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‘Neste país é pecado ser bem-sucedido’, diz ‘rei dos fiscais’

Suspeito de receber propina de construtoras, o auditor da prefeitura José Rodrigo de Freitas tem salário de 21 000 e patrimônio estimado em 55 milhões de reais

Por Adriana Farias
Atualizado em 1 jun 2017, 16h46 - Publicado em 27 jun 2015, 00h00
Rei dos Fiscais - Corrupção
Rei dos Fiscais - Corrupção (Fernando Moraes/)
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O paulistano José Rodrigo de Freitas, de 54 anos, é um fenômeno em termos de acumulação de patrimônio pessoal. Para onde quer que se olhe na cidade, há um punhado de imóveis que pertencem a ele. Na Zona Oeste, possui um flat no Itaim Bibi, quatro salas comerciais na Barra Funda e outras quatro em Pinheiros. Na Zona Sul, são três imóveis em Moema e um em Cerqueira César. Na Zona Norte, tem ao menos cinco casas. Se incluídos o endereço onde mora, em um condomínio fechado em Mairiporã, nas redondezas da capital, os quatro apartamentos em um prédio de luxo na Riviera de São Lourenço, no Litoral Norte, entre outros itens, são oitenta bens, fora os seis carros, cinco deles da montadora Honda.

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Total estimado de suas posses: ao menos 55 milhões de reais. O mistério é como conseguiu amealhar tudo isso. Como auditor fiscal da Secretaria Municipal de Finanças, recebe um salário de 21 000 reais. O Ministério Público e a Controladoria-Geral do Município fizeram as contas: sua riqueza equivale a cerca de duzentos anos de rendimentos brutos. Por meio de uma ação do promotor Silvio Marques, a Justiça bloqueou as propriedades na segunda (22), por suspeita de corrupção.

José Rodrigo Freitas - Rei dos Fiscais
José Rodrigo Freitas – Rei dos Fiscais ()

Em fevereiro, Freitas foi afastado do cargo, que ocupava havia 27 anos. Chamado de “rei dos fiscais”, devido à vistosa lista de pertences, ele é apontado como integrante da “máfia do Imposto Sobre Serviços (ISS)”, que cobraria propina de construtoras para emitir licenças de liberação para as novas edificações. O nome de Freitas veio à tona após ser mencionado pelo ex-fiscal Luís Alexandre Magalhães, em depoimento à promotoria.

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Ele se tornou delator do esquema (foi detido, há duas semanas, após a evidência de que cobrava 70 000 reais para poupar comparsas em suas revelações, e posteriormente liberado). Segundo Magalhães, o “rei dos fiscais” cobrava um “pedágio” para facilitar a vida das companhias. Da construtora Lamelas, por exemplo, teria embolsado 13 500 reais depois de conseguir reduzir o ISS de uma obra na Zona Norte de 196 670 reais para 8 335 reais.

Alexandre Magalhães - Rei dos Fiscais
Alexandre Magalhães – Rei dos Fiscais ()

Procurada por VEJA SÃO PAULO, a empresa diz que “não tem nenhuma ligação com a máfia dos fiscais”. Convocados pelo promotor Roberto Bodini, os responsáveis pela companhia negaram as acusações e disseram não conhecer Freitas. Em um depoimento à Controladoria-Geral do Município, porém, o funcionário público afirmou ter conhecido o proprietário da Lamelas e seu filho em eventos beneficentes.

O suspeito recebeu a reportagem da revista para uma entrevista exclusiva na tarde de quarta (24), no escritório do advogado Ricardo Sayeg, no Pacaembu. Formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas, o auditor é casado há vinte anos com a radialista Solange de Freitas e pai de uma garota que está prestes a entrar na universidade. “Minha trajetória é de trabalho lícito e honesto e vou provar minha inocência. Não aceito inquisição”, afirmou.

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Advogado Ricardo Sayeg - Rei dos Fiscais
Advogado Ricardo Sayeg – Rei dos Fiscais ()

Entre 1988 e 2007, Freitas adquiriu setenta imóveis e vendeu apenas seis. Um dos negócios da China: arrematou metade de um terreno em Santana por 625 000 reais e, no mesmo dia, passou para a frente a sua parte do imóvel por 1,99 milhão de reais. Ao ser questionado, disse não se lembrar do caso, que lhe rendeu um lucro de 220%. “Não acho estranho um investidor fazer um jogo de comprar aqui com a venda casada ali”, defende o advogado Sayeg.

A promotoria tem cerca de três semanas para entrar com o processo por improbidade administrativa. Os bens de Freitas permanecem bloqueados até aconclusão das investigações, mas ele vai recorrer disso na Justiça. Se condenado em última instância, será obrigado a entregar à prefeitura seu rico patrimônio.

Rei dos Fiscais - Corrupção
Rei dos Fiscais – Corrupção ()

 

TRECHOS DA ENTREVISTA DE FREITAS A VEJA SÃO PAULO

 

O que tem a dizer sobre as suspeitas de enriquecer ilicitamente e integrar a máfia do ISS?

Nunca trabalhei com ISS. Minha área é o IPTU. Eu não tenho patrimônio desconhecido e não aceito essas injustas acusações. Estão me usando para distrair a população de São Paulo, para diluir a crise institucional que o país vive, neste clima nacional de caça às bruxas.

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Como conquistou esse patrimônio?

Sou um investidor. Meus ganhos decorreram de um boom imobiliário. Sou um homem de sucesso, e isso incomoda porque, neste país, neste clima de ódio, é pecado ser bem-sucedido. Minha trajetória é de trabalho lícito e honesto e vou provar em juízo minha inocência. Não aceito inquisição.

Como passou a investir em imóveis?

Foi cultural. Esse ramo é tradição entre descendentes de portugueses. Sendo um servidor público, eu não tenho nada a esconder. A lei me autoriza (a ter negócios próprios). Eu tenho certeza de que estou sendo usado politicamente porque não faço parte de grupo algum.

Sobre a aquisição dos seus bens, a Controladoria-Geral do Município diz que afastou a justificativa de prósperas negociações imobiliárias, pois de 1988 a 2007 o senhor adquiriu setenta imóveis e vendeu apenas seis.

Não tenho elementos para responder a isso agora.

Que pontos são infundados?

Estão me usando politicamente, e não vou permitir isso. Se for necessário, reclamarei na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Sou um acusado político, e os meus detratores devem cuidar dos seus pecados, e não ficar me usando de isca para distrair os paulistanos. Sequestraram os meus bens e os meus recursos financeiros para eu não poder me defender. Sou vítima de sequestro.

O senhor conhece Luís Alexandre e os outros acusados na máfia do ISS?

Não trabalhei com nenhum deles. Aliás, eu nem sequer atuei no (setor de) ISS.

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