Exclusivo: os planos da iniciativa privada para a área cultural do Ibirapuera
Ingressos únicos para várias atrações e cinema ao ar livre para bicicletas estão entre os projetos da Urbia, que deve assumir o equipamento em outubro
Um dos mais tradicionais parques da cidade, o Ibirapuera, de 1954, vive a partir do final de outubro um novo capítulo de sua história: vai passar oficialmente para as mãos da iniciativa privada. A concessão, que ocorreu em 2019 em meio a recursos na Justiça e preocupações com o patrimônio arquitetônico do equipamento, vai durar 35 anos com um contrato de 1,3 bilhões de reais que inclui também outros cinco parques.
A Urbia Gestão de Parques, sociedade de propósito específico da construtora Construcap, é quem vai assumir a empreitada. A Vejinha conversou com algumas das novas caras que vão estar à frente de entidades culturais que ficam no Ibirapuera. Entre as novidades estudadas, um ingresso integrado para acesso de todos os equipamentos, um aplicativo com as atrações culturais e uma versão para bicicletas do cine drive-in, além de reformas no planetário e um novo sistema de projeção.
O físico Fernando Nascimento será o coordenador do planetário Aristóteles Orsini. Alexandre Pietro será o coordenador de cultura e eventos e Jonaya de Castro, a gerente de comunicação e cultura.
Para os próximos três anos, meta de 1 milhão de visitantes
Não é a primeira vez que Nascimento administra o planetário. Entre 2017 e 2019 ele era contratado da prefeitura como diretor da instituição e do planetário do Parque do Carmo. Na época, soube de sua demissão do cargo pelo Diário Oficial. “Estão matando o planetário por inanição“, disse para a Vejinha naquele ano. “Costumávamos pedir no orçamento uma média de 7,5 milhões de reais para manter o complexo. Mas só aprovavam 2 milhões”, lamentou.
“O cenário futuro é de investimento. Existem investimentos obrigatórios que a Urbia tem que fazer. O planetário está incluído”, disse em nova entrevista por chamada de vídeo. A empresa promete disponibilizar 1 milhão de reais na reforma do planetário e seu mobiliário. Outra novidade que deve vir é uma tecnologia de imersão de vídeo do tipo full dome, com experiências mais imersivas dentro do complexo.
“A gente imagina o espaço [com essa tecnologia] que projeta na cúpula inteira. Uma arena digital com vários tipos de experiência. [Será possível] não apenas viajar no universo, mas também nas artes, dentro do corpo humano”. A Urbia ainda não fechou o orçamento que será destinado para o novo sistema de projeção, mas a estimativa é de que o equipamento custe no mínimo 800 000 reais. “A gente quer ter nos próximos três anos 1 milhão de visitantes”, diz Nascimento.
Ingresso único
Uma das ferramentas para atrair mais público é a criação de um ingresso único que permitirá o acesso a todos os equipamentos culturais geridos pela Urbia: a Oca, o Auditório, o planetário e o Pavilhão das Culturas Brasileiras. “É algo que está no nosso projeto, ainda não temos um valor definido para esse ingresso”, explica Jonaya. Outra novidade é um aplicativo que integrará a programação do parque, que está em fase de testes.
Além do Ibirapuera, a Urbia também vai administrar outros cinco parques na cidade: Jacintho Alberto e Tenente Brigadeiro Faria Lima, na Zona Norte; Lajeado, na Leste; Jardim Felicidade, na Oeste; e Eucaliptos, na Sul. “Outro plano: quando tiver uma exposição bacana na Oca a gente pode ter uma réplica ou uma obra de arte nesses [outros] parques”, diz Jonaya
Já o Auditório Oscar Niemeyer deve ter sua imensa parede branca na área externa ocupada por projeções de filmes. Entre as novidades, um projeto de “bike in”, a versão do cinema drive-in para as magrelas. “Vamos montar um espaço que seja compartilhado entre pessoas e bicicletas usando as próprias bikes para promover o distanciamento social”, diz Jonaya. Os filmes devem ser tanto gratuitos quanto cobrados, sempre com reserva de lugares.
No interior do auditório, a linha de espetáculos musicais diversos continua. “A gente vai ter também peças de teatro. A Urbia vai dar continuidade na escola de música que existe ali, temos praticamente 140 jovens estudando lá”, diz Alexandre Pietro.
A Urbia vai investir 180 milhões de reais ao longo dos 35 anos de concessão. Promete restaurar o patrimônio tombado, recuperar áreas verdes e instalar novos mobiliários e equipamentos para prática esportiva.
Um pé atrás
A concessão do parque foi um imbróglio que durou quase dois anos e só foi resolvido em 2020. O vereador Gilberto Natalini (PV) foi um dos que apontaram problemas no Plano Diretor adotado para a concessão na época. “Se eles venderem 5 reais de alimento para cada visitante que vai no parque, eles vão arrecadar 75 milhões por ano. Ou seja, só de comida eles pagam o parque e ainda sobram 50 milhões”, critica Natalini.
“Eu não sou contra a concessão. Mas o que diz a lei da concessão, que tem uma emenda minha ali, é que não poderá extinguir qualquer serviço ambiental que o parque presta para a cidade”. Serviços ambientais são fatores como a permeabilidade do solo, as nascentes do parque, a flora e a arborização.
“Esse plano de cultura, não estou vendo nenhum problema. Mas eu vou fiscalizar. No tempo da Marta [Suplicy] ela começou a alugar o parque para fazer casamento, festa, aquilo estava destruindo o parque. Se eles colocarem um número de eventos acima do que o parque suporta, vamos questionar”.