As Comadres
- Direção: Ariane Mnouchkine
- Duração: 110 minutos
- Recomendação: 12 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
De tempos em tempos, surge nos palcos da cidade um espetáculo de DNA estrangeiro apoiado em uma grife de respeito. Esse é o caso de As Comadres, versão musical de René Richard Cyr e Daniel Bélanger para a peça de Michel Tremblay, escrita em 1965, que ganha direção da francesa Ariane Mnouchkine. Trata-se da primeira vez que a fundadora do Théâtre du Soleil monta um trabalho fora de seu país, e o resultado, por mais bem-acabado que pareça, peca por uma falta de identidade com o Brasil de hoje. Aos olhos da mulherada à sua volta, Germana Lauzon (interpretada por Janaína Azevedo no dia 11) tirou a sorte grande. Em uma promoção, ela faturou 1 milhão de selos, que, colados em cartelas, renderão uma renovada nos móveis e utensílios da casa, localizada na periferia. Em busca de ajuda, a felizarda convoca amigas, vizinhas e parentes e, entre conflitos familiares, surtos de inveja e fofocas, todas se unem, em uma atitude improvável, contra Germana. As vinte atrizes revezam-se entre dezesseis personagens a cada noite. Logo, espere por surpresas. Juliana Carneiro da Cunha, por exemplo, não estava na sessão avaliada. A trama carrega uma pretensão social deslocada para o país e, no máximo, encaixa-se como alegoria. Quanto ao caráter feminista, a visão resulta antiquada e caricatural. Um aborto é algo extraordinário, e a irmã que virou prostituta (papel de Gabriela Carneiro da Cunha) tem o desprezo de todas. Filhos e maridos pautam as queixas, e a chance de mudar de vida é passar a perna no próximo. Os números musicais são, quando muito, divertidos. A exceção é um forte e surpreendente solo da atriz Maria Ceiça, raro momento em que o olhar estrangeiro ganha caráter universal (110min). 12 anos. Estreou em 5/7/2019. Até 28/7/2019.