“Reencontrei meu primeiro namorado e ele faleceu meses depois”
Valéria e Alfredo se apaixonaram em 1983 e, apesar do destino, iniciaram um novo relacionamento no início de 2022, trinta e sete anos depois
“Quando jovens, eu e o Alfredo morávamos na Vila Guilherme (Zona Norte), a algumas casas de distância. Ele era amigo do meu irmão mais velho. Começamos a namorar em 1983, mas era aquele namoro de portão, bem discreto. Como eu tinha 14 e ele 19, tinha de ser escondido, e ele não podia entrar na minha casa. O tempo acabou nos separando. Ele se mudou para o Rio, se casou, teve duas filhas e se divorciou anos depois. Eu tive alguns relacionamentos e, de um deles, nasceu minha filha, de quem cuidei (e ainda cuido) sozinha. Nunca quis me casar. Só fui ter essa experiência em 2014, aos 45 anos, mas me separei.
Em 2021, fiz uma homenagem nas redes sociais a uma conhecida que havia falecido e, no meio dos comentários, vi o perfil de alguns parentes do Alfredo. Pensei na hora nele e entrei em contato, mas, como ele era um homem muito ligado à natureza e mal usava as redes sociais, só foi me responder um ano depois, em janeiro de 2022. Eu estava em São Paulo e ele em Teresópolis, na Serra Fluminense. Conversávamos por FaceTime e, um dia, ele me chamou para ir até lá. Peguei mala, cuia e minha cachorrinha e fui viver esse amor.
Ele morava em um casarão cercado por vegetação, cachorros e galinhas. No dia em que cheguei a Teresópolis, depois de oito horas de viagem, fui recebida com um café da manhã e lindas flores plantadas por ele no jardim. Começamos a conversar como adolescentes e ele me tirou para dançar ao som de Namora Comigo, do Paulinho Moska.
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A partir daí, foi tudo muito intenso. Passávamos todos os dias que podíamos juntos, comigo conciliando o trabalho em São Paulo com a vida a dois em Teresópolis. Parecia que nunca tínhamos nos separado. Alfredo dizia que, depois de muito tempo sozinho e alguns rolos aqui e ali, ele havia deixado de acreditar no amor. Eu lhe ensinei e ele também me mostrou que é possível amar, sim! Aos 50, aos 60, aos 70, com a idade que for.
Ele me pediu em casamento no mesmo mês em que cheguei, enquanto almoçávamos em uma fazenda. Aproveitamos que tinha uma capelinha próximo e selamos nossos votos ali mesmo. Estávamos tão felizes que nem tiramos fotos, foi uma cerimônia muito íntima, nada planejada, só para nós — e para a minha cachorrinha, que está sempre comigo. Nosso casamento oficial estava marcado para o fim do ano.
Tudo estava sendo maravilhoso, até ele adoecer do dia para a noite, no fim de fevereiro. O diabetes atacou e Alfredo teve de ser internado. Nesse tempo, conversávamos por mensagens e FaceTime o dia inteiro e praticamente todas as frases tinham um ‘Eu te amo’ e um ‘Quero viver a minha vida com você’. Eu ia vê-lo nos horários de visita. Na Páscoa, apareci de surpresa no hospital e ele chorou.
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Devido ao diabetes, ele teve complicações. Aos poucos, os rins começaram a falhar e ele precisou fazer diálise. Alfredo sempre foi um homem forte e ativo. Andava no meio do mato da serra, cuidava do jardim e dos animais. Quando ele voltou para casa, em abril, porém, estava muito cansado, foram procedimentos muito complicados e invasivos. Ele morreu em 9 de maio de 2022, aos 58 anos.
Perder a minha alma gêmea, o meu primeiro e grande amor, me deixou despedaçada. Mas, como prometi a ele, e como uma mulher forte e intensa que sou, sigo em frente e vivo um dia de cada vez, cultivando sempre o amor. Sou apaixonada pela vida e, desde que o Alfredo faleceu, tenho buscado ajuda psicológica e espiritual para ressignificar essa perda. Esses cinco breves meses que vivemos pareceram os 37 anos em que ficamos separados. Sou muito grata por ter vivido essa história ao lado dele.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 13 de julho de 2022, edição nº 2797