De Belém a Santarém, um roteiro especial pelo Pará
Repleto de natureza, cultura e gastronomia, estado tem várias opções para turistas
Segundo maior estado do Brasil — só perde para o vizinho, Amazonas —, o Pará é um exuberante destino turístico ainda pouco explorado. Banhado pelo Oceano Atlântico e por rios caudalosos, o local oferece uma infinidade de passeios naturais, rurais e culturais.
De um banho gelado no igarapé de Alter do Chão, em Santarém, a um passeio de búfalo na Ilha de Marajó, é possível experimentar comidas exóticas, como o caldo de turu (um molusco que cresce nos troncos dos manguezais) e o famoso tacacá.
A porta de entrada para um bom roteiro pode ser a capital, Belém, para onde partem voos diários de Guarulhos. A cidade passa por diversas obras urbanísticas e no ramo hoteleiro para abrigar a COP30, a conferência mundial sobre mudanças climáticas, em novembro de 2025.
Fundada em 1616, Belém possui um grande conjunto histórico e arquitetônico, além de ser palco de um dos maiores eventos religiosos do mundo, o Círio de Nazaré, em outubro.
Outro patrimônio local é o mercado Ver-oPeso, às margens do Rio Guamá. É por ele que chegam os barcos com o açaí e o peixe que são comercializados no espaço. O local é dividido em setores como artesanato, frutas, farinhas, castanhas, ervas, entre outros, que formam um conjunto fantástico de aromas e cores.
Também merecem ser visitados o parque Mangal das Garças, o Theatro da Paz e o Museu de Arte Sacra, com suas coleções de santos, como o São José de Botas. Nos dois espaços há visitação guiada, agendada com antecedência.
A reportagem de Vejinha passou nove dias no Pará, em meados de julho, em um roteiro que incluiu, além de Belém, Santarém e Ilha de Marajó, destinos como Bragança, a terra da farinha de mandioca, e Salinópolis. Em Salinas, como os paraenses chamam a cidade, os banhistas vão à praia de carro e os estacionam na faixa de areia, quase na beira da água. Não raro, a maré sobe com rapidez e deixa os desavisados a pé e no prejuízo.
Em Santarém, o voo que saiu da capital levou cerca de uma hora para pousar na cidade. A primeira parada foi a orla, mais especificamente a Feira do Pescado. Dali, por 5 reais, um dos garotos do pedaço atira no Rio Tapajós um peixe amarrado a uma corda. Em poucos segundos o primeiro boto-cinza dá as caras. A cada jogada de peixe, mais 5 reais e muitos botos mais, além de aves à espera de uma sobra.
A próxima parada foi Alter do Chão, o “Caribe amazônico”. Com ilhas de areias branquinhas, o lugar é um dos mais badalados do Pará. O ponto alto é a experiência de tomar banho no Tapajós, seja em locais estruturados para turistas, como a Ilha do Amor, seja durante passeios de barco (que custam a partir de 100 reais por pessoa).
Outra opção é a Floresta Encantada, uma imersão por áreas alagadiças de igapós e igarapés que são percorridas a bordo de pequenas canoas.
De volta a Belém, a parada seguinte foi a Ilha de Marajó; na verdade, é um arquipélago com dezessete municípios. Em Soure, o quarto maior, os búfalos estão presentes em todos os lugares. Da patrulha da polícia ao passeio na praia, o animal é o “cachorro caramelo” da região.
Na fazenda Mironga, Carlos Augusto Guedes, o seu Tonga, transformou a propriedade em uma experiência imersiva ao redor desses animais. Dá para montar em alguns, tirar leite e degustar os produtos feitos ali mesmo, como a manteiga, o queijo e a carne. “Minha vida está aqui. Queremos criar um centro de estudos, pois a região, que conta com 600 000 búfalos, vive em torno deles”, diz. A Amazônia é surpreendente.
Pôr do sol encantado
Cercada pelo Rio Tapajós, a vila de Alter do Chão, em Santarém, é formada por inúmeras ilhas e cercada pela vegetação amazônica. Entre agosto e dezembro, no período de seca, as faixas de areia ficam mais extensas. Com restaurantes, bares, hotéis e pousadas, a vila é uma das mais badaladas do estado. Nos diversos passeios de barco, há rotas para o dia todo ou por poucas horas. A dica é procurar com antecedência e negociar com os vários barqueiros que oferecem o serviço no Centro.
A farinha famosa de Bragança
Aos 77 anos, Benedito Batista, o seu Bené, está inaugurando sua maior aposta de vida: uma casa de farinha, novinha em folha. O local fica em Bragança, a pouco mais de 200 quilômetros da capital, e vai aumentar em dez vezes a produção de sua farinha de mandioca, famosa na região. “Hoje dou consultoria para empresas dentro e fora do Brasil”, diz Bené.
Tacacá
Famoso pelo tacacá que serve no Point do Açaí, Nazareno Alves ensina os turistas de primeira viagem a experimentar o prato, composto de tucupi, jambu, goma de tapioca e camarão seco. Próximo dali, no Mangal das Garças, o almoço para as aves é servido às 11h30. Quando o horário se aproxima, elas começam a aparecer e formam um sonoro ritual de alimentação, para alegria da criançada (e dos adultos, claro).
O repórter Sérgio Quintella viajou a convite do governo do Pará.
Publicado em VEJA São Paulo de 30 de agosto de 2024, edição nº2908