interessante personagem real, a jornalista e escritora mineira Maura Lopes Cançado (1929-1993). Ela nasceu em uma família abastada, conheceu o abuso sexual na infância, casou-se e teve filho ainda adolescente e, diagnosticada como esquizofrênica, viu seu mundo nublar-se aos 18 anos. Entre várias internações, Maura morou no Rio de Janeiro, trabalhou na redação de um grande jornal e produziu intensamente mesmo quando a cabeça já sinalizava o desequilíbrio total. Maria Padilha surpreende na exploração da própria técnica e apresenta Maura em um permanente discurso de sedução, seja pela inteligência, seja por uma latente sensualidade. A protagonista sobe ao palco serena e expõe sua narrativa. Aos poucos, dramatiza as crueldades vividas e as crises frequentes. Por fim, mergulhada na instabilidade emocional, ganha a cumplicidade dos espectadores, atentos a suas angústias. Diretor seguro, Módena norteia a intérprete em meio a essas metamorfoses, provocando seu talento e viabilizando o retorno de sua ambição criativa, típica de Maria, em um resultado bem-sucedido (80min). 12 anos. Estreou em 15/3/2019.. Até 7/4/2019.