Drama ‘Ensaio’ busca referências do cinema para enfocar um casal
Hitchcock e Antonioni são evocados na peça que conta a história de um homem cuja mulher se suicida
Pertencer a um grupo pode ser uma cilada no teatro. Poucos artistas conseguem estabelecer um diálogo paralelo e ir além das montagens do próprio coletivo. Líder da Cia. Hiato e responsável pelos ótimos espetáculos Escuro (2010) e O Jardim (2011), o autor e diretor Leonardo Moreira ganhou visibilidade e começa a exercitar esse lado e a expandir a veia criativa. Em sua primeira experiência do gênero, o drama Ensaio, ele usa a metalinguagem entre teatro e cinema para dirigir os atores Maria Helena Chira, Rafael Primot e Fabricio Licursi.
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Moreira não alcança o mesmo êxito verificado em sua companhia, muito acima da média. Realiza, no entanto, uma encenação de sofisticação ímpar. Os cineastas Alfred Hitchcock, Michelangelo Antonioni e Krzysztof Kieslowski são fartamente evocados, assim como os dramaturgos Arthur Miller e Tennessee Williams. Primot interpreta o roteirista Artur, traumatizado pelo suicídio da mulher. Para contornar a depressão, ele escreve sobre seu casamento e contrata Marília (papel de Maria Helena), atriz muito parecida com sua ex, para representá-la. Os dois começam um jogo de inversão de papéis, vigiados constantemente por um fotógrafo (o ator Fabricio Licursi).
O cenário giratório explicita a tensão e revela o cuidado das marcações e de luz. Moreira, contudo, carece de um elenco menos técnico. Embora Primot e Maria Helena não desapontem, eles mostram certa frieza em cena. Com dramaturgia tão cerebral e detalhista, intérpretes mais entregues à emoção envolveriam melhor a plateia. Pelo tipo misterioso, Licursi se destaca como um invasor, uma espécie de voyeur do próprio público, num quebra-cabeça exigente.
AVALIAÇÃO ✪✪✪