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“Vai virar um ponto turístico”, diz diretor da Biblioteca Mário de Andrade

Empenhado em transformar o local em um "centro cultural", Jurandy Valença apresenta uma programação ruidosa e investe no mobiliário

Por Arnaldo Lorençato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h46 - Publicado em 15 jul 2022, 06h00
Jurandy Valença, diretor da Biblioteca Municipal Mário de Andrade.
Jurandy Valença, diretor da Biblioteca Municipal Mário de Andrade. (Janine Souza/Divulgação)
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Desde outubro no comando da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, uma das mais importantes do país, com 3 milhões de itens no acervo, Jurandy Valença, 52, não para de agitar. O alagoano, que estudou engenharia química e jornalismo, iniciou a carreira na gestão de órgãos de cultura em 2007. Passou pela Oficina Oswald de Andrade, no Bom Retiro, pelo Centro Cultural São Paulo, no Paraíso, e pelo Centro Cultural Banco do Brasil, na Sé, entre outros endereços.

Na biblioteca, inaugurou, no fim de dezembro, uma gigantografia da artista Raquel Brust com uma foto do escritor modernista que ocupa a fachada da hemeroteca instalada num prédio vizinho e promete ser uma atração turística da capital.

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Neste ano, vem organizando uma série de mostras visuais, espetáculos teatrais e performances, além da segunda edição do Festival Mário de Andrade. Durante a entrevista em sua sala na última segunda, 11, havia uma vela preta e outra vermelha dedicadas a Exu junto ao retrato de Mário de Andrade pintado por Maria Leonor.

“Sou sincrético e segunda é o dia de abrir caminhos. As pessoas têm preconceito contra Exu, que é o Hermes, o Mercúrio, ele que une os humanos aos orixás”, diz o diretor, que acha importante ritualizar para sobreviver e resistir. Confira trechos da conversa:

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Qual sua proposta para a biblioteca?
A ideia é que a Mário de Andrade não seja aquela biblioteca estanque, aquele templo silencioso. Quero que seja realmente um centro cultural. A literatura é o eixo, mas ao mesmo tempo ela é atravessada por diversas linguagens para falar desse hic et nunc, desse aqui e agora que estamos vivendo. Como surgiu a gigantografia na fachada da hemeroteca? A Josélia Aguiar, diretora que me antecedeu, deixou alguns projetos encaminhados. Concluí em dezembro a gigantografia, obra da Raquel Brust que reveste o brise-soleil da fachada da hemeroteca (instalada desde 2012 em um prédio vizinho à biblioteca). São 400 tiras coladas numa área de 530 metros quadrados. Vai virar um ponto turístico da cidade. As pessoas vêm e fotografam muito. Talvez não saibam que lá fica um acervo valioso de periódicos.

Houve uma renovação de mobiliário. Como foi esse processo?
Como mobiliário é um bem permanente, a priori é necessário fazer uma licitação. Mas expliquei para (a secretária municipal de Cultura) Aline Torres a escolha da (marca), ovo, de Luciana Martins e Gerson de Oliveira, considerados alguns dos melhores designers do país. Na assessoria jurídica, disseram que queriam saber por que não iria ter a licitação. Mesmo com a autorização da movimentação orçamentária, tive de fazer uma defesa oral durante onze minutos dizendo que, do contrário, o mobiliário a ser escolhido seria o mais barato. Falei da singularidade da escolha mediante o histórico cultural e estético da instituição quase centenária. E tive a autorização. Comprei 180 peças que estão no hall, nas salas de leitura, inclusive infantil e infantojuvenil, no terraço (do 3º andar), no jardim da contemplação, na fachada e na hemeroteca. Queria trazer conforto e beleza para o público. Para o terraço, única forma de semicírculo no prédio art déco, levei (as peças) campo de concreto que dialogam perfeitamente com o espaço, mas já comissionei o designer gaúcho Daniel Acosta. Ele está desenhando um mobiliário especial que vai ter uma cobertura e conforto térmico. A ideia é ter um espaço com sombra e plantas num lugar onde a luminosidade é extrema. Aí transfiro o campo de concreto para o térreo.

Como será a segunda edição do Festival Mário de Andrade?
Estou desenhando ainda, focando a Semana de Arte Moderna. A ideia é fazer uma celebração em torno do livro, da literatura, mas abarcando também outras linguagens. Usar a Praça Dom José Gaspar (atrás da biblioteca), o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde Mário deu aula, a Praça das Artes e o Teatro Municipal. No festival, vamos retomar os lançamentos da revista da biblioteca, que foram interrompidos por causa da pandemia. Vamos lançar dois exemplares que a Josélia deixou prontos. Também lançaremos numa parceria da biblioteca com a editora do Sesc mais uma na forma de livro (A Semana Descentrada) editado pela Gênese de Andrade, que organizou (a coletânea de artigos) Modernismos para a Companhia das Letras. Gostaria de ter barraquinhas com editoras independentes, que em contrapartida farão uma doação de livros ao sistema de bibliotecas públicas. Não quero investir recursos para trazer autores internacionais, mas quero trazer autores nacionais, autores periféricos — é na periferia que está acontecendo tudo. Será em 21, 22 e 23 de outubro.

Qual programação o público verá ainda neste ano?
Em agosto, vou ter o Mapa da Mina com o Alex Flemming, que expôs essas obras só uma vez. É uma série de mapas do Brasil, todos bem coloridos e com uma cúpula incrustada de pedras preciosas. Também nesse mês, a designer Elisa Stecca vai trazer aquelas esculturas enormes como ela expôs no Museu de Arte Sacra (em 2017). Em setembro, no centenário da Independência, pedi a Paula Borghi, uma jovem curadora, para montar uma grande mostra, Independência e Vida, com coletivos outsiders do Rio e de São Paulo que vai ocupar a biblioteca toda. A Feira Miolos, a mais importante de artes gráficas, será no primeiro fim de semana de novembro. Ainda no fim desse mês, vamos fazer um festival de performances com projeto da Paula Garcia, braço direito da Marina Abramovic. Reunirá vários artistas, a maioria é trans. Teremos ainda a exibição no hall de uma fotografia de grande dimensão do Moisés Patrício, que é a mão dele, negra e espalmada, e escrito “poder’ sobre ela com um pó branco. Em dezembro, devo trazer um artista de Campinas, o Francisco Biojone, já falecido e que deixou um trabalho de vanguarda belíssimo.

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O que está nos planos para 2023?
Estou em tratativa com Rosana Paulino, que deve expor uma única obra em março de 2023, celebrando o mês da mulher. Poucas pessoas sabem que a hemeroteca faz parte da Mário de Andrade. Quero jogar luz sobre a hemeroteca com o lançamento de um edital, um chamamento público para uma residência artística lá. Será relacionada à literatura e às artes visuais. Vai ter um artista convidado comissionado e um jovem artista. Vão trabalhar juntos. Devemos abrir um café no térreo da biblioteca com acesso direto pela Avenida São Luís, a mesma entrada da biblioteca circulante. É importantíssimo para toda instituição. Vai agregar o público.

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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de julho de 2022, edição nº 2798

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