Contrações
- Direção: Grace Passô
- Duração: 80 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Dá gosto ver Débora Falabella no palco. Estrela das novelas da Rede Globo, ela poderia desfrutar das férias na emissora dedicando-se a qualquer outra atividade, como boa parte de seus colegas costuma fazer. Mas Débora é uma atriz também de teatro e prefere estar no palco. Durante o mês de setembro, o seu Grupo 3, completado pela atriz e diretora Yara de Novaes e pelo diretor e pesquisador Gabriel Fontes Paiva, ocupou o Teatro Sérgio Cardoso com três espetáculos, A Serpente, O Continente Negro e O Amor e Outros Estranhos Rumores. A estreia do drama Contrações no Centro Cultural Banco do Brasil vai além de mostrar um trabalho inédito. Sob a direção de Grace Passô, a montagem do Grupo 3 traz para o público um bom espetáculo, apoiado em uma temática contemporânea, de opções estéticas arrojadas – algumas discutíveis – e de diálogo acessível ao público. Escrito pelo inglês Mike Bartlett, o texto foi encenado por Zé Henrique de Paula sob o título de O Contrato em 2011. Se a leitura anterior privilegiava os diálogos sarcásticos e tinha o ator Sergio Mastropasqua e a atriz Renata Calmon como a dupla principal, a atual montagem foge de qualquer realismo para representar essa visão autoritária do mundo corporativo. O fato de ser protagonizado por duas mulheres, como manda o original, amplia as possibilidades de leituras, inclusive a do espelhamento entre as duas. Yara de Novaes interpretada a gerente linha-dura, que, um belo dia, faz um alerta para uma de suas funcionárias, a jovem e eficiente Emma (papel de Débora): não é permitida nenhuma relação sentimental ou sexual entre colegas de trabalho. Em sucessivos encontros, o abuso de poder e as tentativas de manipulação da superior em relação à empregada só tomam tintas mais fortes e, em situações que beiram o absurdo, a chefe testa até que ponto Emma é capaz de segurar o vale-tudo capitalista. No bate-bola de interpretações, Débora é mais interiorizada e transmite as surpresas, raiva e abnegação da personagem. Ela investe no olhar e na transformação da postura e, aos poucos, vai ficando curvada e com os movimentos mais lentos. Em contrapartida, Yara esbanja uma intensidade crescente, principalmente por explorar mais a voz e reforçar o caráter amargo e a vilania da personagem. Contradições perde fôlego em propostas abstratas de direção – uma das marcas de Grace Passô –, como a ideia do prólogo e as excessivas cenas da personagem Emma tocando na bateria. Na primeira vez, fica evidente a boa sacada. Depois, é pura repetição. O equilíbrio das interpretações, no entanto, é o grande trunfo da encenação e prova que, mesmo em um palco vazio, o efeito não seria menor. Estreou em 19/10/2013.