Food trucks ganham endereços fixos
Após o sucesso sobre rodas, proprietários dos caminhões investem na criação de restaurantes
Regulamentada pela prefeitura em maio do ano passado, a lei que autoriza a venda de comida de rua impulsionou a proliferação dos food trucks e das feiras gastronômicas. Hoje existem cerca de 200 vans e sete eventos semanais do tipo na cidade. Pois, após crescer com característica nômade, o mercado começa a migrar para o formato sedentário. Chefs que experimentaram sucesso em cima de carrinhos estão investindo em lojas tradicionais, com funcionamento diário e endereço fixo (confira a lista na próxima página).
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Até agosto, pelo menos quatro empreendimentos com fama nas ruas — Hot D.O.C., La Peruana, La Polenta e The Phillysteak — abrirão casa própria. No primeiro semestre, dois trucks passaram a ter presença imóvel no ABC. O Mais Uma Dose, de cervejas artesanais, estabeleceu ponto em Santo André em março. Em maio, foi a vez de a Kombosa Shake, especializada em milk-shakes, estrear no ParkShopping São Caetano. “As filas nos trucks são grandes. Minha intenção foi me antecipar à natural perda de interesse do público”, pondera o dono, Diego Fernando Juliano, que pretende abrir a segunda unidade em um centro de compras da capital até o fim do ano.
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Como as caminhonetes costumam ter cozinha pequena, é preciso concentrar a pré-produção e armazenar o estoque em outro espaço. Aproveitar esse local para receber clientes se mostra uma das saídas que os empresários estão adotando na hora de diversificar seus negócios. É o caso do Holy Pasta, que, em junho de 2014, se tornou o primeiro truck a ter casa própria, na Rua Rodésia, na Vila Madalena. Trata-se de uma garagem com 30 metros quadrados onde cabem no máximo quinze pessoas sentadas. “Além de ser uma solução logística, a loja me ajuda a pagar as contas”, diz o sócio Adolpho Schaefer.
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A frota do Hot D.O.C. — especializado em cachorros quentes, em operação desde setembro do ano passado — é formada por uma Kombi e uma versão minúscula da perua. No processo de expansão, entretanto, optou-se pela lanchonete, a ser inaugurada na segunda quinzena de agosto na Rua dos Pinheiros. Com um investimento de 180 000 reais, o plano é dobrar as vendas mensais de 2 000 para 4 000 sanduíches, com preço entre 15 e 18 reais. “Quisemos nos preparar diante da provável saturação do mercado de trucks, que está chegando a seu limite”, afirma um dos sócios, Maurício Bicudo Silva. Também no próximo mês, o La Polenta passará a funcionar em um restaurante na Chácara Santo Antônio. E o La Peruana, de ceviche, inaugurará um salão nos Jardins. “Alguns de meus clientes lamentavam não poder vir em qualquer horário ou em dias de chuva”, relata a chef Marisabel Woodman, justificando a nova proposta. No imóvel, ela reforçará o menu, aumentando de três para vinte o número de opções da receita.
O mesmo fará o The Phillysteak (antes Philly Street), com uma casa na Vila Madalena. Embora não tenham veículos motorizados, a sorveteria Gelato Boutique e a Me Gusta, especializada em picolés artesanais, são outras a realizar incursões recentes em lojas físicas. A ampliação do cardápio é a única mudança do novo formato. O conceito informal, sem garçons nem serviço de salão, é mantido nos estabelecimentos. “O cliente vai comprar direto no balcão”, explica Alex Righi, do La Polenta. E as decorações abusam de referências à versão motorizada. A Kombosa Shake instalou uma Kombi dentro da loja, enquanto o Hot D.O.C. espalhou calotas pelas paredes.
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O movimento migratório recente não significa, pelo menos por enquanto, o esgotamento do modelo de feirinhas. Prova disso é que no sábado (1º) será inaugurado mais um empreendimento do tipo, o Marechal Food Park, ao lado da Estação Marechal Deodoro do metrô. Serão quarenta opções, entre vans, barracas e contêineres, alugados por até 10 000 reais por mês. “No mundo inteiro, os chefs conseguem conciliar lojas fixas com formatos itinerantes, então há espaço para todos”, diz o criador da iniciativa, Maurício Schuartz, também por trás do Butantan Food Park. “Por aqui não será diferente.” ■