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Contra o mau humor e a dor de cabeça ou para emagrecer?

Remédio da moda, topiramato deve ser usado apenas em casos específicos

Por Alexandre Aragão
Atualizado em 5 dez 2016, 18h02 - Publicado em 1 jun 2011, 19h12

Enquanto as academias da cidade ficam abarrotadas de candidatos a ter uma silhueta esguia, alguns procuram caminhos menos exaustivos para atingir o corpo perfeito. O topiramato, remédio produzido para combater convulsões, ataques de epilepsia e enxaquecas, virou o queridinho de quem quer emagrecer sem suar.

Após também se mostrar útil na redução de peso e no combate à compulsão alimentar em estudos produzidos nos Estados Unidos, a pílula passou a ser parte do repertório de endocrinologistas — e pacientes mais sedentos por novidades passaram a marcar consultas para requisitar receitas.

“O topiramato deve ser usado apenas em casos pontuais de obesidade”, afirma Márcio Mancini, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). “Não funciona com todo mundo”, endossa Alfredo Halpern, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas.

No 14º Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, organizado pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso) entre os dias 25 e 28 de maio deste ano, o uso do topiramato foi um dos tópicos mais debatidos. “As pessoas estão usando mais, isso é indiscutível”, conta Halpern, que presidiu o evento. “Nos últimos três anos, o aumento do consumo foi significativo não apenas no Brasil.” O especialista atribui o fato ao maior número de estudos clínicos que comprovam a eficácia do topiramato no tratamento de compulsão alimentar e na perda de peso.

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Nos Estados Unidos, a combinação do remédio com a fentermina, um tipo de anfetamina, apresentou resultados ainda melhores para o emagrecimento. “Essa associação diminui os efeitos colaterais de cada um dos medicamentos”, explica Halpern. A FDA, agência que regulamenta medicamentos naquele país, requisitou mais estudos para aprovar o uso comercial desta combinação. No Brasil, a fentermina é proibida, o que impossibilita o uso combinado dos medicamentos. “Cerca de metade dos brasileiros têm sobrepeso, o assunto deveria ser levado mais a sério”, diz Macini.

A principal diferença entre os possíveis usos do topiramato é a dosagem. Para pessoas que desejam perder peso, a ingestão de 25 a 100 miligramas por dia é suficiente. Já a quantidade recomendada aos fins originais do remédio chega a 400 miligramas diários. Alguns dos sintomas possíveis são perda de memória, formigamento, sonolência, irritabilidade e tonturas.

Nas dez farmácias visitadas pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, a caixa de 60 comprimidos de 25 miligramas custava, em média, 53 reais. O preço variou entre 39 e 69 reais. Usuário do topiramato durante oito anos, o dramaturgo Gerald Thomas interrompeu o ciclo em maio do ano passado. Utilizado por ele como um modulador de humor — foi prescrito por um médico americano após os ataques às Torres Gêmeas, que ele viu da janela de seu apartamento —, o remédio apresentou dois efeitos colaterais: perda de peso e mudança na temperatura corporal. “Tomava quatro comprimidos de 100 miligramas cada um por dia, o que tirava meu apetite. Tinha que me forçar a comer”, conta.

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Acima do peso e sofrendo de compulsão alimentar, a publicitária Marcela Pierin, de 32 anos, começou o tratamento com topiramato há dois anos e meio. Por recomendação de seu médico, ela também tomou, combinada à medicação, a sibutramina, remédio que tem como principal objetivo o emagrecimento. Dos 78 quilos que tinha, sobraram 57. “Mas, sem mudar a alimentação, não adianta nada”, alerta Marcela. “Fiquei um ano sem comer doces”, diz. A publicitária conta que integrou ao seu dia a dia corridas no parque e outros exercícios aeróbicos na academia. Quando tentou passar a dose do topiramato de 25 para 50 miligramas diárias, sentiu aumentar o único efeito colateral que sofreu durante o tratamento: a sonolência. “Por isso, tomo sempre à noite.”

Para não errar na hora de indicar o remédio, médicos têm adotado um expediente para aumentar sua eficácia. “Prescrevo o topiramato apenas quando há alguma outra condição para o uso da substância, como enxaqueca constante”, explica Rosana Radominski, presidente da Abeso. Antônio Roberto Chacra, chefe do departamento de endocrinologia da Unifesp, faz uso de procedimento semelhante: “O topiramato pode ajudar no processo de emagrecimento de pacientes em que o excesso de peso está associado à ansiedade.” Outros candidatos a usuários da medicação são pacientes com compulsão alimentar e obesos com diabetes ou problemas cardíacos.

Em meio ao debate, a melhor fórmula para perder peso continua sendo a de sempre: “Mudança de hábito, com exercícios físicos e adequação da dieta”, diz Rosana. Enquanto os laboratórios não descobrem o elixir do emagrecimento, o jeito é subir nas esteiras.

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