Apesar de atraso e distância, holograma de Cazuza emociona
35 000 pessoas foram ao Parque da Juventude para ver o cantor, que “voltou” ao palco no mesmo dia em que seu pai, o executivo João Araújo, morreu no Rio
A “volta” ao palco de Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza (1958-1990), em forma de holograma tornou-se ainda mais comovente para os envolvidos no tributo GVT Music – Show Cazuza, que reuniu 35 000 pessoas no Parque da Juventude no sábado (30): na manhã do mesmo dia, no Rio, seu pai, o executivo João Araújo, morreu em decorrência de um ataque cardíaco.
Foi o baixista e produtor musical Nilo Romero quem iniciou o espetáculo, às 21h, dando fim às vaias da plateia irritada com o injustificado atraso de duas horas. Na primeira das diversas homenagens ao pai do cantor, Romero recitou um trecho de Ritual: “Pra que chorar / A vida é bela e cruel, despida / Tão desprevenida e exata / Que um dia acaba”. A mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, cancelou sua participação no evento. Uma mensagem de sua autoria foi exibida num telão, lembrando do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, doença que levou seu filho à morte, em 7 de julho de 1990. Naquele ano, Lucinha criou a ONG Sociedade Viva Cazuza, para dar assistência às crianças e aos adolescentes portadores do vírus HIV. Se estivesse vivo, Cazuza teria completado 55 anos em 4 de abril deste ano.
A “entrada” de Cazuza, no entanto, ocorreu adepois de mais de uma hora de espetáculo, quando nem músicos nem plateia conseguiam mais conter a ansiedade. Foi então que, após uma pausa para preparar o equipamento, Cazuza deu as caras. De costas, trajando calça jeans, camiseta branca por baixo de uma camisa estampada e uma bandana na testa, o ídolo do rock nacional projetou-se no centro do palco e entoou cinco de seus sucessos: Exagerado, Faz Parte do Meu Show, Amor, Amor, O Tempo Não Para e Brasil _que antes já havia sido interpretada por Gal Costa.
Durante os vinte minutos de apresentação, a experiência foi menos realista do que prometia a tecnologia. Mas, nem por isso, frustrante. Por ter sido projetado no segundo plano do palco _e não na linha de frente como ocorreu com a “participação” do rapper 2Pac no festival Coachella, em 2012_, e com os músicos transitando em frente a ele algumas vezes, o Cazuza holográfico pareceu menor do que o real, que tinha 1,76 metros de altura. Com a distância, também ficou difícil enxergar os traços do rosto e o contorno do corpo, que exibia um brilho esbranquiçado. Mais visível, o movimento da boca saiu de sincronia algumas vezes. A perspectiva só foi retomada quando alguns integrantes da banda posicionaram-se ao lado da projeção. Apesar disso, o público deixou-se enganar e respondeu calorosamente à interação do artista, que “cantou” a última música sacudindo a bandeira verde e amarela . Muitos foram às lágrimas.
Durante o espetáculo, como num reencontro da velha turma de colégio, enfileiraram-se no palco ainda outros amigos e parceiros musicais de Cazuza, George Israel (Kid Abelha), Leoni, Rogerio Meanda, Guto Goffi (Barão Vermelho) e Arnaldo Brandão, banda reforçada ainda por naipe de metais, teclado, percussão e uma míni-orquestra. Extasiados, receberam no palco a cantora Gal Costa, que interpretou Brasil e as baladas Codinome Beija-Flor e Eu Preciso Dizer que Te Amo. O saltitante cantor Paulo Ricardo foi protagonista de seis números efusivos, entre eles, Ideologia e O Nosso Amor a Gente Inventa. Canções menos populares, como Mina, Blues do Ano 2000 e Blues da Piedade também apareceram no repertório.
No dia 19 de janeiro, Cazuza retoma a turnê, desta vez, na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro.