Pacaembu pode amargar um dos piores prejuízos de sua história
Com um primeiro semestre sem jogos dos grandes clubes da capital, o estádio faturou dez vezes menos com bilheteria
Aos 75 anos de idade, o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho vive uma grande crise. Palco de partidas da Copa do Mundo de 1950 e de memoráveis duelos do futebol paulista, o querido e charmoso Pacaembu está virando um campo fantasma. O local, que chegava a abrigar mais de setenta pelejas por ano, contabilizou no primeiro semestre a realização de apenas sete jogos, todos eles de pequeno porte, a exemplo de partidas do Campeonato Brasileiro Sub-20. Sem a presença de um público grande, a arrecadação de suas bilheterias despencou. Nos seis primeiros meses de 2015, o estádio auferiu cerca de 350 000 reais. Descontadas as despesas de manutenção, acabou tendo um prejuízo de 1,45 milhão de reais no período. Nesse ritmo, corre o risco de chegar a dezembro com um rombo recorde na história.
+ Vila Madalena sofre “apagão” de água durante a noite
A bola estava cantada desde 2011, quando o principal inquilino, o Corinthians, iniciou a construção de seu estádio na Zona Leste. No segundo semestre de 2014, o clube passou a mandar suas partidas no Itaquerão e o Pacaembu ficou às moscas. Como se não bastasse, o complexo do estádio, que inclui entre suas instalações um ginásio poliesportivo coberto com capacidade para 2 500 pessoas, uma quadra poliesportiva com iluminação e três pistas de cooper, começou a enfrentar outros problemas.
A piscina olímpica aquecida, um dos principais atrativos, está fechada desde setembro do ano passado por um problema estrutural descoberto durante a troca do filtro de água. A reposição do equipamento e os reparos, orçados em quase 1 milhão de reais, ainda não têm prazo para ser concluídos. Para cuidar do dia a dia, o estádio possui uma equipe de oitenta funcionários. O administrador do Pacaembu, Francisco Dada, reconhece algumas dificuldades, mas encontra um ponto positivo no momento atual. “Nos dias de jogos, precisávamos fechar as instalações para receber somente os torcedores”, conta ele. “Agora, tudo fica aberto e disponível para os frequentadores.”
Devido à excelente localização, a 4 quilômetros do centro, o estádio tem vocação para abrigar grandes shows musicais. A planta original previa até um palco atrás de um dos gols, a chamada “concha acústica”, demolida em 1969 para dar lugar a um conjunto de arquibancadas (o popular “tobogã”). A lista de estrelas que já se apresentaram no campo inclui do tenor Luciano Pavarotti aos Rolling Stones. Essa fonte extra de renda, no entanto, também sumiu nos últimos anos. Em 2005, uma liminar obtida na Justiça pela Associação Viva Pacaembu proibiu a realização de eventos não esportivos no local. “Torcemos para que o estádio continue sendo um símbolo do futebol na cidade e que seja economicamente viável, mas isso não pode acontecer em detrimento da qualidade de vida no entorno”, defende Rodrigo Mauro, presidente da entidade que reúne os moradores do bairro.
+ Paulistano muda rotina por causa de falta de água
Nos próximos meses, existe a esperança de reforçar o caixa com o Palmeiras, que pode realizar ali quatro partidas entre setembro e novembro. Nesse período, o novo estádio do Palestra, o Allianz Parque, estará ocupado com espetáculos de Rod Stewart, Muse e Kate Perry. A médio e longo prazos a solução para as contas será a privatização. Lançado em janeiro, o processo para tirar da gestão do município o Pacaembu atraiu a atenção até agora de seis companhias.
O vencedor não deve ser anunciado antes do fim de 2016. No momento, os participantes encontram-se em tempo de apresentar sua proposta financeira para definir quem será o “dono” do campo, num prazo ainda a ser definido. A prefeitura exige que o concessionário implemente obras de revitalização do complexo de 75 600 metros quadrados, como a modernização das cadeiras e a instalação de uma cobertura retrátil.
Cinco das seis concorrentes atuam no mercado de arenas no Brasil e no exterior. Uma delas, a multinacional holandesa Arcadis Logos, traz no currículo a elaboração de projetos de arquitetura para obras nacionais (Parque Olímpico, no Rio de Janeiro, e Arena Pernambuco, no Recife) e internacionais (O2 Arena, em Londres, e Camp Nou, estádio do Barcelona, na Espanha). No Pacaembu, a companhia propõe instalar clínicas para atletas e melhorar a infraestrutura com a construção de áreas vips destinadas a eventos corporativos, entre outras coisas. Além disso, é claro, quer organizar jogos no local.
O grupo espera atrair um clube grande para sediar suas partidas no lugar (comenta-se nos bastidores que está mirando o Santos). A única competidora sem experiência na área esportiva é a Casa Azul, que há doze anos organiza a Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) e deve apresentar um modelo de ocupação cultural nos moldes do que acontece hoje com o Minhocão, com o uso do espaço para atividades de lazer abertas à população e financiadas por investidores. Enquanto o processo burocrático se desenrola, o Pacaembu permanece no banco de reservas.