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Vacinação em São Paulo: tudo certo, nada resolvido

Vacinação contra coronavírus atinge público exíguo na cidade, e falta de insumos para imunizantes vindos da China deve tornar espera mais longa

Por Guilherme Queiroz, Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h52 - Publicado em 22 jan 2021, 06h00
Enfermeira sendo vacinada
Falta de insumos: vacinação contra coronavírus atinge público exíguo na cidade (Secretaria Municipal de Saúde/Divulgação)
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Quase uma semana depois da aprovação do uso emergencial da vacina contra o coronavírus, feita pela Anvisa no domingo (17), o anseio da população pela tão esperada picada no braço ganhou doses de frustração ao longo dos dias. Nem mesmo os grupos prioritários, como servidores da saúde e idosos, serão atendidos em sua plenitude. Como apenas 6 milhões de unidades da CoronaVac estavam prontas e puderam ser divididas pelos estados, a primeira e a segunda doses serão suficientes para atender somente 3 milhões de brasileiros.

Na cidade de São Paulo, que ficou com 430 000 doses (o estado recebeu 1,3 milhão), apenas 40% dos mais de 500 000 funcionários de hospitais e unidades de saúde serão imunizados. Também entraram na primeira fila os mais de 14 000 idosos que vivem em asilos públicos e privados. “O critério da distribuição das vacinas (pelo governo João Doria) foi extremamente injusto, pois temos 6 000 leitos hospitalares e recebemos proporcionalmente muito menos que cidades com dez leitos e com mais de 50 000 vacinas recebidas”, afirma o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido. “Mas não adianta reclamar. Vamos priorizar quem está na linha de frente, que trabalha 24 horas por dia em UTI ou em enfermarias de Covid, e depois vamos vacinando o resto.”

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A enfermeira Mônica Calazans tomando a primeira dose da vacina CoronaVac, ao lado de João Dória, governador de São Paulo
Dose aplicada em enfermeira do Instituto Emílio Ribas: a primeira do Brasil (Governo de São Paulo/Divulgação)

Para dar conta da demanda de imunizar milhões de paulistanos, ainda sem data definida, a gestão municipal vai lançar mão de 3 000 postos de vacinação, sendo 1 000 fixos (dos quais 468 são Unidades Básicas de Saúde) e 2 000 chamados de satélites. Poderão ser estádios de futebol (Corinthians, São Paulo e Palmeiras ofereceram seus espaços), shoppings, Centros Educacionais Unificados (CEUs) e terminais de transporte coletivo. Esse número pode crescer ainda mais.

3 000 pontos de vacinação devem atender os paulistanos: além dos postos de saúde, shoppings, estádios e escola

A Associação Brasileira de Redes de Farmácia e Drogarias (Abrafarma) ofereceu aos governos federal e estadual, sem custos, as salas de imunização de todas as suas associadas para a aplicação da CoronaVac. Na capital paulista são 711 pontos. De acordo com a entidade, que ainda não teve resposta do poder público, o agendamento poderia ser feito pela internet.

Outra entidade que poderá abrir suas portas para a vacinação é a Associação Paulista de Supermercados (Apas), que faz enquete com seus associados para saber quem estaria disposto a entrar na empreitada. O aumento no número de pontos de vacinação poderá desafogar os tradicionais locais de imunização. “Nas Unidades Básicas de Saúde temos uma demanda diária de pacientes e de vacinações. Nosso quadro é enxuto e a preocupação é de não estourar o sistema, como ocorreu há quatro anos”, afirma Lourdes Estevão (68), auxiliar de enfermagem municipal e diretora do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias da cidade (Sindsep). Ela se refere à vacinação contra o surto de febre amarela, em 2017, que resultou em filas e confusões em postos de saúde da cidade. “A situação era diferente da de agora e deu no que deu. Teve funcionário de posto de saúde que apanhou. Sempre tem gente que aparece com alguma justificativa para passar na frente.”

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FEBREAMARELA_UBS_JDBOAVISTA_3 (1).jpg
Vacinação contra febre amarela, em 2017: filas intermináveis (Alexandre Battibugli/Veja SP)

O uso de grandes espaços já foi posto em prática em países que saíram na frente na corrida pelas vacinas, como Inglaterra e Estados Unidos. Nesse último, o Hard Rock Stadium, na Flórida, imuniza cerca de 1 000 pessoas por dia com a vacina da Pfizer. Na Alemanha, o centro de convenções Arena Berlin é um dos seis pontos de vacinação em massa, com capacidade de atender até 5 000 pessoas por dia.

Estacionamento lotado de carros sendo usado como ponto de vacinação nos Estados Unidos
Ponto de vacinação em estacionamento do Disneyland Resort, na Califórnia, EUA (MediaNews Group/Orange County/Getty Images)

Por aqui, a fila deverá andar um pouco mais depois que a Anvisa aprovar outros 4,8 milhões de doses da CoronaVac já envasadas pelo Butantan, mas o fôlego maior só ocorrerá quando a China liberar o insumo para produzir mais 11 milhões de frascos, o que está atrasado e fez com que todas as fases previstas de vacinação tenham de ser revistas.

Para adiantar, o governo de São Paulo e o Ministério da Saúde lançaram plataformas que podem agilizar a picadinha: o site Vacina Já e o aplicativo Conecte SUS. O cadastro, no entanto, não é obrigatório

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A previsão mais otimista é que a matéria-prima chegue na próxima semana, mas tudo depende do desenrolar das negociações com os chineses. Enquanto o Dia D e a Hora H não chegam para valer para os paulistas, o governo do estado disponibilizou uma plataforma que deve agilizar o atendimento na hora da vacinação, o site Vacina Já. Por lá, dá para informar dados básicos como nome, e-mail, CPF e endereço. Também é possível instalar no celular e realizar o cadastro no aplicativo Conecte SUS, do Ministério da Saúde, onde serão registradas as aplicações das doses da vacina na carteirinha digital.

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No dia de ir tomar a vacina

  • CUIDADO Chegou o esperado momento da vacinação, mas você está com febre, dor de cabeça, enjoo? Infelizmente, a escolha correta é faltar na campanha. São dois motivos: o primeiro, pode ser Covid, ou seja: se isole. O segundo, uma piora da sua doença pode ser confundida com um efeito adverso do imunizante.
  • EM TRATAMENTO Estou, por exemplo, tomando antibiótico para tratar uma infecção. Posso tomar a vacina? Depende. Se você estiver se sentindo bem e já teve diagnóstico para o problema de saúde, não há contraindicação.
  • GRÁVIDAS E LACTANTES Ainda não há estudos da CoronaVac ou da AstraZeneca neste segmento da população. O indicado, por enquanto, é não tomar a vacina.

Fonte: Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações

A imagem apresenta uma caixa, com a tampa aberta, contando com doses da CoronaVac
CoronaVac: vacina utiliza vírus da doença inativado (Secretaria Municipal de Saúde/Divulgação)
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Grupos prioritários

  • Quando serão vacinados os que apresentam comorbidades?
    Depois dos idosos, na terceira fase, ainda sem data definida.
  • Quais doenças previstas?
    Diabetes mellitus; hipertensão arterial sistêmica grave; doença pulmonar obstrutiva crônica; doença renal; doenças cardiovasculares e cerebrovasculares; pessoas que receberam transplante de órgão; anemia falciforme e obesidade grave.
  • Como comprovar?
    Apresentação de exames, receitas e relatórios médicos que comprovem o pertencimento ao grupo de risco no momento da vacinação.

Fonte: informações enviadas para a Vejinha pelo Ministério da Saúde.

Sobre a eficácia de outras vacinas

A eficácia geral da CoronaVac ficou em 50,38%. Para proteção de casos leves, o índice é 78%: o fenômeno não é exclusivo dessa vacina.

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BCG O imunizante protege 80% das vezes contra casos graves de tuberculose, mas praticamente não é eficaz contra as formas leves da doença.

GRIPE A clássica dos postinhos de saúde tem uma eficácia que varia entre 60% e 70%, mas pode diminuir para até 40% conforme a faixa etária e o sistema imunológico do paciente.

ROTAVÍRUS Protege em até 90% contra casos graves, mas tem pouca eficácia contra formas leves de diarreia.

TRÍPLICE VIRAL Contra sarampo, rubéola (eficácia de 90% na primeira dose e 95% na segunda) e caxumba (75% na primeira e 80% na segunda).

Fontes: Juarez Cunha, pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações; Raquel Stucchi, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia e professora da Unicamp.

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Publicado em VEJA São Paulo de 27 de janeiro de 2021, edição nº 2722

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