Os segredos da Liberdade
Reunimos um pouco da história, os lugares mais curiosos e os restaurantes mais gostosos (e escondidos) do bairro oriental
Percorremos a região da Liberdade — rica em cultura e tradições orientais — em busca de histórias, curiosidades, dicas de comida, bebida, além de fatos inusitados (e pouco conhecidos) sobre o bairro.
Para quem aprecia a gastronomia há, por exemplo, sugestões de onde encontrar lamen trazido direto do japão ou saquês supervaliosos. Os especialistas no bairro garantem: a Liberdade não é o lugar ideal de São Paulo para se provar sushis e sashimis. Seu forte são os pratos quentes, que são ainda mais comuns no Japão, na China ou na Coreia.
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Explore o roteiro:
■ Saquê para todos os gostos e bolsos
A bebida fermentada japonesa pode ser encontrada com grande variedade — e quantidade — na região. Na Rua Galvão Bueno, a Adega de Sake comercializa 115 diferentes rótulos do produto. O mais caro deles, de R$ 741,00 (720 mililitros), tem apenas três unidades por aqui. Elas foram produzidas para o lote específico de uma competição nacional de saquês, realizada todos os anos no Japão — e na qual foi coroado com medalha de ouro. Outra opção, o Kazu Sake Emporium, na Rua Tomás Gonzaga, vende 100 tipos de saquês, mais shochus (a cachaça japonesa) e uísques japoneses. Quem quiser experimentar um Hibiki 21 Anos desembolsa R$ 1.025,00 pela garrafa de 700 mililitros.
■ Assombrações na Capela dos Aflitos
A pequena construção localiza ao final da Rua dos Aflitos faz parte do roteiro de lugares mal-assombrados da cidade. O motivo é que antigamente, na área onde ela foi construída, eram enterrados criminosos, escravos doentes e indigentes. O cemitério foi desativado em meados dos século XIX. A lenda urbana diz, no entanto, que muitos dos corpos continuam enterrados sob aquela região e que, por isso, vez ou outra, moradores e pessoas que trabalham por ali relatam vultos e barulhos estranhos.
■ Livraria nipônica
Difícil conceber que um estabelecimento comercial em São Paulo seja capaz de existir há 35 anos vendendo apenas livros e revistas em japonês. Pois é exatamente isso que acontece com a Livraria Fonomag, garante o proprietário Joji Aso. “Temos um acervo de cerca de 10.000 publicações.” Segundo ele, demora por volta de três meses até que um material lançado no Japão chegue à sua loja, localizada no número 242 da Rua da Glória. Mas isso não deixa os produtos muito mais caros — obras de literatura custam, em média, R$ 30,00, enquanto os mangás valem em torno de R$ 25,00.
■ Para lutar kung fu (ou jogar xadrez japonês)
Na AGS é possível adquirir armas chinesas, japonesas, calçados, flâmulas e equipamentos para a prática de kung fu. Mesmo que você não pratique, vale a pena visitar a loja que oferece belas espadas e facões importados da China, além de carvões para fazer tinta e tabuleiros de xadrez chinês. Fica na Rua Galvão Bueno, 482.
■ Largo da Forca
Claro que a simpática feirinha que ocorre aos fins de semana na Praça da Liberdade não é segredo para ninguém. Mas seu passado, talvez, não seja dos mais conhecidos. Se hoje a praça dá espaço para apresentações típicas, venda de artesanatos e quitutes da culinária oriental, até o início do século XIX o local sediava sessões públicas de enforcamento de criminosos. O local mudou de nome em 1858, dezoito anos antes da abolição da pena de morte no Brasil.
■ Botecos japoneses para um happy hour
Izakaya, em japonês, seria o nosso boteco, lugar ideal para encontrar os amigos, tomar uns drinques e petiscar umas porções. Portanto, não espere um ambiente aconchegante, romântico ou familiar. Kabura, Kintarô e, o mais famoso deles, Izakaya Issa, se encaixam nessa definição, sem deixar a clientela desapontada com o serviço. O menorzinho deles, Kintarô, oferece porções de peixe marinado agridoce, bardana (raiz de broto de bambu com vinagrete) e tofu com acelga chinesa, entre outras delícias, preparados por Líria Higuchi, que há 20 anos cuida do estabelecimento, agora com o seu filho, Taka, lutador de sumô.
■ Comida para lutadores de sumô
Se você quer provar o alimento que sustenta um lutador de sumô, Bueno é o lugar. O chankonabe, uma espécie de cozido com bastante proteína, feito de carne, vegetais e legumes, é o prato principal da casa de Fernando Kuroda, ex-sumotori no Japão. A novidade é que o Bueno na forma original (R. Galvão Bueno, 458) vai encerrar suas atividades ali para reabrir em janeiro onde atualmente funciona o mini karaokê (com músicas apenas em inglês e japonês) do mesmo dono, na Rua Fagundes, 220.
■ Tenda da leitura da vida
Hiroji Ito chegou de Fukoshima em 1982. Desde então exerce o seu poder de mago japonês: faz “leitura da vida” de quem sentar a sua frente. Isso significa que ele é capaz de fazer previsões a respeito da profissão e do coração (o real e o simbólico). Por R$ 20,00, o japonÊs, de 78 anos, lê o futuro nos números da data de nascimento, nas palmas das mãos e por meio do formato do rosto. “É mais fácil ler pela data que a pessoa nasceu, porque isso não muda”, diz ele. “As mãos e o rosto mudam com o tempo. Às vezes, tenho que ler rostos muito gordos, complica.” Pede-se que no dia da consulta, realizada na porta de uma galeria (R. Galvão Bueno, 358), o(a) interessado(a) se apresente sem esmalte nas unhas.
■ Lamen direto do Japão
O Lamen Kazu, na Rua Tomás Gonzaga, tem como protagonista do menu o macarrão tipicamente japonês — de fato, todas as massas vendidas ali são importadas da província de Chiba, no centro-leste do Japão. Também vêm de lá os caldos (chamados de “missô”), algas, temperos e condimentos; apenas carnes e legumes mais frescos são comprados aqui no Brasil. Repare na cozinha, que pode ser vista do salão: muitos dos utensílios e equipamentos (alguns deles poucos comuns no Brasil) também foram importados da terra do sol nascente.
■ Para pedir a proteção de Buda
Os mais belos oratórios para a prática do budismo se encontram na casa Daibutsudo do Brasil. Há desde os mais simples, de madeira lisa e sem adornos, por R$ 430,00, até os maiores e mais rebuscados, por R$ 6.200,00 (foto acima). A fábrica fica no fundo da loja e é conduzida por Toshikazu Yazawa, de 70 anos, há 30. A loja está na Rua Galvão Bueno, 331.