Aulas remotas estimulam criação de instituições 100% digitais
Com a popularização do ensino a distância, surge até mesmo uma universidade pública virtual
Antes restrito a uma pequena parcela do universo acadêmico, o ensino remoto — aquele geralmente realizado por meio de videoaulas e exercícios disponibilizados na internet — vem se popularizando. O levantamento mais recente feito pela Associação Brasileira de Educação a Distância apontou um total de 5,7 milhões de matriculados em 9 376 cursos no país em 2012. Desses programas, 80% são os chamados livres, que não distribuem certificado de conclusão regulamentado pelo Ministério da Educação (MEC). As estimativas mais modestas na área indicam que a modalidade cresce a uma taxa de 40% ao ano, no mínimo. O Estado de São Paulo tem pelo menos sessenta instituições com aulas do tipo, 25% do total do país. Entre elas estão escolas renomadas da USP, como a Politécnica e a Fundação Instituto de Administração (FIA), ligada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA).
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Na primeira, por exemplo, a especialização em engenharia de segurança do trabalho, com dois anos de duração, custa 18 500 reais de 740 reais. Há ainda um MBA (sigla em inglês para mestrado em administração de negócios) em gestão de tecnologias ambientais, por 15 000 reais. Já a FIA disponibiliza principalmente cursos de extensão mais curtos, com duração máxima de dez meses — como inovação em modelos de negócios digitais e gestão de negócios esportivos — por valores que atingem 4 600 reais.
Outras instituições com iniciativas semelhantes são a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). A FGV oferece catorze MBAs com quase dois anos de duração, entre outras modalidades, enquanto a ESPM aposta em formatos mais expressos, com no máximo trinta horas.
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Na maioria desses casos, o aluno precisa encarar uma parcela de aulas presenciais ou comparecer a atividades realizadas no laboratório de instalações físicas para ter direito ao certificado final, exigência do MEC. Mas já há plataformas quase inteiramente digitais disponíveis na capital. É o caso do Veduca, criado em 2012, que salas de um parceiro, o Centro Universitário Uniseb.
Trata-se de um valor bem menor que o cobrado por universidades privadas de prestígio, cujos cursos variam de 20 000 a 50 000 reais. “Criamos o modelo depois que uma pesquisa interna apontou uma forte demanda pelo diploma, mas aversão dos alunos a compromissos presenciais”, diz Souza.
A vantagem, para os estudantes, é justamente dividir o tempo de estudo a seu critério. “Reservo umas duas horas por noite, pelo menos três vezes por semana, para assistir às aulas e fazer as atividades”, diz o especialista em automação industrial Juliano Sanches da Silva, que trabalha numa fornecedora de equipamentos de laboratório. Como atua no pós-venda, atendendo clientes, ele sentiu a necessidade de uma formação mais profunda na área. Assistiu a algumas aulas pela internet do MBA em engenharia e inovação antes de decidir entrar formalmente no curso, em março. “Terminei duas disciplinas e já comecei a aplicar o que estou aprendendo”, afirma.
O Veduca inspira-se em experiências surgidas nos Estados Unidos, na Europa e no Japão que levam os cursos produzidos por grandes universidades a um universo maior de pessoas. A mais conhecida delas, a americana Coursera, com mais de 9 milhões de usuários no mundo, começou a oferecer neste mês 29 cursos gratuitos legendados em português, como introdução ao pensamento matemático e fundamentos da estratégia de negócios. Outros 700 programas estão sendo traduzidos. “Mesmo antes da opção do português, o país já era o quinto do mundo em número de acessos à plataforma”, diz a presidente Daphne Koller sobre o contingente de 300 000 brasileiros que acessam seu site. No ano que vem, a Coursera partirá para produções próprias, em conjunto com a USP e a Unicamp.
Esse tipo de parceria é comum na área. As empresas sem sede física precisam se desdobrar para atuar no mercado formal, pois a legislação brasileira determina que parte do conteúdo dos cursos certificados seja presencial. “No caso da graduação e da pós-graduação, há a exigência de provas, que devem responder por mais da metade da avaliação final”, explica o diretor da contabiliza 7 milhões de acessos a mais de 300 cursos com videoaulas gratuitas. Esse material inclui desde palestras ministradas por professores brasileiros até seminários em inglês, legendados, produzidos por prestigiadas universidades americanas como Harvard, Princeton e Stanford.
No ano passado, a experiência evoluiu para a criação de dois MBAs on-line, um em engenharia e inovação e outro em gestão da sustentabilidade, com conteúdo produzido por instituições como USP, Unicamp e outras. Todas as aulas e exercícios estão disponíveis sem restrições na internet, armazenados em servidores remotos, a chamada “computação em nuvem”. “É um recurso robusto e estável, uma tendência cada vez mais forte no mercado”, diz o engenheiro Carlos Souza, fundador do Veduca. Quem quiser um certificado válido pelo MEC, porém, precisará pagar 6 600 reais (por um ano e meio), além de realizar provas e apresentar o trabalho de conclusão em Associação Brasileira de Ensino a Distância, Luciano Sathler.
Na graduação, a principal experiência do tipo no país é a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), instituição de ensino superior mantida pelo governo estadual. Em seu primeiro vestibular, promovido na metade deste ano, ela ofereceu 3 300 vagas, sendo quase 1 300 nos cursos de engenharia de produção e de computação e pouco mais de 2 000 em licenciatura de química, física, biologia e matemática. Uma vez a cada quinze dias, os estudantes paulistanos têm atividades a cumprir em um dos dezenove polos espalhados pela cidade, a maioria deles instalada em centros educacionais unificados da prefeitura de São Paulo.
A Univesp também investiu em cursos livres de várias disciplinas, que são oferecidos em seu canal no YouTube. O de maior sucesso, com 55 videoaulas e 2,4 milhões de visualizações, é o de cálculo I, considerado o terror dos corredores de ciências exatas das universidades. “É expositivo, no quadro-negro, o que dá um ritmo mais lento às aulas”, explica o professor Renato Hyuda Pedrosa, do Instituto de Geociências da Unicamp, surpreso com a popularidade de suas sessões, realizadas sem recursos de multimídia.
Educação virtual
As principais instituições com cursos a distância
Escola Politécnica da USP
- Cursos: MBA de gestão e tecnologias ambientais; especialização em engenharia de segurança do trabalho
- Duração: dois anos
- Valor: 15 000 reais (MBA) e 18 500 reais (especialização)
- Informações: www.pecepoli.com.br
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)
- Cursos: são 68, entre eles economia criativa, empreendedorismo digital e administração de marketing
- Duração: entre oito e trinta horas
- Valor: de 225 a 1 057 reais
- Informações: www.espm.br
Fundação Getulio Vargas
- Cursos: catorze de MBA, como finanças e direito público, cinco de graduação e 45 gratuitos
- Duração: 22 meses (MBA) e até três anos (graduação)
- Valor: 24 000 reais (MBA) e até 3 783 reais (graduação, por semestre)
- Informações: www.fgv.br/fgvonline
Fundação Instituto de Administração
- Cursos: de extensão, como inovação em modelos de negócios digitais e gestão de negócios esportivos
- Duração: de um a dez meses
- Valor: entre 200 e 4 600 reais
- Informações: www.fia.com.br
Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp)
- Cursos: de graduação, como química, física, biologia, matemática e engenharias (computação e produção)
- Duração: quatro anos (licenciatura); cinco anos (engenharias)
- Valor: gratuito, com vestibular
- Informações: www.univesp.br
Veduca
- Cursos: mais de 300 gratuitos, incluindo dois MBAs, um de engenharia e inovação e outro de gestão da sustentabilidade, cobrados para quem quer tirar certificado
- Duração: um ano e meio (MBAs)
- Valor: 6 600 reais (MBAs)
- Informações: www.veduca.com.br