A Mentira
- Direção: Inez Viana
- Duração: 70 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Em 1953, o dramaturgo Nelson Rodrigues publicou no semanário Flan um romance em dezoito capítulos que só ganharia o formato de livro em 2002. Com adaptação e direção de Inez Viana, A Mentira chega aos palcos como uma tragédia protagonizada pelos atores da Cia. Omondé. A história é centrada em uma família cheia de culpas, taras e repressões, algo comum na obra de Nelson. Lúcia é uma garota de 14 anos, de personalidade forte, a caçula das quatro filhas de Maciel e Ana. Depois de um desmaio, a menina consulta um médico e, para espanto geral, descobre-se uma gravidez. Obcecado pela filha, o pai pensa em como salvar a reputação da moça e não afastá-la de seu convívio. Traições e abusos são revelados, evidenciando a aura hipócrita do clã. Inez surpreende ao apresentar uma encenação apoiada na versatilidade dos intérpretes, desprovida de cenários e com figurinos neutros. Nenhum ator representa um personagem específico. Pelo contrário, o elenco transita por todos os papéis, independentemente de gênero ou aproximação realista, em uma sacada estimulante também para a plateia. André Senna, Denise Stutz, Elisa Barbosa, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Lucas Lacerda, Zé Wendell e a diretora formam o entrosado grupo. É interessante observar que A Mentira pode ser considerado um embrião da peça Os Sete Gatinhos (1957), em que Nelson radicalizaria ao desmontar uma família logo depois de ser anunciada a gravidez da filha mais nova, até então considerada virgem e a possível salvadora da honra coletiva (75min). 16 anos. Estreou em 9/11/2018.