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Startups ganham espaço e revolucionam o setor de educação

Com as edtechs, o aprendizado vai além do caderno e toma as telas do celular e do notebook

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 18h22 - Publicado em 24 abr 2020, 06h00
 (Maskot/Getty Images/Divulgação)
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Entre 18 de março e 21 de abril, mais de 140 000 pessoas baixaram o aplicativo da Casa do Saber para acessar 135 cursos disponibilizados gratuitamente, em um baita incentivo à recomendação de distancia mento social durante a pandemia de Covid-19. O número corresponde a um aumento de 600% na adesão ao programa, já que desde seu lançamento, em novembro de 2018, até fevereiro de 2020, ou seja, em catorze meses, tímidos 20 000 downloads haviam sido concluídos. Por trás dessa marca surpreendente, que envolve professores e estudiosos de temas variados, está também a Hi Education, que desenvolveu a plataforma on-demand, com interface para computadores e futuramente para smart TVs. O empreendimento paulistano configura-se como uma edtech. “Em síntese, é uma startup que atua no segmento de educação, seja no trabalho dentro da sala de aula, seja na gestão do colégio ou mesmo no estímulo do estudante”, descreve Amure Pinho, presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups).

Casa do Saber
Plataforma da Casa do Saber: recorde de downloads (Divulgação/Divulgação)

Convém citar que o campo de atuação pode abarcar ainda o meio empresarial e cursos livres, a exemplo do que foi observado com a Hi, que se destaca igualmente por seu modelo de negócios. “Não somos contratados. Buscamos parcerias que nos oferecem conteúdo, enquanto cuidamos do projeto final”, explica Mino Mazzamati, diretor de operações da empresa, que investiu cerca de 1 milhão de reais no projeto da Casa do Saber. “Exploramos junto com nossos parceiros a receita advinda do produto, que inclui assinaturas e patrocínios”, detalha ele. Também há no portfólio da Hi um app de ensino e treino de futebol, feito em colaboração com o jogador Neymar Jr., que amealha mais de 1,3 milhão de assinantes. Nesse caso, a parceria parece ser fruto de um namoro antigo e não tão descompromissado assim: a Titans Group, empresa da qual Mazzamati foi sócio, já investiu no instituto localizado em Santos, cidade onde o craque cresceu, um montante de 1,5 milhão de reais pela Lei Rouanet.

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Ainda sobre o conceito de edtech, Lúcia Gomes Vieira Dellagnelo, diretora-presidente do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb), esclarece: “É preciso entender a função primeira da empresa. Se é unicamente a promoção de cursos, ela não é uma edtech. Mas, se, além disso, estamos falando de uma solução tecnológica nesse campo, que pode envolver a plataforma, ferramentas ou mesmo o conteúdo, ela é uma edtech”. O cenário brasileiro se delineou melhor com a segunda edição do Mapeamento de Edtechs — Investigação sobre as Startups de Tecnologia, documento encabeçado pelo Cieb em conjunto com a Abstartups e publicado neste ano. Segundo o estudo, o Brasil contava em 2019 com 795 empreendimentos do tipo, dos quais 449 estavam ativos. De acordo com o presidente da Abstartups, as baixas observadas têm relação com as dificuldades na obtenção da certificação pelo Ministério da Educação (MEC), na captação de recursos e no convencimento diário de clientes, desafio este compartilhado com negócios de outra natureza. Apesar das perdas, o cenário é otimista, já que em 2018 as edtechs “vivas” eram apenas 364.

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Quando se fala em distribuição geográfica das startups voltadas para a educação, o Estado de São Paulo é dominante, concentrando 35,1% dos empreendimentos. Sobre o nicho mais explorado, a educação básica (leia-se ensino infantil, fundamental e médio) está na dianteira, já que 70,6% das edtechs se debruçam sobre problemas desse setor. Isso não significa, porém, que a incorporação de tecnologias possa ser vista de forma equânime em escolas privadas e públicas. Nessas últimas, alguns dos muitos entraves encontrados são a infraestrutura precária, o desconhecimento dos gestores sobre as soluções oferecidas no mercado e o atual formato de compra pública, que muitas vezes não comporta os produtos das edtechs. Um passo pequeno e tardio em direção à parceria de edtechs com o governo foi dado recentemente pela prefeitura de São Paulo. Com a suspensão das aulas nas escolas, devido à quarentena, a Secretaria Municipal de Educação desenvolveu um programa chamado Trilhas de Aprendizagens. Ele é composto de apostilas impressas, enviadas à casa dos estudantes. Complementa esse combo a plataforma com ferramentas destinadas ao ensino, um reforço não obrigatório ao aprendizado, já que muitos alunos não contam com internet ou computador. O programa tem soluções como salas de aulas virtuais criadas pelo ramo educacional do Google e implantadas pela startup brasileira Foreducation, que capacitou cerca de 80 000 docentes em transmissões on-line. “A tecnologia deve ser usada para aproximar a relação entre professor e estudante”, crava Eduardo Gomide, diretor pedagógico da Foreducation. Ele detalha a parceria: “Não cobramos nada da prefeitura. Fizemos uma doação, devido à situação emergencial”.

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Quem vê o potencial do negócio é o gaúcho Pedro Englert, antigo sócio da XP Investimentos, que é agora um dos proprietários da StartSe, edtech que opera no campo de educação empresarial. A plataforma ali utilizada é uma espécie de Netflix corporativo. “Por meio do que meu público acessa, meu algoritmo sugere novos conteúdos, que podem ser gratuitos ou pagos”, explica o empreendedor, que não faz rodeios ao falar da receita da startup: 58 milhões em 2019. Ele não romantiza a importância da faceta informativa do empreendimento: “O conteúdo que produzimos no blog aproxima o público da gente e cria um elo que pode mais tarde se converter no fornecimento de um e-mail para recebimento de um e-book e na contratação do produto”. Na quarentena, uma “isca” bem-vinda é o programa de capacitação Re.StartSe, que busca orientar empresários durante a crise vigente. Por motivos óbvios, o tête-à-tête presencial, outro expediente antes empregado, caiu em desuso, pelo menos por enquanto.

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Em uma toada parecida, o mineiro Samir Iásbeck também liberou durante a quarentena a versão premium do software Qranio, focado na gamificação de conteúdo. “Professores autônomos e escolas podem criar trilhas e trabalhar diferentes assuntos, de forma mais atrativa, no nosso software”, aponta Iásbeck, que está em negociação com sete instituições interessadas em seus produtos. Ou melhor, interessadas em educação, um direito cujo acesso não pode ser perdido de vista. “Insisto em dizer que aquilo que o professor tem para passar ao aluno ainda é mais importante que o uso isolado da tecnologia num exercício puro e simples de pirotecnia”, afirma o pesquisador Almir Martins Vieira, doutor na área. Aprendizado em primeiro lugar.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de abril de 2020, edição nº 2684.

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