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Livrarias apostam em unidades menores para competir com o on-line

Livraria da Vila vai abrir cinco unidades na capital paulista até julho

Por Humberto Abdo
Atualizado em 18 jun 2021, 18h39 - Publicado em 18 jun 2021, 06h00

Na mesma velocidade em que antigas redes de livrarias perdem força na capital, marcas menores conquistam cada vez mais espaço — na pandemia, alguns livreiros juram viver melhor que muitos comércios. “As pessoas não deixaram de ler”, crava Martine Birnbaum, supervisora da Livraria da Travessa em São Paulo. Com o fechamento de uma hamburgueria ao lado da loja na Rua Pinheiros, a filial decidiu investir em uma ampliação, inaugurada neste mês. “A sequência de livros expostos nas prateleiras também conta uma história, e agora que dobramos de tamanho pudemos ampliar esses títulos.”

Embora alguns leitores ainda lamentem o fim da Fnac (que encerrou as atividades no país em 2018) e o fechamento de várias unidades da Saraiva e da Cultura (atualmente em recuperação judicial), a extinção das megastores é vista como uma tendência mundial. “Além de serem mais aconchegantes, as lojas físicas menores investem no atendimento personalizado”, observa Gerson Ramos, diretor comercial da Editora Planeta e profissional do setor há 39 anos. “Nas grandes redes, a rotatividade da equipe impede que o vendedor crie aquele vínculo afetivo com os livros, tão necessário nos pedidos de indicações dos clientes.”

Mesmo com a metade do tamanho, a Livraria Francesa ganhou novos ares ao se mudar para Moema após 73 anos no centro. “Acabamos nos aproximando muito mais da clientela”, observa a proprietária, Silvia Monteil. “A loja agora é de rua, fica em uma casa e as pessoas nos redescobriram nos últimos meses.”

A imagem mostra Sílvia, em uma livraria, de pé em frente à uma estante enquanto sorri para a câmera retirando um livro
Silvia, da Livraria Francesa: fé no livro físico (Rogério Pallatta/Veja SP)

“A livraria ainda é o lugar onde as pessoas descobrem os lançamentos”

Aos poucos, redes como a Livraria da Vila e a mineira Livraria Leitura têm substituído o vazio deixado pelas megalojas em alguns shopping centers. Até o fim do ano, a Vila planeja abrir cinco unidades na capital, entre elas uma na Zona Leste (Shopping Anália Franco), a primeira na Zona Norte (Center Norte) e uma no Pátio Paulista. Com treze em funcionamento atualmente, serão dezesseis lojas até o fim do ano.

“Nos dois períodos de fechamento da pandemia vivemos uma situação de guerra e vimos o faturamento ir a zero”, relembra Samuel Seibel, presidente da marca. “Enquanto os e-commerces e as mídias sociais ajudavam um pouco nas vendas, parecia loucura manter o plano de expansão, algo que foi pensado lá em 2018, mas acreditei que ao longo de 2021 e 2022 estaríamos próximos da normalidade.”

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No caso da Livraria Leitura, estão previstas duas novas unidades, uma no Shopping Interlagos e outra no Jardim Sul. “Com o fechamento das grandes redes, sobrou espaço e acabamos entrando com tudo em São Paulo e no Rio”, resume o presidente Marcus Teles. “Tivemos queda nas vendas com a pandemia, mas as compras no site multiplicaram. Nossa maior concorrente hoje é a internet.”

Sem poder bater de frente com os preços de gigantes como a Amazon, as principais redes depositam suas esperanças nos frequentadores que ainda preferem buscar novos títulos presencialmente. “E a livraria é o lugar onde as pessoas descobrem o que está sendo lançado. Os lançamentos mais comerciais venderam mal nesses tempos porque precisam muito dessa vitrine”, acredita Alexandre Martins Fontes, da Martins Fontes Paulista. “Quando as vendas migraram para o on-line, as pessoas passaram a comprar mais o fundo de catálogo, os clássicos que nem sempre são bem expostos nas livrarias físicas. Quem nem tinha site certamente sofreu muito no último ano, como o restaurante que não tinha o serviço de delivery.”

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A imagem mostra Alexandre apoiado em uma parede de tijolos, com uma roupa social de grive enquanto olha para frente
Samuel Seibel, da Livraria da Vila (acima), e Alexandre Martins Fontes: vendas on-line salvaram faturamento (Arquivo pessoal/Divulgação)

O prazer de poder folhear os livros ao vivo e a proposta de um catálogo mais enxuto são o foco de várias livrarias de bairro, que fazem sucesso ao anunciar obras de um gênero ou recorte específicos — caso da Gato sem Rabo, na Vila Buarque, que trabalha apenas com obras escritas por mulheres, e a Megafauna, no Copan, dedicada à curadoria de profissionais do mercado editorial.

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Fernanda Diamant, que coordena a Megafauna, também acaba de abrir a Editora Fósforo, com uma seleção de obras de não ficção e literatura. “Já tivemos uma resposta muito boa, mas a editora foi pensada para dar certo a longo prazo”, explica. “Nosso mercado não funciona como os outros produtos, necessita calma.”

Para Martins Fontes, a sobrevivência de livrarias físicas depende de um maior equilíbrio com os e-commerces. “Uma lei que regulamente os descontos abusivos dos sites, como existe na Alemanha, na Argentina e em Portugal, protegeria quem vive só da venda de livros”, defende. “Uma das nossas lutas como sociedade é fazer com que as livrarias não desapareçam.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de junho de 2021, edição nº 2743

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