Três perguntas para Maria de Medeiros
Portuguesa radicada em Paris, a atriz e cineasta está em dose dupla na cidade. No palco do Tuca, é intérprete do drama <em>Aos Nossos Filhos</em> e, no cinema, dirige o documentário <em>Repare Bem</em>
Como surgiu sua admiração pelo Brasil? Tem a ver com minha história.Passei a infância em Viena e, depois da Revolução dos Cravos, meus pais regressaram a Portugal. Eu só ouvia música clássica e cresci sem saber quem eram os Beatles e os Rolling Stones. Portugal, entre 1974 e 1975, estava num período festivo, enquanto o Brasil vivia sob um regime militar. Por isso, os brasileiros se interessaram muito pelo meu país e recebemos uma avalanche de sua cultura que marcou minha geração. A MPB de Chico, Caetano e Gil foi um marco e se tornou uma referência não só musical, mas também filosófica.
Por que seus filmes como diretora têm uma pegada política? No trabalho de atriz, possuo um poder de escolha limitado. Como diretora, interesso-me por temas políticos e históricos. A peça Aos Nossos Filhos, coincidentemente, tem muito em comum com o documentário Repare Bem, que aborda as consequências da ditadura. No palco, também há uma relação de mãe e filha. A peça é sobre uma mulher que foi uma guerrilheira.
Como está a situação da Europa para a área artística? É um momento muito desanimador, porque há uma grande crise. O lado financeiro está oprimindo a produção artística. Uma das razões que me motivam a estar no Brasil é que aqui existe uma política cultural estimulante. Vejo a Europa paralisada no tempo, e Portugal mostra-se um dos exemplos mais gritantes disso.