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Renée Nader Messora recebe prêmio por longa-metragem em Cannes

Codiretora de ‘A Flor do Buriti’, cineasta paulistana é uma das mulheres laureadas pelo festival francês

Por Gabriela Amorim
2 jun 2023, 06h00
Mulher branca posa ao lado de duas mulheres indígenas dentro de cabana. Uma delas está de pé segurando um projetor de luz branco e redondo.
Diretora em ação: Renée Nader Messora com indígenas do Tocantins. (Angeles Garcia Frinchaboy/Divulgação)
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“Em 2012, entreguei minha casa em São Paulo, fui para Itacajá, no Tocantins, e comecei a passar boa parte do meu tempo na aldeia (Pedra Branca)”, diz a cineasta paulistana Renée Nader Messora, codiretora de A Flor do Buriti, laureado com o prêmio de melhor equipe na mostra Um Certo Olhar, no 76º Festival de Cannes, onde foi aplaudido por cerca de dez minutos após ser exibido.

O longa, dirigido com o seu companheiro, o diretor português João Salaviza, apresenta a luta pela terra e as diferentes formas de resistência praticadas pelos indígenas krahôs. A dupla também foi premiada nessa mesma mostra, em 2018, com o filme Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos, igualmente feito com os Mehin, como se autodenominam os krahôs. Para Messora, que convive com os povos originários há catorze anos, é árduo se desvencilhar de um olhar branco para a filmagem de ambas as obras.

“O que eu e João temos é um tempo de convivência na comunidade que a gente filma, que nos permite ter uma leitura da realidade que está na nossa frente. É uma leitura engajada junto de uma escuta sensível, isso fez e faz com que a gente consiga errar menos.”

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Rodado ao longo de quinze meses, em película 16mm, A Flor do Buriti tem duração de 124 minutos e conta com a participação especial de Sonia Guajajara, atual ministra dos Povos Indígenas. O longa alude para o que vem ocorrendo nos últimos oitenta anos com o povo krahô, levando para as telas o massacre ocorrido em 1940, no qual segue refletido nas novas gerações, sendo um misto de documentário e encenação.

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“Só existem imagens no meu material bruto que eles (os krahôs) se sintam à vontade, que eles se reconhecem, confiem e acreditem. Nós (Renée e João) fizemos uma espécie de tradução e tentamos chegar a um lugar onde faça sentido para os não indígenas que irão assistir ao filme”, explica a paulistana, que afirma que o roteiro também foi realizado em conjunto com os indígenas Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô e Ihjãc Henrique Krahô.

Identificando uma maior abertura do festival francês para obras de povos originários, a temática rompe barreiras e proporciona novos olhares do público para assuntos que avançam nos debates, como a PL 490 no Brasil, que pode alterar a legislação para demarcação de terras indígenas.

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“Todo mundo tem que se engajar por esse movimento da floresta em pé igual comenta Davi Kopenawa, autor do livro A Queda do Céu. Devemos segurar essa queda porque nós habitamos o mesmo planeta, enquanto os povos indígenas vivem lutando em constante ameaça, com muita gente lutando contra.”

“O filme é só a parte mais visível de uma relação que ultrapassa o longa em todos os aspectos. Todos nós desejamos que A Flor do Buriti circule, que as pessoas conheçam a realidade dos Mehin e do cerrado, porque eles são os grandes guardiões desse bioma brasileiro”, finaliza.

Publicado em VEJA São Paulo de 7 de junho de 2023, edição nº 2844

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