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Rita Lobo e Mônica Salmaso são as rainhas da quarentena na internet

A chef e a cantora bombam nas plataformas digitais durante o confinamento ao ensinar o bê-á-bá da culinária e ao apresentar belas parcerias musicais

Por Arnaldo Lorençato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 jul 2020, 09h36 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00

Não foi fácil atravessar esses mais de 100 dias de isolamento em casa, praticamente sem poder sair à rua. Mas o deserto culinário e musical que poderia ter dado mais melancolia à vida dos moradores da capital foi aliviado graças à companhia de vídeos e lives produzidos por duas rainhas da quarentena, a chef Rita Lobo, 45 anos, e a cantora Mônica Salmaso, 49 anos.

Rita, consagrada autora de livros de receitas e sucesso no canal pago GNT, inventou a série Rita, Help! Me Ensina a Cozinhar na Quarentena, para facilitar a vida daqueles que nunca se aproximaram de um fogão. De seu lado, Mônica, cantora de carreira sólida e bela voz de meio-soprano, inventou parcerias com alguns dos maiores nomes da MPB. Durante mais de setenta dias, essas exibições foram levadas ao ar diariamente e ajudaram a conquistar uma legião de fãs no Facebook, no Instagram e no YouTube.

Diferentes frentes: Rita em transmissões com Monja Coen, Joaquim Lopes, Miá Mello e Fábio Porchat (Reprodução YouTube/Divulgação)

Logo que interrompeu as atividades de seu estúdio, em 13 de março, a paulistana Rita Lobo, criadora da produtora de conteúdo culinário Panelinha, que é ao mesmo tempo site, editora de livros, produtora de TV e marca de itens para cozinha e mesa, percebeu um dilema que ia afligir muita gente.

Precisava ajudar quem nunca tinha fritado um ovo na vida e teria de se virar sozinho dali para a frente — atitude generosa que faz lembrar a própria Rita, que, com 19 anos, foi morar sozinha, se deu conta de que não sabia cozinhar e se mandou para Nova York para estudar gastronomia.

Parcerias musicais em vídeo: explosão de Mônica no Facebook com Chico Buarque, Zélia Duncan e Vanessa Moreno (Reprodução Instagram/Divulgação)

Trancada em seu apartamento na região dos Jardins, começou a dar trato a dois projetos com uma mesma matriz: trinta programetes de dez minutinhos acessados pelo canal do Panelinha no YouTube e nova série com dez programas de meia hora cada um para o GNT. “Era impensável fazer TV desse jeito. Mas é indicado para esse momento”, sintetiza as necessidades dos novos tempos. “Normalmente, a gente leva cinco meses para produzir uma temporada.”

O tema central nesta edição é o pê-efe, o famoso prato feito, sempre acompanhado de duas hortaliças, mas é possível aprender ainda como preparar macarrão, sopa, bolo… A ideia de não incentivar o consumo excessivo de carne é para se manter dentro de uma proposta equilibrada de alimentação pela qual recebeu até uma medalha da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) em 2018.

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Rita, Help!: card da edição de quarentena (Divulgação/Divulgação)

No balanço que publicou no Twitter sobre a quarentena, Rita fala dos dias sem monotonia e de muito trabalho. Auxiliada pelo marido, o jornalista Ilan Kow, e pelo filho, o estudante Gabriel Lobo, deu início ao projeto de cinquenta lives a partir de 16 de março. “As pessoas se surpreenderam porque colocamos no ar em 48 horas. Mas são os vinte anos do Panelinha condensados, mais essas 48 horas”, explica. Quando não estava em lives solo, preparava um prato com um participante, que repetia o processo do outro lado da tela.

No dia 25 de março, por exemplo, fez ovos mexidos acompanhados de legumes salteados na frigideira com o humorista Fábio Porchat e a mulher dele, a produtora Nataly Mega. “Os convidados variavam de nível de conhecimento. O Joaquim Lopes, por exemplo, tem formação profissional e cozinha muito bem”, diz ela sobre o ator, que, em 3 de abril, atacou de macarrão com sardinha enquanto a própria Rita foi de bolo de caneca. Nas mais divertidas das lives, em 1º de abril, a atriz e comediante Miá Mello descreve como “pelar uma cebola”. “Fizemos umas gracinhas”, diz a cozinheira.

Rita e marido Ilan Kow (Gabriel Lobo/Divulgação)

Outra frente aberta por Rita no período de reclusão foram dez conversas com personalidades de distintas áreas, intituladas Papo na Cozinha. Variavam de Monja Coen e do historiador Leandro Karnal ao escritor Milton Hatoum e aos professores Patrícia Jaime e Carlos Monteiro, ambos do curso de nutrição da Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e coordenadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública (Nupens), com o qual Rita mantém uma parceria.

Os colóquios, levados ao ar às 21 horas, permitiram reflexões mais profundas sobre aquele cômodo quase esquecido em muitas casas mas que ganhou protagonismo: a cozinha. “Sem comida, não existe unidade familiar. E quem está em casa não está isolado, está protegido”, pontificou Karnal.

Mônica regando ervas: resguardo no interior (Teco Cardoso/Divulgação)

Se a titular do Panelinha não arredou pé de São Paulo, a metrópole deixou de ser cenário para Mônica Salmaso, o marido, o músico Teco Cardoso, e o filho adolescente Théo, logo no início da decretação do confinamento.

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O trio deixou o apartamento no bairro da Aclimação para se isolar em uma chácara que mantém na pequena Sarapuí, cidadela com menos de 10 000 habitantes no interior do estado e 160 quilômetros distante da capital. “É uma casa com partes muito antigas e um quintalzão. A fachada fica na área urbana e os fundos na zona rural, numa região que foi de passagem de tropeiros”, descreve a proprietária.

Na chácara: cantora alimentando galinhas-d’angola (Teco Cardoso/Divulgação)

Mas bateu um incômodo logo na chegada. “Fiquei pensando no que fazer para ajudar, como amigos que estavam em São Paulo costurando máscaras. Foi o Teco que deu a ideia de gravarmos os vídeos”, conta. Ela, que nunca tinha participado de uma live na vida, entrou no Instagram do sambista carioca Alfredo Del-Penho para acompanhar uma transmissão e descobriu que todo mundo notou sua presença. “Foi um susto, as pessoas me viram, e não sabia se podia sair. Eu e o Alfredo tentamos cantar juntos. Mas é impossível porque tem um delay”, diz, sobre a primeira lição que aprendeu sobre os pequenos atrasos de sincronismo que existem nessas transmissões.

Mônica entendeu também que precisaria receber gravações de vídeos para que pudesse fazer a sua parte ou vice-versa. Depois do primeiro desses encontros e com o próprio Del-Penho, a cantora não parou mais. Com imagens registradas em seu iPad e edição feita por ela, que subia um vídeo por dia, para felicidade dos fãs de samba e MPB. “Quando recebo material, faço ou refaço a minha parte até ficar bom”, revela. Assim, a cantora foi chamando os amigos que conquistou ao longo de 25 anos de carreira para compor a série intitulada Ô de Casas.

Tempo livre dedicado à leitura: Mônica com a cadela Cacau (Teco Cardoso/Divulgação)

Entre tantos outros, fizeram duo com ela João Bosco, Zé Renato, Rosa Passos, Yamandu Costa, Rolando Boldrin, Joyce, Teresa Cristina, Chico César e Edu Lobo, que a tinha convidado para dar uma canja no show que ele realizou para comemorar 70 anos, uma de suas maiores emoções. Esse ritmo alucinante de gravações e edições durou até o de número 74.

Foi quando Mônica se sentiu cansada e avisou ao público que pararia durante uma semana. “Achava que depois de dois meses e meio era preciso organizar as coisas, o equipamento estava travando e as pessoas demoravam a mandar os vídeos”, afirma. Voltou com uma pegada ainda intensa, com postagens três vezes na semana, sempre às terças, às quintas e aos sábados.

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Show de 70 anos de Edu Lobo: participação de Mônica (Paula Kossatz/Divulgação)

Desses 87 encontros melodiosos publicados até agora, três bombaram. No topo das preferências, está o duo com Chico Buarque, que está em perfeita sincronia com a cantora para interpretar João e Maria, canção cuja letra foi criada por ele em cima da melodia de Sivuca. Até a última quarta (15), tinha sido visto mais de 88 000 vezes no YouTube, 221 000 no Instagram e surpreendentes 1,4 milhão no Facebook.

Também foram um estouro em número de visualizações no Facebook as parcerias com Vanessa Moreno, com quem atingiu a marca de 573 000 reproduções para Cego com Cego, e com Zélia Duncan, junto da qual canta Feliz Caminhar, que bateu 452 000 espectadores.

Edição em casa: Mônica monta parcerias (Teco Cardoso/Divulgação)

E o que o presente e o futuro reservam para a dupla? Depois de quase quatro meses longe do estúdio, que é a sede do Panelinha, Rita só voltou a pôr os pés lá no último dia 10, quando foi clicada por Ilan para a foto que está na capa desta edição — a cozinheira mantém uma equipe de vinte pessoas trabalhando remotamente.

Esse time tem tarefas como responder às perguntas dos leitores (“nas 48 horas seguintes a cada postagem, o feed fica inundado de dúvidas”), testar receitas e subir as lives nas plataformas Instagram, Facebook e YouTube. “Em casa, eu preparo tudo, da pré-produção das receitas às imagens dos pratos”, explica. “Só as minhas fotos são dos meus meninos”, numa brincadeira com o marido e o filho, também cinegrafista. Só não entrou no batente a caçula de Rita, Dora, que está cursando o ensino médio e tem estudado todos os dias.

Tanta atividade não vai passar em branco para Rita, uma celebridade culinária nas redes sociais, com 1,5 milhão de seguidores no Instagram, 514 000 no Facebook e outros 530 000 no Twitter. Rita, Help! Me Ensina a Cozinhar, além das séries para o YouTube e o GNT, rendeu um livro que já está em finalização e será vendido a partir do dia 28 (disponível para pré-venda por 30 reais).

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Comando do extinto restaurante Oriental: com o chef chinês Qin Ji Gang (Eduardo Albarello/Veja SP)

Como todos os outros dez que ela lançou, traz comida de verdade, bordão de Rita, uma antagonista dos preparos prontos e ultraprocessados, cheios de conservantes, aromatizantes… A novidade é que não será um livrão daqueles de capa dura e com fotos produzidas. Terá formato brochura, com 88 páginas, pelas quais se distribuirão dez capítulos, onde se encontrarão receitas de ovos, saladas, sopas, brigadeiros e até um risoto de panela de pressão para parecer bamba no fogão.

Produção da quarentena: cozinha da chef em casa vira também estúdio (Ilan Kow/Divulgação)

A mais parruda das seções é dedicada justamente ao pê-efe, com direito a muito arroz com feijão. Um segundo livro sai da gráfica ainda neste ano para comemorar as duas décadas do Panelinha. “O primeiro livro, Panelinha, continua um best-seller. A nova edição aborda mais de dez anos de experiência e reforça o jeitão de comer do brasileiro”, adianta. Entre as 400 receitas, reúne inclusive pratos de forno que “as pessoas querem que fiquem prontos na geladeira para comer depois — é só aquecer”. Inicialmente, havia também uma programação comemorativa para a data marcada para junho e que previa receber 3 000 pessoas. “Tivemos de adiar. Quem sabe não será o Panelinha 21 anos?”, brinca.

Mônica também teve planos interrompidos. Estava com um show pronto para estrear, dedicado à sambista Elizeth Cardoso, que deve ser transformado em uma atração virtual. Foi então que mergulhou na realização do Ô de Casas. “É a maneira que a gente achou de oferecer às pessoas da forma mais carinhosa possível a arte. Mas mesmo com nossas despesas reduzidas a um terço, está na hora de me organizar um pouco para ganhar algum dinheiro”, afirma. Ela e o marido, Teco, ensaiam no momento composições de Milton Nascimento e da dupla Chico Buarque e Edu Lobo para fazer apresentações virtuais com ingressos colaborativos.

Desenho de louças: coleção própria (Editora Panelinha/Divulgação)

A primeira delas está programada no Blue Note, na série Lives Pela Arte. Quem acessar o YouTube da filial paulistana do bar de música ao vivo poderá ver o espetáculo, marcado para o dia 24 de julho, às 20 horas. Ao assistir ao show, os fãs têm a possibilidade de fazer uma contribuição espontânea com o nome de ingresso consciente por meio de um QR code que aparecerá num dos cantos da tela. A dupla mais uma vez voltará a ser vista a distância no palco da Casa de Francisca desta vez também com Nailor Azevedo e Guinga, no dia 14 de agosto às 21 horas. Além de uma cota gratuita, há ingressos a 26 reais. Quem tiver condições de apoiar com valores maiores, pode oferecer 53 reais, 80 reais ou 260 reais.

Reunidas nestas páginas por obra do destino digital, Rita e Mônica têm uma história em comum, como apurei nas entrevistas que fiz com as duas. Elas foram vizinhas, há pouco mais de duas décadas, quando moravam em um mesmo edifício da Rua da Mata, via de uma única quadra no Itaim Bibi. “Rita era a pop star do meu prédio”, entrega Mônica. Rita, que foi modelo, trabalhou na MTV e pouco tempo depois assumiria o comando do extinto restaurante Oriental, também se derrete pela cantora: “A Mônica é o máximo. Que voz!”. O que pouca gente sabe é a paixão da cozinheira pela arte.

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Gabriel: filho de Rita virou cameraman (Rita Lobo/Divulgação)

No pouco tempo que não se encontra diante das panelas, Rita desenha as próprias coleções de louça e dedilha no piano que mantém em casa obras do dinamarquês Friedrich Kuhlau, entre outras composições. Mônica, que no tempo livre se dedica à leitura de escritoras como Clarice Lispector, rega ervas da horta ou alimenta as galinhas-d’angola no quintal, confessa: “Sou um zero à esquerda na cozinha. O Teco cuida do cardápio aqui de casa”. Quem sabe agora a afinadíssima meio-soprano, que oferece biscoito fino em suas parcerias musicais de quarentena, se inspire na ex-vizinha e resolva dominar a arte de forno e fogão.

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