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A nova cara do mercado plus size em São Paulo

Mercado, que anda na contramão da crise, movimenta 200 milhões de reais por ano na capital  

Por Bárbara Öberg e Mariana Rosário
Atualizado em 10 mar 2017, 19h51 - Publicado em 10 mar 2017, 19h12

Comprar roupas de tamanhos grandes pode ser tarefa difícil. O desconforto começa pelos nomes de alguns comércios especializados, nada sutis: Fofinhas, Porta Larga, e assim por diante. Há quem saia da loja e troque a sacola para não passar vergonha.

Vendedoras sem noção, principalmente as pouco acostumadas a lidar com esse público, também ajudam a piorar a experiência. “Nem adianta provar”, depois de um olhar de cima a baixo no cliente, e “meu GG não é pequeno, você é que precisa emagrecer” são algumas das indelicadezas que a turma dos gordinhos ouve por aí.

Quase sempre, os provadores são apertados e as araras deixam desanimado qualquer um que queira fugir do estilo clássico e dos tons sóbrios. Mas esse cenário vem mudando a passos largos. A moda plus size ganha cada vez mais marcas e eventos de pegada diversificada.

No último ano, o segmento movimentou no varejo cerca de 200 milhões de reais na capital, um aumento de aproximadamente 11% em relação ao ano anterior, um feito e tanto em momentos de crise.

No país, o comércio de vestuário no geral evoluiu apenas 1,3% no mesmo período. “Há demanda maior do que a oferta, por isso essa área se mostra bastante promissora”, afirma o economista Marcelo Prado, diretor do Iemi — Inteligência de Mercado. O movimento desse mercado acompanha o aumento de peso da população.

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De acordo com o Ministério da Saúde, 55,3% dos paulistanos maiores de idade se veem acima do peso aconselhável (ou seja, com índice de massa corporal além de 25). Destes, 21,2% estão obesos. Nove anos atrás, essas taxas eram, em média, 10% menores. “A vida nos centros urbanos colabora para uma rotina mais sedentária e uma alimentação menos saudável”, explica Marcio Mancini, endocrinologista e chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas.

No domingo (19), rola um dos principais eventos de moda da área, o Fashion Weekend Plus Size. O Centro de Convenções Frei Caneca, na Consolação, recebe sua 15ª edição, que adianta tendências com desfiles e palestras. No mesmo fim de semana, tem vez o Pop Plus, bazar que se realiza no Club Homs, na Avenida Paulista, dedicado apenas a etiquetas de tamanhos grandes.

Na maior edição do projeto desde a sua criação, em 2012, estarão presentes 57 lojas, com oferta de produtos como roupas, calçados e acessórios. As opções de compra crescem também na internet. Boa parte dos clientes prefere tirar suas medidas em casa para evitar visitas constrangedoras a lojas físicas.

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“Crescemos 30% no último ano”, comemora Cynthia Horowicz, sócia da multimarcas on-line Flaminga, que reúne mais de cinquenta etiquetas do gênero. A maioria delas tem apelo jovem e descolado. Outros negócios se valem de segmentos pouco explorados na modelagem GG.

Flávia Durante, Juliana Romano e Akeen dos Santos: ativistas do plus size na capital (Leo Martins/Veja SP)

A La Curvy, por exemplo, oferecerá, a partir de abril, trajes de ginástica, enquanto a Xica Vaidosa traz ares de “periguete”, com saias justas e vestidos curtinhos. A Luxe Mode & Acces sories expandiu sua clientela ao vender extensores para gargantilhas e numerar itens como pulseiras com tamanhos do P ao GG. Grandes redes, a exemplo de Renner e Marisa, entraram na onda e lançaram recentemente linhas do tipo.

Em um momento em que muito se fala sobre empoderamento, modelos GG começam a aparecer cada vez mais em campanhas publicitárias, posando como musas da diversidade. Porém, o assunto ainda avança devagar nesse aspecto. Termos do naipe de “gordo” ainda são tabu.

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Em uma campanha de setembro do ano passado, a C&A apostou na modelo Maria Luiza Mendes, de manequim 44. Recebeu críticas, porém, tanto de quem não gostou da mudança de paradigma quanto dos próprios gordinhos. Os últimos acharam que a moça não se distanciava tanto assim dos padrões.

A jovem, entretanto, engrossa o time de estrelas das passarelas do plus size, encabeçado por nomes como Fluvia Lacerda e Mayara Russi, conhecidas, respectivamente, como Gisele Bündchen e Ana Paula Arósio GG. A agência Ford Models Brasil, uma das mais relevantes no ramo, conta com uma subdivisão para profissionais do tipo “curve”.

São vinte meninas de manequim entre 44 e 48 e altura acima de 1,70 metro. “Tenho garotas que conseguem mais de 300 000 reais de faturamento por ano”, garante Deborah Neumann, booker da empresa. Modelos não tão famosas costumam ganhar 2 500 reais por oito horas de trabalho.

Prova do interesse na área aparece também no surgimento de blogueiras “curvilíneas”, que, além de promover o usual “look do dia”, falam sobre comportamento e beleza. Uma das mais bem-sucedidas é a paulistana Juliana Romano. Há oito anos ela comanda o site Entre Topetes e Vinis, que tem 240 000 fãs nas redes sociais.

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Dá dicas para vestir bem estilos normalmente “proibidos” para cheinhas, como babados, transparências e decotes. Até nas escolas de samba, famosas por ostentar corpos malhados, se veem sinais de mudança. No mês passado, gordinhas desfilaram no Sambódromo do Anhembi em uma ala da Rosas de Ouro, cujo enredo abordava os grandes banquetes. “Reunimos sete integrantes plus size na avenida. Em 2018, queremos catorze”, planeja o coordenador de ala Campitelli Brasil. “Antes, quando uma passista engordava, era cortada no ano seguinte; queremos mudar esse cenário.”

Conheça destaques do plus size na capital

Maria Luiza Mendes: campanhas publicitárias para C&A e Avon (Leo Martins/Veja SP)

Tamanho 44
“Você tem um rosto lindo.” A paulistana Maria Luiza Mendes, de 28 anos, já cansou de ouvir essa frase. Com 1,73 metro de altura e 85 quilos, a morena de olhos azuis usa manequim 44, tamanho comum a muitas mulheres por aí. Porém, já é considerada uma modelo plus size. Antes veterinária, ela anda brilhando em ensaios fotográficos. Agenciada pela Mega, fez campanhas para gigantes como C&A (seu trabalho de maior repercussão, em setembro do ano passado) e Avon. Também realizou sessões de fotos em Nova York e na Colômbia. Por isso, pretende investir na carreira internacional. “Como de tudo, mas não exagero para meu peso não oscilar”, afirma. Hoje, Maria se diz segura com as curvas, porém nem sempre foi assim. “Aos 15 anos, saí chorando de uma loja por não conseguir comprar calças jeans.”

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Flávia Durante: fundadora do Pop Plus (Leo Martins/Veja SP)

Bazar descolado
A rotina pauleira rendeu à jornalista e produtora de eventos Flávia Durante, de 40 anos, 40 quilos a mais na balança no período de uma década. Acostumada a vestir roupas coloridas e decotadas, ela não deixou a transformação da silhueta nem os 125 quilos mudarem seu estilo. Em 2012, investiu 500 reais em uma leva de biquínis de tamanho grande para revender. Deu certo, e Flávia criou, em seguida, o bazar especializado Pop Plus, no Bixiga. O evento cresceu e hoje rola na Avenida Paulista, com a adesão de 57 marcas e direito a fila na porta antes de abrir. “Agora, sobram propostas de etiquetas que querem participar”, orgulha-se.

Juliana Romano: blogueira embolsa até 70 000 reais por campanha (Leo Martins)

Blogueira GG
Quem vê a segurança da blogueira Juliana Romano, de 27 anos, não imagina como foi difícil para a jovem aceitar o próprio corpo. “Na adolescência, eu tomava laxante todos os dias para emagrecer”, conta ela, que já enfrentou a bulimia. Só superou o distúrbio após quase dois anos de terapia. “Há uma década não me peso. Ver o número na balança desencadeava minhas crises.” Em 2009, começou o blog Entre Topetes e Vinis, hoje uma referência no universo plus size. No site, que contabiliza entre 400 000 e 700 000 acessos mensais, posta dicas para as gordinhas. Requisitada para parcerias comerciais, Juliana chegou a embolsar 70 000 reais por uma única campanha.

Akeen dos Santos: cachês de 400 reais a 1 200 reais (Leo Martins/Veja SP)

O modelo “new face”
Após os plantões de doze horas durante a madrugada, o enfermeiro Akeen dos Santos, de 24 anos, enfrenta outra jornada de trabalho, dessa vez como modelo plus size — ele chega a dormir apenas três horas. Destaca-se em um mercado dominado por mulheres, em que ainda poucos rapazes atuam como manequim. Há pouco mais de um ano na área, faz cerca de cinco trabalhos por mês. Descola cachês que variam de 400 a 1 200 reais. Com manequim 56, 150 quilos e 1,96 metro, Akeen apareceu na última edição da São Paulo Fashion Week, em outubro, no desfile da marca LAB, do cantor Emicida. “Nunca me importei com o fato de ser gordo, mas antes fugia das câmeras. Só me aceitei mesmo aos 17 anos”, conta.

Renata Poskus: referência no mundo plus size (Leo Martins/Veja SP)

Que mulherão!
Renata Poskus virou referência no mundo GG. Em 2010, criou a Fashion Weekend Plus Size, evento semestral de moda especializada, que reuniu dez marcas e 400 visitantes. Ela mesma chegou a desfilar. Para a próxima edição, no domingo (19), na Consolação, são esperadas 2 000 pessoas. A moça de 35 anos e 97 quilos também comanda desde 2007 o blog Mulherão, com cerca de 300 000 acessos mensais, um dos pioneiros no nicho. Ali, propaga mantras como “Gordo pode fazer ou comer o que quiser”. “As pessoas precisam parar de nos podar”, reclama. Além disso, Renata toca há um ano a própria marca de roupas, a Maria Abacaxita, uma espécie de Farm para as cheinhas, repleta de estampas florais e coloridas.

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