Ivan Angelo faz balanço de 2013
Brigas em estádios, manifestações, desvios de verbas, desabamentos de prédios e outros fatos que marcaram o ano
No último mês do ano vimos homens se agredindo em um estádio de futebol, se esmurrando, chutando, aplicando gravatas, voadoras, pisoteando, dando pauladas, barbarizando os que já estavam caídos e desmaiados, copiando golpes dos ringues de lutas e dos jogos eletrônicos, tirando sangue com ódio e crueldade.
As imagens foram vistas em casa pela criança do bairro elegante, pela criança da favela, pelos velhinhos amáveis da classe média, pelas pessoas pacíficas e trabalhadoras. Que pensa um pai, uma mãe, namorada, esposa quando vê um filho, marido, namorado transformado nesse bicho feroz da televisão?
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Não houve tempo para os cães de guerra se provocarem, não havia motivação visível para o combate, só a própria violência insana, interna, que eles levam para os estádios envolta em camisetas clubistas.
Dias depois, em meio a uma grande enchente que devastou o Rio de Janeiro, vimos bandidos assaltando pessoas presas em carros e ônibus ilhados pela água, duplamente vítimas, dos céus e dos infernos. À vista de todos, na televisão, exibia-se a falta de humanidade.
Já havíamos visto, dias antes, “pipeiros” pagos para levar água potável aos lugarejos castigados pela seca no Nordeste entregarem às famílias água poluída, viveiro de bactérias, a espalhar diarreia pelo sertão, ermo de médicos e remédios. Eram moradores da mesma região, estavam gananciosamente intoxicando irmãos, servindo essa água suja em caminhões-tanque que antes transportavam combustíveis. Maldade diária, sem alarde.
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Também já havíamos visto, desde junho, passeatas reivindicativas sendo tomadas por furiosos destruidores mascarados, diante de autoridades paralisadas pelo espanto; tínhamos acompanhado a busca por um pedreiro apanhado em casa pela polícia pacificadora da Rocinha e torturado até a morte; havíamos visto desabar um prédio em reforma que fora interditado pela prefeitura de São Paulo, mas que o engenheiro e o proprietário mantiveram em obra porque não há autoridade que os obrigue, e ali morreu um trabalhador; havíamos visto durante o ano outras brigas de cães torcedores nos estádios e arredores, de que resultaram muitas mortes; tínhamos ouvido relatos de outro mensalão, pago com verbas dos trens do Metrô de SP, violência contra as carências de todos nós; tínhamos sabido do furto de dinheiro da prefeitura paulistana praticado por fiscais mancomunados com construtoras de edifícios, vitimando escolas, creches, saúde, transporte.
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O homem é um mutante psicológico ou foi sempre assim? Piora, deteriora-se? No começo do século passado, o físico Albert Einstein escreveu a outro sábio, Sigmund Freud, buscando uma explicação para as massas em guerra: “O homem encerra dentro de si um desejo de ódio e destruição”. Freud exprimiu seu “inteiro acordo” e trocou a palavra “desejo” por “instinto”.
O poeta-filósofo Paul Valéry já detectava “uma modificação tão grande e tão detestável naquilo que chamaria de ‘sensibilidade ética’ dos indivíduos, na ideia que fazem de si mesmos e de seus semelhantes, no valor que eles dão à conduta e às consequências dos atos, que se deve admitir que a era do bem e do mal é uma era superada”.
Ah, se um ano novo mágico pudesse nos tornar melhores…