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De torneiro mecânico a enfermeiro, o antes e depois de drag queens

Projeto do fotógrafo Paulo Vitale retrata a dualidade das versões das pessoas, desmontadas e caracterizadas, e vai virar livro

Por Humberto Abdo
Atualizado em 7 abr 2021, 12h49 - Publicado em 2 abr 2021, 06h00

Mais de 40 drag queens paulistanas estrelam o ensaio Duo Drag, produzido na pandemia pelo fotógrafo Paulo Vitale e transformado em livro (sem previsão de lançamento). “A ideia surgiu quando um maquiador me mostrou suas fotos”, relembra. “Eu nunca tinha imaginado que ele fosse drag e fiquei encantado com a dualidade.”

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Para reforçar a impressão, Vitale posicionou lado a lado as duas versões dos retratos: com as pessoas descaracterizadas — “à paisana” — e montadas em drag. Além de veteranas como Marcia Pantera e Silvetty Montilla, também participam aquelas que encaram a arte drag apenas como hobby e trabalham em profissões “comuns” como professor e bancário. “O ensaio foi um ambiente seguro para elas, todas vinham, uma por vez, comemorando a chance de se montar de novo. Meu estúdio virou uma boate drag.” A seguir, confira algumas das participantes e os relatos colhidos pelo fotógrafo.

Lilian Ravani

drag queen Lilian Ravani
Lilian Ravani: drag foi criada com intuito de obter mais representatividade no universo do Carnaval (Paulo Vitale/Divulgação)

Natural de Miguel Calmon, no interior da Bahia, Salatiel Soares Carrascosa se mudou para São Paulo em 2007. O enfermeiro especialista em cardiologia exerce a profissão há dez anos na capital e, antes de se envolver na arte drag, encantou-se com o universo feminino. “Ainda criança, vi o saudoso Jorge Lafond (ator da personagem Vera Verão) na televisão transgredindo todos os modelos sociais e fiquei fascinado! Há dois anos nasceu Lilian Ravani, criada com o objetivo de naturalizar a presença de drag queens e outros membros da comunidade LGBTQIA+ no universo do Carnaval e no mundo das escolas de samba, onde minha drag teve a oportunidade de se tornar a primeira drag queen destaque de chão da Escola de Samba Vai-Vai.

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Smalayah

Smalayah (foto de capa) foi o nome que o bancário Junior Silva viu, ainda na adolescência, estampado em um muro. É completamente apaixonada pela arte drag, dedica horas de seus dias aperfeiçoando a maquiagem e criando novos penteados — e, por falar em penteado, Smalayah também é uma peruqueira de mão cheia, com penteados impecáveis, que são marca registrada de seu trabalho. Comediante, performer e cantora, ela faz sucesso com vídeos cômicos de dublagens nas plataformas digitais.

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XGah

XGah
XGah: drag nasceu de curiosidade de publicitário (Paulo Vitale/Divulgação)

Em 2019, o publicitário Laerte Ferreira decidiu se aventurar no mundo drag. “O que começou como uma curiosidade inocente hoje se tornou um dos meus hobbies favoritos. A persona da minha drag é uma garota discreta na vida social, mas que quando sobe num palco para dançar se solta e faz acontecer. Ela é divertida, verdadeira, simpática e luta contra a homofobia e o preconceito. Dos estilos de drag que existem, a XGah segue uma linha mais feminina, com looks ao estilo pop star, com maquiagens que qualquer mulher usaria no dia a dia e em festas noturnas.”

Hellena Borgys

Hellena Borgys
Hellena Borgys: criador da drag é dançarino profissional (Paulo Vitale/Divulgação)

Hellena foi criada por Uátila Coutinho, bailarino profissional que dançou pelas maiores companhias do país, como a São Paulo Cia. de Dança, o Grupo Corpo e a de Deborah Colker. Atualmente é bailarino do Balé da Cidade de São Paulo e trabalha com maquiagem artística e corporal. “Criei a Hellena Borgys porque gosto desse conflito do masculino com o feminino. E gosto da coisa lúdica e imaginária, que me traz muitas memórias da infância.”

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Lysa Bombom

Lysa Bombom
Lysa Bombom: drag sofreu com críticas da família (Paulo Vitale/Divulgação)

Antes de criar Lysa, Alexsander Vaz do Nascimento trabalhava como torneiro mecânico e morava com os pais. “Em 1994, vi na televisão um programa da Hebe Camargo com drags. Em uma nova casa noturna na Penha fui chamado para trabalhar no caixa e, após tomar coragem para ir montada, virei hostess na portaria. Tinha o problema da minha família: minha mãe soube e ficou chateada, minhas irmãs também não aceitaram e perdi muito o contato com elas, mesmo morando juntos. Na primeira aparição na TV usaram meu nome completo de rapaz na chamada do programa. Quando cheguei, minha mãe estava chorando e tinha colocado todas as minhas coisas em cima da minha cama. O bairro todo comentava. Resolvi sair de casa sem nada, só com a roupa do corpo e o dinheiro da carteira. O desligamento foi muito duro, mas hoje trabalho em São Paulo fazendo shows e em um meio de que gosto.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 07 de abril de 2021, edição nº 2732

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