A arte da paulistana Giovanna Cianelli, ilustradora de discos e livros
A assinatura caleidoscópica da designer, vencedora de dois prêmios Jabuti e autora de capas de Anitta, Marina Sena e Duda Beat
Em uma casa repleta de antiguidades e vinis, punk rock soando nos fones de ouvido, Giovanna Cianelli, 34, cresceu entre duas paixões: o desenho e a música.
Hoje, esses dois universos estão misturados no dia a dia da designer e ilustradora, que assinou capas de discos de alguns dos nomes mais relevantes da música brasileira contemporânea.
A paulistana, criada no Tatuapé, trocou a terra da garoa pela brisa carioca há sete anos e hoje mora em Copacabana — praia que receberá, no dia 4, a estrela da ilustração inédita criada para a coluna Mural SP: a cantora americana Madonna.
“Eu vou ao show. Ela está vindo aqui no meu bairro, não posso fazer essa desfeita (risos)”, conta. Com referências tiradas de livros e jornais impressos, para ela o maior desafio nesse trabalho foi fazer uma síntese da diva pop.
“Ela continua transgressora. A questão é homenagear essa mulher que já foi tantas, sem glamorizar sua juventude. Acho que ela ficaria superbrava se fizesse uma ode à Madonna jovem, esquecendo que hoje ela é incrível.”
Artistas mulheres compõem a maior parte do portfólio musical de Giovanna, que ganhou visibilidade com a capa do disco De Primeira (2021), de Marina Sena. “Judy Chicago, uma artista de que gosto muito, diz que a história do mundo sempre foi contada através do olhar masculino. Trabalhar com mulheres me dá a sensação de que estamos falando da nossa perspectiva, com a nossa voz”, afirma.
A ponte para as cantoras veio ao conhecer o diretor criativo Marcelo Jarosz, que, depois de Marina, a levou para trabalhar com Anitta e Duda Beat. Há três anos, a artista montou um estúdio próprio, o Sonhorama, que também trabalha com audiovisual e literatura.
Além da música, a designer traçou carreira premiada no ramo editorial. Venceu o prêmio Jabuti duas vezes: em 2021, na categoria Projeto Gráfico, por O Médico e o Monstro, e em 2022, na categoria Capa, por 1984, ambos da editora Antofágica. Seu marido, o editor Daniel Lameira, fez a direção de arte de várias capas dela antes de montar a sua própria editora, a Seiva.
“Trabalhei muito tempo com livros, o que me ajudou a ter uma visão da leitura digital”, conta. As cores e tipografias chamativas, com pitadas de psicodelia, carregam influências de diferentes épocas e fontes, do rock aos gibis.
“Meu pai coleciona discos e trabalha com antiguidades, então a minha casa sempre foi esse amontoado de coisas velhas, o que, de alguma maneira, se reflete no meu trabalho”, diz.
Zines punks, capas de discos brasileiros, americanos e africanos, colagens em álbuns de rock, a revista de quadrinhos Chiclete com Banana e quadrinistas como Daniel Clowes e Chris Ware se misturam em sua mente criativa.
“Não me prendo naquilo que é feito hoje e valorizo várias épocas. Sinto que muitas coisas inovadoras foram esquecidas. É difícil achar que vou criar algo totalmente original a partir do zero; sou humilde para entender que posso usar tudo que já foi feito para construir algo mais legal ainda”, resume.
Publicado em VEJA São Paulo de 26 de abril de 2024, edição nº 2890