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Tony Bellotto lança novo livro: “Fiz 64 e sigo tão perdido quanto aos 14”

O guitarrista dos Titãs mergulha em memórias paulistas no seu novo romance, 'Vento em Setembro', e faz bate-papo com Marcelo Rubens Paiva em São Paulo

Por Tomás Novaes
22 ago 2024, 19h00
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Tony Bellotto, em sua casa no Rio de Janeiro: dois ofícios (Catarina Ribeiro/Veja SP)
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A biblioteca sempre foi um dos cantos mais especiais da casa para Tony Bellotto, 64. Filho de professores universitários — o pai, historiador, a mãe, arquivista e também historiadora —, o guitarrista dos Titãs traça, em paralelo à música, uma carreira de escritor há quase trinta anos, quando lançou Bellini e a Esfinge (Companhia das Letras).

Na próxima terça (27), ele lança em São Paulo o seu décimo primeiro livro, Vento em Setembro (Companhia das Letras, 296 págs., 94,90 reais), na livraria Megafauna.

O romance policial é ambientado entre Assis, na década de 70, onde o magnata rural Máximo Leonel organiza uma festa para celebrar a perda da virgindade do seu filho mais novo, e a Ouro Preto dos dias de hoje, que tem como figura central o jornalista e escritor Davi.

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O escritório do músico e escritor: novo livro (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Tudo começou com a primeira frase, e a partir dela fui criando o livro. Na revisão, com minhas sessões de psicanálise, fui perceber que evoco vários lugares onde vivi. Isso faz sentido na minha idade, quando você começa a pensar na vida que viveu, enxergando a finitude com mais nitidez”, conta Tony, que nasceu na capital paulista, mas passou a infância e juventude entre Assis e cidades como Presidente Prudente, Martinópolis e Santos, onde estudou arquitetura por dois anos.

No texto, lembranças dessa época se misturam com a ficção. “Aparece no livro um show da Rita Lee, em 1974, no Teatro Aquarius, no Bixiga, a que fui com 14 anos. Também tem os gêmeos, Laura e Laércio, que nasceram em Santos, mas ela foi morar em São Paulo.”

Ao mesmo tempo que começava a se interessar pelo violão e pela guitarra, “ainda muito jovem”, nascia em Tony a paixão pela literatura. “Sempre tive o desejo de me tornar escritor”, conta o músico-escritor, que teve de deixar esse sonho de lado com a ascensão meteórica dos Titãs, no começo dos anos 80.

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Instrumentos de Tony: paixões complementares (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Quando estava próximo dos 30, já com uma carreira consagrada, encontrei um amigo do meu pai, que me perguntou se eu ainda escrevia. E me reacendeu isso. Nessa época, eu estava lendo muita literatura policial e me pareceu que aquela estrutura do enigma a ser decifrado seria mais fácil de escrever. Depois, percebi que também é a escrita que mais me move”, explica o autor, que desde então segue explorando o gênero.

Seu livro de estreia, Bellini e a Esfinge (1995), virou até filme homônimo, dirigido por Roberto Santucci e lançado em 2002, com Malu Mader, sua esposa, no elenco.

Vento em Setembro começou a ser escrito durante a pandemia, antes de o guitarrista sair em turnê pelo Brasil com os Titãs no show Encontro — que reuniu, entre abril de 2023 e março de 2024, a formação original da banda, com Sérgio Britto, Branco Mello, Nando Reis, Charles Gavin, Paulo Miklos e Arnaldo Antunes.

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A biblioteca: amor pelos livros é de família (Catarina Ribeiro/Veja SP)

Tony encontrou, nos intervalos das gravações, o lugar da literatura em sua vida. “Quando estou compondo canções ou gravando, não tenho espaço na cabeça para um livro. A partir do momento em que entramos em um esquema de turnê e tocamos mais nos fins de semana, uso as pausas para escrever. Para qualquer dessas atividades é preciso disciplina e organização”, diz.

Durante o histórico reencontro com os ex-companheiros de banda, Tony escreveu um diário. “A turnê foi muito intensa. Fui preenchendo cadernos com as lembranças que surgiam, com as emoções que vivia, e tudo isso está arquivado para, talvez, virar alguma coisa”, revela.

A verdade é que, no caso de Bellotto, música e literatura são atividades opostas. De um lado, uma banda de rock que toca há quatro décadas para multidões, e, do outro, a escrita solitária e individual. “Ao longo do tempo, descobri que são caminhos complementares. A música é barulhenta, estou sempre com muita gente, e a literatura é silenciosa”, define.

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A capa do livro ‘Vento em Setembro’: literatura policial (Catarina Ribeiro/Veja SP)

No dia 27, o guitarrista estará em São Paulo para um bate-papo de lançamento do livro com o escritor Marcelo Rubens Paiva, na livraria Megafauna, na República.

“Nós nos conhecemos no início dos anos 80, ele tinha acabado de estourar com Feliz Ano Velho. É um companheiro de geração e vida, e como o livro fala de um personagem nos dias de hoje que era adolescente nos anos 70, e reflete sobre tudo isso, tem tudo a ver”, conta.

Seu olhar retrospectivo ressalta aquilo que pouco se transformou desde a juventude: o amor pelos discos e livros. “Quando mais jovem, tinha a ideia de que, quando chega uma idade, você dá as coisas por resolvidas. Mas fiz 64 e continuo tão perdido quanto aos 14 anos. E, assim como a busca pela identidade, a pulsão de compor e escrever é permanente — essa inspiração não mudou para mim.” ■

Livraria Megafauna. Edifício Copan, Avenida Ipiranga, 200 (loja 53), República. Ter. (27), 19h.

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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de agosto de 2024, edição nº 2907

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