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Maior evento de decoração do país, CASACOR ocupa o Conjunto Nacional

Mezanino do edifício histórico, abandonado há uma década, é o novo endereço da feira que chega à sua 35ª edição a partir de 5 de julho

Por Pedro Carvalho
1 jul 2022, 06h00

Alguma coisa acontece no coração de quem vive em São Paulo quando cruza a Avenida Paulista e a Rua Augusta. Ali, todo mundo já passeou pelo térreo do Conjunto Nacional, o genial edifício do arquiteto David Libeskind construído nos anos 1950.

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Com lojas, livrarias, cinema e o Teatro Eva Herz no térreo, o prédio escondia um triste desperdício: o mezanino de mais de 10 000 metros quadrados, acessível por uma rampa em curva, estava abandonado havia uma década. Não mais. A partir do dia 5 de julho, a área será ocupada pela 35ª edição da CASACOR, o maior evento de decoração do país.

Serão 59 ambientes decorados, além de lojas, restaurantes, praças, exposições e uma réplica do charmoso Bar Caracol. “O Conjunto Nacional é uma reflexão sobre a forma de morar. Mistura residência, comércio, lazer e serviço — como manda o novo urbanismo”, diz Livia Pedreira, diretora da CASACOR. “Aos 35 anos, o evento ficou mais acessível e diverso”, ela avalia.

Uma edição imperdível, como você vê nas próximas páginas, com alguns dos destaques da mostra. CASACOR 2022. Conjunto Nacional. Avenida Paulista, 2073. Ter. a sáb., das 12h às 22h. Dom. e feriados, das 11h às 21h. R$ 40,00 (meia-entrada de terça a sexta) a R$ 100,00 (inteira no fim de semana). → De 5/7 a 11/9. https://casacor.byinti.com

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O paraíso das cores

Sig Bergamin, 67, é um decorador sem medo. Mistura cores com o ímpeto de uma criança brincalhona — somado, claro, à experiência de quem assinou dezenas de projetos em São Paulo, Nova York e Paris. “Fiz um lounge divertido, pop e chique”, ele diz sobre o ambiente de 80 metros quadrados que montou na CASACOR 2022.

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Imagem mostra homem sentado em sala colorida, com chão de mármore, poltronas, quadros e um vaso grande ao centro.
Bergamin: ousadia nos projetos e agenda cheia na pandemia. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

“Fazer o ‘papai e mamãe’ é fácil. Minha praia é outra: misturar, ousar, ser irreverente. Mas é preciso saber misturar: não pode ofender os olhos”, ensina. Nascido em Mirassol, Sig morou próximo do Conjunto Nacional (onde acontece a edição atual da CASACOR) durante a faculdade, no prédio conhecido como Treme-Treme da Paulista.

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Quando soube que o evento seria na região, fez questão de participar. “Aqui é democrático, diverso. A Paulista é nossa ‘Quinta Avenida’”, diz. A alta demanda por reformas residenciais na pandemia deixou a agenda de Sig ocupadíssima nos últimos anos — ele decorou inúmeras mansões em condomínios próximos da capital. Agora, quer desacelerar. “Eu pensava em me aposentar. Não deu. Mas vou passar a trabalhar alguns dias da semana remotamente no interior”, conta. “A gente sempre volta às origens…”, ele brinca.

A mágica do conforto

A arquiteta de interiores Marina Linhares é conhecida por combinar, em perfeita alquimia, elegância com conforto. Na CASACOR 2022, não foge à escrita e apresenta um living chique e acolhedor. “É um lugar para receber pessoas, tomar um drinque, ler um livro… Tudo o que eu gosto de fazer”, diz. Para aproveitar a vista — e a luz natural — da Avenida Paulista, ela abriu a “parede” de trás do espaço. “Ficou tão bom que não tive coragem de pôr cortina”, conta.

Imagem mostra mulher de roupa branca sentada em sala colorida, em tons pastéis, com diversos sofás e uma janela grande ao fundo
Marina Linhares. (Alexandre Battibugli/Veja SP)
Imagem mostra escultura de metal
Escultura de Lucas Simões: acolhimento (Alexandre Battibugli/Veja SP)

SP abraça o nordeste

Após participar de vinte edições da CASACOR BAHIA, o arquiteto sergipano Wesley Lemos, 43, finalmente estreia na edição paulistana do evento. Dono de uma bem-sucedida carreira na Bahia e em Sergipe, onde possui escritório há 23 anos, Lemos mudou-se para São Paulo durante a pandemia.

“Fiquei muito animado ao saber que a CASACOR seria na Avenida Paulista. Para mim, essa região é um símbolo da São Paulo inclusiva, que abraça os nordestinos”, ele diz. Inspirado por essa ideia, Lemos criou um ambiente de 37 metros quadrados que celebra o amor, a inclusão — e o próprio “abraço”.

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Imagem mostra homem de calça jeans e suéter vermelho sentado em poltrona de couro marrom.
Lemos e a cadeira de Percival Lafer: estreia na capital. (Leo Martins/Veja SP)

“Trouxe uma poltrona do (arquiteto e designer) Percival Lafer (na foto ao lado) que literalmente abraça o corpo”, ele explica. Além dela, os visitantes encontram uma cadeira de Zanini de Zanine e uma série de obras de arte de galerias próximas ao Edifício Copan, onde Lemos mantém um ateliê. “É um coletivo onde fazemos projetos de forma artesanal”, diz.

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Garimpos brasileiros

O arquiteto de interiores Gabriel Fernandes, 28, viaja pelo Brasil para pesquisar casas, objetos e formas de morar nas diferentes regiões do país. Parte dos achados está no ambiente que montou na CASACOR, da qual participa pela primeira vez. “Minha essência é a ‘casa brasileira’”, diz.

Imagem mostra pessoa com roupas bege sentada em poltrona, em ambiente também bege e amarelo
Gabriel Fernandes. (Leo Martins/Veja SP)

O espaço tem preciosidades como cerâmicas da comunidade Maria do Barro, em Brasília, panelas indígenas do Xingu e baús coloniais de jacarandá garimpados em antiquários da Bahia. “A maioria dos utensílios, tecidos e tingimentos é feita a mão e de forma artesanal”, conta.

Nascido na Praia Grande, no Litoral Sul, Gabriel mantém ali um escritório que faz projetos para a capital, o Rio de Janeiro e outras metrópoles. “Há um preconceito contra a Praia Grande, mas tenho orgulho da cidade. Quero trabalhar no mundo, mas sem me mudar de lá”, diz.

Imagem mostra panela marrom e preta
Uma panela do Xingu: pesquisas pelo país. (Leo Martins/Veja SP)

Tributo a um mestre

“Já não me lembrava de vários desses desenhos”, diz Attilio Baschera, 89, ao vê-los emoldurados na parede (foto abaixo). “A gente faz tanta coisa em mais de cinquenta anos (de carreira)…”, ele explica. Ícone do design de interiores no país, Baschera recebe uma homenagem na CASACOR 2022: um ambiente de 270 metros quadrados inspirado em sua vida e obra, assinado pelo arquiteto catarinense Marcelo Salum.

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Imagem mostra homem idoso sentado em cadeira, em frente a escrivaninha, em ambiente com parede azul repleta de quadros
Attilio Baschera, 89. (Leo Martins/Veja SP)

Os desenhos foram garimpados no apartamento do artista, em Higienópolis. “Estavam juntando pó em malas e armários”, conta Salum. Pioneiro no ofício de diretor de arte (ocupou o cargo na Editora Abril, da Vejinha), Baschera criou a Larmod, uma lendária loja de decoração em Higienópolis. Famoso pelas estampas de abacaxi e outros motivos brasileiros, o lugar se tornou um ponto de encontro de artistas, fotógrafos e intelectuais nos anos 70 e 80.

Duas imagens. À esquerda, dois homens sentados em um sofá. À direita, um bloco de revistas em um móvel
Salum e Baschera; ao lado, o artista e Kramer na Vejinha, em 2006. (Leo Martins/Veja SP)

Até 2019, Baschera desenhava diariamente. Parou após a morte do companheiro, o designer argentino Gregório Kramer. Juntos, eles tinham fundado a Larmod e formado o primeiro casal gay de destaque na alta-roda paulistana. Animado com o tributo, o artista ensaia uma retomada. “Ele voltou a desenhar aos poucos. Vamos tentar fazer uma coleção nova com quadros, vasos e estampas”, diz Mariana Silvarolli, que fez a pesquisa para o ambiente.

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Chique é a diversidade

Nascida em Mato Grosso, a arquiteta Karol Suguikawa é também designer de produtos e trouxe à CASACOR diversas peças desenhadas por ela própria, como a Cadeira Vértice e os Bancos Teta (abaixo). Os itens fizeram sucesso em mostras de arte e ajudaram a projetá-la no mercado.

Imagem mostra mulher sentada em poltrona de pedra.
Karol: luta pela inclusão. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Hoje, Karol é pesquisadora de tendências na conceituada marca Breton (do sofá da foto). Mas, na primeira vez que tentou a vida em São Paulo, sete anos atrás, não conseguiu se manter na cidade. “Se é difícil achar bons cargos para mulheres, imagine para mulheres trans”, diz. “Hoje, consegui furar essa bolha. Mas minha luta é para abrir mercado para outras.”

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Recordista da CASACOR

O arquiteto paulistano Leo Shehtman, 63, participou de 34 das 35 edições anuais da CASACOR — esteve fora apenas da primeira, em 1986. É um recorde. “Antigamente éramos poucos profissionais, havia uma disputa de egos maior. Hoje, o segmento da arquitetura de interiores é muito mais profissionalizado — e a CASACOR foi importantíssima nesse processo”, ele diz. Nessa longa trajetória, Shehtman se destacou por criar espaços totalmente diferentes a cada edição do evento, muitas vezes com a marca da irreverência.

Imagem mostra homem grisalho sentado em mesa de xadrez listrada, branca e preta.
Shehtman: 34 participações na mostra. (Leo Martins/Veja SP)

É o autor de ambientes icônicos, como a “casa-bolha” (na CASACOR de 2007) e a residência montada em um vagão de trem (em 2016). Em 2022, apostou em uma proposta minimalista. “Valorizei as pedras brasileiras (na foto ao lado, está sentado a uma mesa da loja Mula Preta em frente a um mármore de Vitória, no Espírito Santo)”, ele diz. “Quis fugir de tudo que já tinha feito.”

Imagem mostra sala branca e preta com carpete circular e poltrona branca
O ambiente assinado por Leo Shehtman. (Leo Martins/Veja SP)

A decoração é pop

Com quase 1 milhão de seguidores no Instagram, o arquiteto Mauricio Arruda, 49, é o mais popular participante da CASACOR 2022. Ficou conhecido após apresentar o programa Decora, da GNT, entre 2016 e 2020. Aproveitou a fama e, além de um concorrido escritório de decoração, tem agora uma equipe que cria conteúdos sobre design para clientes como a Tok&Stok, Coral e Itaú.

Imagem mostra ambiente de sala de jantar com dois homens, um sentado e outro em pé; o piso é retangular e a mesa tem cadeiras azuis
Arruda e Mota: projetos e conteúdos para marcas. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Sem planos de voltar à TV, dedica-se totalmente a esses projetos junto com o sócio Fábio Mota, 45 (acima). Nesta edição da CASACOR, eles apresentam uma casa acolhedora e bem brasileira. “Todos os itens são nacionais”, diz Arruda. Repleto de plantas e luz natural, o ambiente traz um conjunto de obras de arte inspirado na diversidade. “A curadoria se baseou em artistas negros, trans e mulheres”, explica.

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Da mostra para o Jd. Colombo

A casa onde mora a profissional da construção civil Daniela de Jesus, no Jardim Colombo (comunidade vizinha a Paraisópolis, na Zona Sul), foi toda reformada com revestimentos, esquadrias e utensílios que “sobraram” da CASACOR do ano passado. “Além disso, recebemos muitos materiais que foram distribuídos em um bazar gratuito para os moradores do bairro, onde o número de casas precárias é enorme”, diz a arquiteta Ester Carro, 27, nascida e criada no Jardim Colombo.

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Ester coordena o Fazendinhando, uma iniciativa que já qualificou 84 mulheres para a área da construção civil e reformou mais de quarenta ambientes e cinco casas inteiras na comunidade. O projeto surgiu em 2017, após transformar um lixão do bairro em área verde. A reforma na casa de Daniela (ao lado) foi feita por uma das mulheres formadas no Fazendinhando. “Foi uma baita experiência para ela”, conta Ester.

Imagem mostra diversos vasos de plantas no chão de cozinha com paredes com azulejos beges.
A casa de Daniela: reformada com materiais do evento. (Kamilla Bianca/Divulgação)

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Publicado em VEJA São Paulo de 6 de julho de 2022, edição nº 2796

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