Cinco boas comédias em cartaz na cidade
Os atores Alexandre Nero e Pedro Cardoso estão entre os que desfilam humor e ironia pelos palcos paulistanos
Escrita em 1977, a primeira peça do cineasta inglês Mike Leigh montada no Brasil mostra um encontro de vizinhos. Beverly e Lawrence recebem um casal e Susan, a mãe da adolescente Abigaiu — que aproveita a casa vazia para dar uma festa. A rodada de drinques vira um embate revelador da moral de cada um. Ácidos e melancólicos, os diálogos oferecem oportunidades ímpares ao elenco. Com ousadia, o diretor Mauro Baptista Vedia explora diferentes registros de interpretação. Enquanto um ator adota o tom de paródia, outro é caricato ou dramático. O que poderia tirar a unidade resulta no melhor da comédia. Com Ana Andreatta, Eduardo Estrela, Ester Laccava, Fernanda Couto e Kiko Vianello. Estreou em 03/08/2007. Até 27 de novembro.
Quem espera ver uma peça, digamos, mais certinha pode se frustrar. Ao menos por enquanto, Alexandre Nero revela-se disposto a usar o bom momento da carreira para atrair o público a experiências menos convencionais no palco. Foi dele a ideia da comédia O Grande Sucesso, escrita e dirigida por Diego Fortes, de Curitiba. Da cidade em que Nero nasceu e construiu carreira como ator e músico antes de virar galã global vem ainda parte da ficha técnica, incluindo cinco dos oito atores. Ao longo da narrativa, pontuada por canções, os espectadores acompanham a coxia de uma peça, na qual atores secundários esperam sua vez de entrar. Despidos de seus insignificantes papéis, numa espécie de limbo, eles cantam, dançam e filosofam sobre sucesso, fracasso e outras questões existenciais. Partem do personagem de Nero, o mais entediado, as maiores ironias, que são como metáforas que vão muito além dos bastidores teatrais. Mas ele não é a estrela do show: leve, melancólica e colorida (figurinos e cenário são atrações à parte), a peça dá a cada integrante seu momento de brilhar. Estreou em 12/8/2016. Até 16 de outubro.
Esqueça, por favor, o personagem Agostinho Carrara, do finado seriado A Grande Família,que, durante mais de uma década, limitou a imagem do ator Pedro Cardoso. Quem surge na comédia O Homem Primitivo é o intérprete e roteirista inteligente que transitava por vários papéis nos programas A Comédia da Vida Privada e Vida ao Vivo Show, na segunda metade dos anos 90, e parecia aposentado. Escrita, protagonizada e dirigida por Cardoso e Graziella Moretto, a montagem voltou ao cartaz depois de uma rápida passagem pela cidade no ano passado e segue a linha daquelas atrações televisivas, com textos ágeis e carregados de referências. No palco, duas histórias se multiplicam e, por fim, se cruzam. Em uma delas, uma atriz vai até a delegacia denunciar que foi estuprada durante a realização de uma filmagem; em outra, um casal se defronta com a demissão da empregada e precisa adiar o projeto de um filho. A decisão da funcionária se justifica inicialmente porque ela apanhou do marido e teme que os próprios rebentos caiam na marginalidade. Fique tranquilo que, apesar da discussão social e dos temas pesados, tudo é tratado em clima de paródia e crítica ao machismo enraizado na sociedade. Cardoso e Graziella dispensam caracterizações convencionais, como troca de figurinos ou recursos de maquiagem. A dupla envolve a plateia em um inteligente quebra-cabeça que propõe uma nova leitura da valorização do papel feminino decorrente da conscientização masculina. Até 28 de agosto.
Escrita pelo dramaturgo americano Jeff Gould, a comédia traz assuntos de fazem parte do cotidiano de grande parte dos mortais. Amizade, amor, bebida e sexo, não necessariamente nessa ordem, motivam os personagens da montagem dirigida por Isser Korik e, inevitavelmente, geram identificação na plateia. No palco, três casais de amigos marcam um jantar, como tantos outros que já fizeram, para tomar uns drinques e bater papo. Só que todo mundo está bem à flor da pele e, naquele dia, nada pareceu dar certo. Ricardo Tozzi interpreta um executivo flagrado numa traição, poucas horas antes, pela sua mulher (personagem de Guta Ruiz). Tania Khalill é uma massagista resistente aos avanços do marido insaciável (vivido por Alex Gruli). Por fim, Natallia Rodrigues representa uma advogada controladora casada com um profissional da informática (papel de Pedro Henrique Moutinho), tenso e irritado com a parceira. O álcool começa a subir para a cabeça e, de repente, um deles sugere uma troca de casais. O texto caminha para uma interessante leitura dos relacionamentos e transforma a questão sexual em uma mera virada dramática para fortalecer o conflito. Duas atrizes – Guta Ruiz e Natallia Rodrigues – se sobressaem no time, que se mostra à vontade e só derrapa nos momentos em que busca o riso fácil. Como um bom programa, a peça revela um retrato leve e divertido da vida a dois nos dias atuais. Até 25 de setembro.
Sucesso há 30 anos, a comédia de Marcos Caruso é baseada na suspeita de adultérios múltiplos. Uma empregada (papel de Anastácia Custódio) envolve seus patrões e dois casais em confusões. Com Ivan de Almeida, Carla Pagani, Tânia Casttello, Miguel Bretas e outros. Estreou em 24/8/1989. Até 28 de agosto.