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Mário no balneário

Por Mário Viana
Atualizado em 27 dez 2016, 17h53 - Publicado em 14 Maio 2016, 00h00
Crônica - Mário no balneário
Crônica - Mário no balneário (Attílio/)
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No momento em que você estiver lendo esta crônica, já terei empacotado meus teréns para voltar a São Paulo. Desde setembro, quando começamos a trabalhar nos capítulos da novela Totalmente Demais da Globo, alternei períodos mais e menos longos no Rio de Janeiro. Queria ficar perto da central de produção, escutar a fala carioca nas ruas e entender mais um pouco os quarenta personagens. Foi um exílio doce e voluntário. Diferentemente do que aconteceu com o escritor Mário de Andrade, que morou no Rio de 1938 a 1941, sem emitir sinais de prazer, minha temporada foi mamão com açúcar — ou adoçante, vá lá. Afinal, a cidade é uma metrópole agitadíssima, sempre com mil opções de lazer — e, no fim das contas, possui uma apaixonante sequência de praias e um coco sempre gelado no quiosque mais próximo.

+ Crônica: Vida Apertada, por Ivan Angelo

Tem ciclovia que desaba, infelizmente. Às vezes, rola um arrastão na areia e é preciso sempre andar atento na rua. Pensando nos problemas, nada é muito diferente de São Paulo. Mas que lugar mais lindo! Paulista no Rio é facilmente identificável. Não somente pela pele alva exposta na praia. Nem pelo hábito de só cumprimentar com um beijinho no rosto, deixando o segundo beijo parado no ar. Foi-se o tempo também em que nosso esporte era desdenhar das pizzas cariocas. Desista, isso não tem mais razão de ser. Há endereços bem legais para quem tem síndrome de abstinência das redondas. Mesmo assim, sempre que algum carioca recomenda um restaurante italiano para um paulista acrescenta um “mas você é de São Paulo”, como se fôssemos juízes do Supremo Tribunal da Massa, com sentenças sem direito a recurso. 

Também é calúnia achar que todo paulista berra “me traz um chopes, ô meu” em qualquer botequim carioca. Para evitar alguma derrapada, peça sempre um “chopinho”, assim mesmo, no diminutivo, exibindo intimidade nativa com a bebida gelada. E não tente pedir caipirosca. No Rio, é caipivodca, com poucos sabores — limão, lima, abacaxi e maracujá. Uns bares mais ousados servem caipirinha de fruta do conde, mas são poucos. Por falar em gelos e gelados, a gente custa a se habituar ao ar condicionado de temperaturas polares. Qualquer sala de cinema ou de teatro no Rio exige casaco, cachecol, luvas e o que mais puder manter seu corpo aquecido durante o espetáculo. O choque térmico também pega de surpresa nos ônibus, táxis e até vagões de metrô. Lojas, hotéis e escritórios funcionam em temperaturas perfeitas para criar um pinguim ou um urso-polar de estimação. Mas, lembre-se, é tudo para compensar o calor avassalador das ruas.

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Cariocas de classe média parecem usar mais transporte público. Pegar ônibus no balneário não é, como em São Paulo, um hábito exclusivo dos pouco endinheirados. Cidade com bem menos estacionamentos, vagas e vias públicas que a nossa, o Rio acaba estimulando o uso dos coletivos. Ou das bikes. A bicicleta é uma instituição carioca, hábito a que os paulistas estão se apegando cada vez mais. Há outros dois momentos em que se detecta um paulistano no Rio. Primeiro, ele é sempre o sujeito que olha espantado a passagem de uma estrela da TV na rua, no boteco ou saindo da praia.

O carioca finge que nem liga, mas só finge. Não há carioca que não tenha um filho estudando com a neta do Chico ou o filho do galã da novela. Parece que a ideia é criar uma intimidade terceirizada com a nossa Hollywood tropical. A segunda e definitiva prova de paulistanice é a escada rolante. O paulistano é sempre o sujeito que se posta à direita. Anos e anos de mensagens no nosso metrô deram nisso. Bagagem fechada, embarque anunciado, dou aquela olhadinha pela janela do avião. Bye bye, Copacabana — ou Copa, como dizem os cariocas. São Paulo, prepare-se, pois eu vou lhe usar.

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