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Exposição contará a história do circo no Largo do Paissandu

São mais de 160 fotos e figurinos, que pertencem ao Centro de Memória do Circo, ligado ao Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura

Por Felipe Zylbersztajn
Atualizado em 1 jun 2017, 17h56 - Publicado em 7 dez 2012, 18h31

Na sobreloja da Galeria Olido, na esquina da Rua Dom José de Barros com a Avenida São João, há um arquivo curioso. Ele inclui desde falsas caixas de fotografia de lambe-lambe, que“explodem” ao aperto de um botão, até bengalas de couro de elefante indiano albino, passando por monociclos e ternos coloridos cravejados de brilhantes. Tudo pertence ao Centro de Memória do Circo, ligado ao Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura, aberto em 2009 com sobras das companhias Nerino (1913-1964) e Garcia(1928-2003), duas das mais longevas do Brasil. Nos últimos três anos, esse acervo permaneceu estocado, mas a doação de mais objetos em 2012 possibilitou a montagem da exposição permanente Hoje Tem Espetáculo!, que estreia nesta terça (11) em um espaço com 800 metros quadrados no mesmo endereço.

Circo
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São mais de 160 fotos, além de artigos, testemunhos e figurinos que contam a história da atividade.“A mostra é um desejo de muitas gerações”, diz Verônica Tamaoki, coordenadora e responsável pela curadoria, enquanto olha para o Largo do Paissandu pela janela de seu escritório. Trata-se do mais tradicional ponto de encontro do circo em São Paulo. O primeiro registro de que se tem notícia revela que o Irmãos Carlo armou sua lona em1887 naquela área. Desde então, a região recebeu inúmeras companhias. “O auge foi na década de 20, quando o Circo Alcebíades, tendo o palhaço Piolin como chamariz, ficou ali em frente de 1925 a 1929”, conta Verônica. Ela se refere ao terreno onde, décadas depois, seria construído o prédio do Cine Paissandu, hoje desativado. “Foi uma temporada em que Piolin conquistou a cidade. O presidente Washington Luís e modernistas como os escritores Oswald de Andrade e Mário de Andrade eram frequentadores.”

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O Largo do Paissandu deixou de receber os espetáculos em 1934, mas continuou como centro nervoso da comunidade por muito tempo. Até os anos 90, abrigava o Café dos Artistas. Apesar do nome de estabelecimento comercial, tratava-se de uma reunião informal na calçada às segundas-feiras, dia de folgada categoria. “Muitas famílias de artistas que trabalhavam em espetáculos diferentes encontravam-se ali para matar a saudade”, diz Hugo Possolo, fundador do grupo Parlapatões. Em uma época sem celular nem internet, o lugar se tornou também um balcão de empregos.“Os donos dos shows iam ao Largo para contratar. É de extrema importância que o Centro de Memória seja ali”, acredita a proprietária do Circo Spacial, Marlene Querubim.

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A exposição contemplará um novo Café dos Artistas, agora oficial, que pretende retomar a tradição das reuniões no Paissandu. “Acredito queo ponto resgatará isso de maneira diferente: o artista tradicional irá em busca de ter sua história reconhecida, enquanto os jovens terão um local de troca de ideias e de fonte de informação para futuros trabalhos”, afirma Possolo.

Ao custo de 400.000 reais, a mostra contará com três espaços básicos, além da área de convivência. No térreo, oito segmentos terão módulos próprios: equilibrismo, malabarismo, aéreos, acrobacia, ilusionismo, teatralidade, animais e música. Na sobreloja, estrelas como os palhaços Piolin, Arrelia, Fuzarca e Torresmo, o mágicoTihany e o empresário Antolin Garcia serão homenageados com fotos, áudio e vídeo. Nas paredes, uma detalhada linha do tempo mostrará a história da atividade por aqui desde 1831. Outra atração é a miniatura de um circo produzida por Mestre Maranhão — célebre artesão que fabricou equipamentos para diversas companhias ao longo de décadas e morreu no último sábado (1º).

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“A arquitetura, os cenários e a gastronomia estarão representados numa maquete de 13 metros, que deve chamar a atenção das crianças”, descreve Verônica. Além disso, a produção prevê uma agenda de palestras e debates com nomes como Franco Alves Monteiro,de 73 anos, o palhaço Xuxu, que visita o Centro regularmente e está ansioso com a estreia da exposição. Em um dos encontros recentes com Verônica, ele abriu o casaco e sacou algumas fotos antigas de um bolso. “Você já tem esta aqui? Sou eu com o Piolin!”, disse, oferecendo uma imagem produzida em uma impressora caseira, em papel comum.“Um dos nos sos grandes trunfos foi ter conseguido reunir novamente a comunidade circense”, comemora Verônica. “Os veteranos foram massacrados pela modernidade, mas não se entregaram.”

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