Musical de Elvis Presley com Leandro Lima aquece a cena rockabilly na capital
Fã-clubes, festas, aulas de dança e até loja de molduras temática mantêm vivo o legado do artista
Fãs de todas as idades prometem lotar as 108 sessões do musical Elvis: A Musical Revolution. O espetáculo, em cartaz no Teatro Santander, é uma versão nacional da apresentação biográfica da Broadway, o único musical com autorização do uso da marca Elvis, que entra em cartaz na capital paulista nesta quinta-feira (1º) após temporadas nos Estados Unidos e na Austrália.
A montagem brasileira, assinada pela mesma dupla de produtoras por trás de Donna Summer Musical e We Will Rock You — Brazil, promete acrescentar um toque extra ao texto escrito pelos americanos Sean Cercone e David Abbinanti. “Não tenho interesse em seguir um roteiro como uma bíblia. Gosto sempre de adaptar, de trazer algo novo”, explica Miguel Falabella. Responsável pela direção e adaptação, ele inova desde as primeiras cenas, ao iniciar a trama com a morte. “O espetáculo inteiro é uma viagem da cabeça dele. Elvis dialoga com uma versão mais jovem de si mesmo, relembrando momentos de sua trajetória. É como se eu visse o Miguel de 23 anos chegando na TV Globo cheio de sonhos”, conta.
O cenário também foi recriado na montagem brasileira, orçada em 9 milhões de reais. Escadas douradas gigantes preenchem todo o palco, na maior estrutura cênica já vista no Teatro Santander. “Ele teve uma vida muito aprisionada, por isso pensei em colocá-lo em uma espécie de gaiola dourada”, conta o diretor, que se inspirou nas famosas escadas infinitas do artista holandês M.C. Escher.
O Rei do Rock será interpretado por Leandro Lima, revelado na novela Pantanal e na série Coisa Mais Linda, que enfrenta, pela primeira vez, o desafio de trabalhar em um musical. “É uma grande novidade para mim, e me exige um enorme esforço. É uma dedicação de atleta olímpico”, conta o ator, que também tem carreira musical e já cantou em uma banda de axé. Sua rotina durante a produção incluiu horas de exercícios vocais, longos ensaios e períodos em total silêncio para poupar as cordas vocais, mas sempre ao som de músicas do Elvis. “A gente está respirando esse musical. Não consigo falar de nenhuma outra coisa.”
A história de Leandro com o ícone americano é antiga. Aos 16 anos, foi apresentado ao astro por uma namorada, muito fã do artista. “Ela dizia que eu parecia o Elvis. Sempre achei isso engraçado”, lembra. Mas, apesar de ter uma voz grave como a dele, Leandro não pretende imitá-lo. “Ele é único. Se você quiser ver o Elvis, tem milhares de vídeos no YouTube. O que eu quero é levar a minha energia para contar a história dele.” O respeito à história do ídolo do rock é, talvez, o grande mote do musical. Tanto é que, em meados de julho, Leandro visitou Graceland, a mansão onde Elvis viveu, na cidade de Memphis, nos Estados Unidos. “Fui até o túmulo dele, fazer uma oração, pedir permissão para contar essa história”, relata. A viagem também o ajudou a ter dimensão do legado do roqueiro, que ainda mobiliza e influencia fãs mundialmente. “Foi incrível ver de perto tudo aquilo que estudei nos últimos meses.”
Além de Leandro, o elenco inclui Daniel Haidar, que interpretará o protagonista nas sessões desta sexta (2) e nos dias 8, 15, 22 e 29 de agosto, Caru Truzzi, no papel da ex-esposa Priscilla, e Luiz Fernando Guimarães, que celebra cinquenta anos de carreira na pele do Coronel Parker, o controverso agente de Elvis Presley. “Eu adoro o Coronel Parker. Acho que todo canalha tem um lado bom, e ele não é exceção”, comenta o ator.
Canções atemporais como Jailhouse Rock, Hound Dog, Heartbreak Hotel e Love Me Tender ambientam a biografia teatral, que narra momentos da infância humilde, da relação com Priscilla e com os pais e também de suas incursões no mundo das drogas. “A música é tão boa que ela é ouvida até hoje”, celebra Falabella. Sobre a relevância de Elvis, que atualmente tem mais de 20 milhões de ouvintes mensais no Spotify, o diretor não hesita. “Ele enlouquecia as pessoas e liberou sexualmente toda uma geração, que começou a ter uma relação pélvica com a vida. Foi uma grande onda contra o moralismo.”
Com mais de 150 pessoas na equipe, 15 toneladas de cenografia e 600 metros de LED programável, a superprodução, ao que tudo indica, ficará restrita ao palco do Teatro Santander, já que, fisicamente, não poderá ser transportada. “Quem quiser ver, venha, porque vai ser algo único”, alerta Falabella.
Walteir Terciani, 77, planeja assistir ao espetáculo pelo menos cinco vezes, para ver as diferentes visões da plateia. Presidente e fundador do Gang Elvis Fan Club of Brazil, criado em 1967 e um dos mais antigos do mundo, ele é uma das vozes que mantêm vivo o legado do ídolo na cidade. Assistente social aposentado, foi convidado a assistir ao ensaio com a orquestra e se emocionou. “A produção foi muito respeitosa com o Elvis”, nota. Um certo alento para o fã, que terá a chance de ver uma homenagem à altura de seu ídolo após a frustração de, por pouco, não o ter visto em vida. “Trabalhava em dois lugares ao mesmo tempo para arrecadar dinheiro e marquei a viagem para o começo de setembro de 1977. Conversei com a secretária e ela disse que me apresentaria a ele, mas ele partiu no dia 16 de agosto”, lamenta Terciani, que vai para Memphis quase anualmente, em uma peregrinação que reúne adoradores de todo o mundo. “Ele era muito verdadeiro. Nunca deixou ninguém para trás”, conta.
Berenice Dib, dona da loja de molduras Elvis Arts — Arte & Decoração, é uma das peregrinas. Sua loja no Centro da cidade, próxima ao Largo do Arouche, é inteira dedicada ao Rei do Rock, com quadros, fotos, pinturas e até estátuas de papelão em tamanho real — quase tudo suvenires de suas viagens à terra do rei. A artista e restauradora é outra admiradora do musical. “Todos que interpretam Elvis têm algo dele, mas o Leandro fez de um jeito particular e muito bem-feito. Não imitou, prestou uma homenagem”, afirma.
Para os fãs dos anos 1950, cuja estética está muito associada ao astro, o momento é favorável. “A cultura rockabilly está retomando sua influência”, analisa Felipe Lima, psicólogo e professor de dança, sobre o crescimento das festas do gênero na cidade. “Hoje temos uma comunidade forte”, completa. Na moda, os anos 50 também continuam em alta. Marilia Skraba, modelo e dona de um estúdio de fotografia pinup, conta que atende de crianças a senhoras, fascinadas pelo estilo retrô. “Elvis foi o grande divulgador dessa estética”, explica. Não há dúvidas, Elvis é imortal.
Elvis: A Musical Revolution. Teatro Santander. Shopping JK Iguatemi, ☎ 4810-6868. → Qui. e sex., 20h. Sáb. e dom., 16h e 20h. R$ 39,00 a R$ 380,00. Até 1º/12.
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de agosto de 2024, edição nº2904