Expedição por rotas de escravizados rende série documental e exposição
"Sempre tive muita curiosidade de entender como vive meu primo que ficou do outro lado do oceano", disse Cesar Fraga, idealizador do projeto, à Vejinha
Representado por um pássaro mítico com a cabeça virada para trás, Sankofa é um conceito da tradição africana cujo ensinamento é: nunca é tarde para voltar atrás e buscar o que ficou perdido. Simbolizando um reencontro com a ancestralidade, essa foi a designação escolhida para nomear o projeto do historiador Maurício Barros de Castro e do pesquisador Cesar Fraga, resultado de viagens da dupla carioca ao continente africano.
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Em trânsito pelas rotas do tráfico europeu de escravizados, a expedição feita pelos dois rendeu um livro, uma série documental disponível na Netflix e uma exposição fotográfica em cartaz no Consulado Geral de Portugal até este sábado (18). “Me tornei fotógrafo aos 40 anos e criei o projeto para o livro Do Outro Lado do Atlântico (2014), em que eu cruzaria o Atlântico percorrendo cidades e regiões de onde vieram meus ancestrais”, conta Fraga à Vejinha.
Duas passagens pelo continente, feitas entre 2013 e 2014, deram luz a um acervo de mais de 4 000 imagens. “Eu como afrodescendente sempre tive muita curiosidade de entender como vive meu primo que ficou do outro lado do oceano há 150 anos.”
O percurso, com passagem por Angola, Benin, Cabo Verde, Gana, Guiné-Bissau, Moçambique, Nigé- ria, Senegal e Togo, foi desenhado criteriosamente pelo historiador baiano José João Reis, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Cada um desses países é tema dos dez episódios da série Sankofa — A África que Te Habita, que mostra em detalhes toda a viagem pela costa do continente. O material é enriquecido por entrevistas, fotos e um conjunto de animações lúdicas, estas como ilustrações de contos africanos, com narração da atriz Zezé Motta.
Como programa complementar, uma seleção apurada de cinquenta registros fotográficos feitos por Fraga durante o trajeto chega pela primeira vez a São Paulo, a convite do consulado português — um movimento que reverbera, simbolicamente, o significado do termo africano que nomeia a exposição.
Consulado Geral de Portugal em São Paulo. Rua Canadá, 324, Jardim América, ☎ 3084-1800. Seg. a sáb., das 10h às 18h. Até 18 de junho. → Grátis. saopaulo. consuladoportugal.mne.gov.pt
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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de junho de 2022, edição nº 2794