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Conheça os jantares que reúnem completos desconhecidos pela cidade

Testamos o serviço, que monta mesas por meio de algoritmo em restaurantes; já são duas empresas na cidade apostando no segmento

Por Guilherme Queiroz
1 mar 2024, 06h00
Imagem mostra oito pessoas sentadas em mesa em restaurante. São quatro mulheres e quatro homens, alguns copos de bebidas estão na mesa
Jantar da Confra: no Itaim Bibi (Leo Martins/Veja SP)
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Pouco antes das 22h de sexta-feira (23), uma mulher sentada com outras oito pessoas à mesa de um restaurante do Itaim Bibi, na Zona Sul, narra a dificuldade de explicar à filha pequena o jantar daquela noite. “Com amigos?”, perguntou a criança. “Não, não conheço nenhum deles”, ela respondeu.

O grupo, cinco mulheres e quatro homens, todo mundo entre 20 e 40 anos, está mesmo reunido pela primeira vez. Na maior parte são solteiros, mas a busca por relacionamentos amorosos não é o principal objetivo do encontro. Todos pagaram ao menos 29,90 reais para sentar-se com totais desconhecidos pelas próximas duas horas e meia.

Na chegada, o papo é sempre meio parecido. “Quero fazer amizades fora da minha bolha”, diz uma das participantes. São todos clientes da Confra (@confra_club no Instagram, mais de 54 000 seguidores), um serviço que promove semanalmente jantares entre estranhos em diferentes restaurantes da cidade.

“Atualmente ocupamos cerca de cinquenta mesas (aproximadamente 350 pessoas) por semana”, conta Lucas Tugas, 23, CEO do negócio, criado em São Paulo há cerca de oito meses — e que, nesta semana, ganha um concorrente europeu que passa a operar na cidade, o Timeleft. As mesas normalmente são formadas por grupos de até seis pessoas.

O preço médio dos jantares nos restaurantes onde são feitos os encontros fica entre 100 e 150 reais — e, claro, é pago separadamente do “ingresso”. A maior parte ocorre em bairros da Zona Oeste e Sul. Antes de se conhecerem, os interessados respondem a um questionário sobre traços de personalidade. Um algoritmo combina os grupos afins. “Deixamos claro que não somos um serviço de relacionamento amoroso. No começo, vinham clientes com essa mentalidade”, conta Tugas.

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Imagem mostra Guilherme e Lucas sentados em mesa de restaurante, sorrindo. Eles usam camisa preta e calças jeans
Guilherme e Lucas, da Confra: até cinquenta mesas por semana (Leo Martins/Veja SP)

Ninguém sabe previamente com quem vai dividir a mesa. A chuva torrencial e o trânsito provocaram algumas ausências naquela sexta-feira. Dos vinte pagantes, apareceram nove. Com isso, quem conseguiu chegar se juntou em um mesão. A impressão é que o papo flui mais solto do que quando simplesmente se tenta encostar em um desconhecido no balcão de um bar. Todos estão dispostos a jogar conversa fora.

Aventuras amorosas que deram errado, a nova peça de Claudia Raia e as polêmicas do coach Pablo Marçal marcam as conversas animadas, que só acabam com o fim do expediente do restaurante.

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A Confra foi criada por Tugas e Guilherme Ovalle, 23, ambos de Santo André, no ABC. Os jovens conseguiram fazer o serviço viralizar nas redes sociais nos últimos meses. “De uma semana para outra, saímos de setenta para 150 clientes”, conta Ovalle. A dupla está em busca de investidores para acelerar a expansão do negócio.

Nas próximas semanas, eles começam a operar em Campinas e a oferecer jantares nas quartas-feiras, além das sextas. A mensalidade custa 49,90 reais, com acesso a todos os encontros. Ir uma única vez sai 29,90 reais.

As quartas-feiras, por sinal, serão justamente os dias em que a Timeleft (@timeleft no Instagram, quase 100 000 seguidores), do francês Maxime Barbier, 39, passará a oferecer semanalmente o mesmo serviço na capital paulista, a partir do início de março: jantares com desconhecidos em mesas de seis pessoas unidas por um algoritmo.

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Imagem mostra homem com chapéu e camiseta que lê-se, em inglês:
Maxime, fundador do serviço europeu: concorrência em São Paulo (Timeleft/Divulgação)

O negócio desembarca na cidade nesta semana por 39,99 reais para um único encontro e a partir de 59,99 para a mensalidade. Anuncia, como diferencial, o fato de oferecer mesas para falantes de inglês. A empresa tem uma expansão mais agressiva que a dos paulistanos. “Começamos a atuar há nove meses, em Lisboa. Já estamos em quase cinquenta cidades de doze países”, afirma Barbier.

Imagem mostra mesa de jantar com taças e talheres ao fundo e, em primeiro plano, câmera fotográfica e flyer que diz:
Mesa da Timeleft, que desembarca em São Paulo em março (Timeleft/Divulgação)
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Na Europa, o negócio reúne 2 700 desconhecidos semanalmente em lugares como Inglaterra, Espanha e Alemanha. Além de São Paulo, chegam neste mês a Nova York, nos EUA, diz o fundador. “Cerca de 65% do público é feminino e tem entre 30 e 50 anos de idade”, ele conta.

Apesar do oceano de distância, são dados similares aos da Confra, em São Paulo, que também reúne mais mulheres e tem média etária de 37 anos. “Não acho que vai ser uma briga, as empresas podem falar a diferentes públicos”, diz Tugas. Na primeira semana, a Timeleft vendeu cerca de 250 ingressos. A Confra não está mais sozinha à mesa. ■

Publicado em VEJA São Paulo de 1° de março de 2024, edição nº 2882.

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