De Volta a Reims
- Direção: Cácia Goulart
- Duração: 80 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Com o monólogo Eu Tenho Tudo (2016), do argelino Thierry Illouz, o ator Pedro Vieira (foto), além de firmar-se como artista potente, mostrou-se um comunicador de ideias. Esta sua nova experiência-solo, De Volta a Reims, busca inspiração no livro homônimo do filósofo francês Didier Eribon, em uma dramaturgia construída por Reni Adriano. A história, de teor biográfico, parte de um homem que, depois de trinta anos, regressa à cidade natal e encara a família deixada para trás. A ascensão social e a homossexualidade fizeram dele uma pessoa diferente dos seus. Só que as raízes continuaram congeladas, como se esperassem o dia do reencontro. Muito mais que um drama intimista ou psicológico, a montagem, dirigida pelas mãos sutis de Cácia Goulart, traz à tona um apontamento social e identitário, em que tudo se revela provisório. O texto funde ponderações íntimas do filósofo Eribon com as experiências do protagonista, menino pobre criado no sertão alagoano, em uma família sem perspectivas de progresso. O teatro lhe abriu as portas para a tal classe média e para contatos com uma elite intelectual jamais imaginada pelos pais e irmãos. O artista expõe a ilusória facilidade de transitar por outras camadas sociais, que aceitam gays e profissionais de relativo sucesso mas não entendem a eterna condição transitória de alguém que não veio ao mundo como um privilegiado. Disfarçado de personagem, Vieira leva à cena as inquietações secretas de uma considerável parcela de brasileiros. Mesmo quem fingir não decifrar a mensagem deverá sair do teatro perturbado com a força do discurso político ali apresentado (80min). 14 anos. Estreou em 13/4/2019. Até 26/5/2019.