Ai Weiwei tem exposição marcada para 2017, na Oca
Artista com maior visibilidade social e política do mundo fará criações em conjunto com presos ou pacientes psiquiátricos
No último mês, a chocante fotografia do refugiado sírio Alan Kurdi – menino de três anos que foi retratado morto na ilha de Lesbos, na Grécia – voltou a circular na mídia e redes sociais. Porém, no lugar do menino, quem estava deitado de bruços na areia era o chinês Ai Weiwei. É desta maneira que o artista age em prol da situação alarmante dos refugiados. Para ele, é necessário relembrar o mundo, já que a humanidade tem memória bem curta. É com ações como essa que Ai Weiwei se tornou o maior “artivista” do mundo: cada uma de suas obras e performances são, acima de tudo, atos políticos.
Em março de 2017, uma grande exposição do artista está prometida para acontecer na Oca. Com curadoria de Marcello Dantas, a mostra será um resultado entre o trabalho do artista com pessoas que têm sua liberdade cerceada: prisão ou manicômio são os locais mais prováveis.
“O que me interessa são suas ações políticas e sociais”, diz Dantas. “Por isso, a exposição não poderia ser apenas a reunião de suas instalações; vamos levar seu trabalho engajado de encontro com o contexto nacional”. A mostra tem um orçamento de 4 milhões de reais aprovado na Lei Rouanet e, de acordo com o curador, “grande parte já foi captada”.
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O trabalho do artista na ilha de Lesbos – ponto de conexão dos refugiados que migram para a Europa – vem se tornando conhecido mundialmente. Ele abriu um estúdio no local, de onde pode manter contato com os refugiados, documentar e espalhar notícias para todo o mundo. Ele deve tudo ao Facebook e Instagram, afinal, seu trabalho só existe por conta das redes sociais.
Pedra no sapato do governo chinês, Ai Weiwei foi preso sem justificativa durante oitenta dias, em 2011, depois de ter seu estúdio destruído, telefonemas grampeados e o cotidiano gravado em câmereas instaladas ao redor do seu ateliê. Atuando como o mais importante artista chinês com uma crítica aberta ao regime comunista, ele passou pelo período sem dar notícias. Quando libertado, anunciou que o governo prendeu seu passaporte – que só foi recuperado em junho do ano passado. Cada um dos 600 dias em que foi cerceado de sua liberdade, o artista fotografou ramos de flores no cesto de uma bicicleta com a hastag #flowerforfreedom (flores para a liberdade). Pessoas ao redor de todo o mundo fizeram o mesmo.
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Destaques de sua carreira também são a colaboração do projeto do estádio nacional de Beijing, o Ninho de Pássaro – cujas fotos foram mostradas em exposição sobre o artista no MIS, em 2013 – e a participação na Documenta de Kassel, a mostra mais importante do mundo, em 2007. No ano seguinte, ele chamou a atenção de todo o mundo com ações que procuravam investigar quem eram os 5 000 estudantes que morreram em escolas durante o terremoto de Sichuan, grande parte por conta da má conservação das construções.
Em outubro do ano passado, o alvo do artista foi a Lego. A marca se recusou a vender grandes quantidades dos seus brinquedos o chinês, já que serviriam de material para uma de suas instalações, com planejamento para ser exibida na National Gallery, na Austrália (ele já havia feito trabalhos com Lego na antiga prisão de Alcatraz, em 2014). Obviamente, o artista fez que fez nas redes sociais, o que provocou que seus seguidores se voluntariassem a doar peças dos seus próprios filhos. Em janeiro deste ano, a Lego voltou atrás, e anunciou publicamente que não se oporia caso seus tijolinhos de brinquedo passassem a ser usados com objetivos políticos.
Reconhecido nas ruas de capitais dos cinco continentes, Ai Weiwei virou um artista pop. Celebridade ou não, ele tem motivos suficientes para ter sido eleito pela lista mais importante do universo das artes, a inglesa Artreview como a segunda pessoa mais influente do universo das artes.