“As pessoas não aceitam um homem magro com uma mulher gorda”
Camila Monteiro e Carlos Rebolo agora esperam gêmeos
“Luto contra meu peso desde que eu tinha 11 anos. Já tomei remédios inibidores de apetite e fiz todas as dietas malucas que você possa imaginar. Por duas vezes, perdi e ganhei 50 quilos. Publicava minha alimentação no Instagram (@camilamonteiro), mas, quando engordava, eu sumia da internet. No ápice do meu desespero, desejei ter câncer ou anorexia só para emagrecer (e encontrei outras mulheres que pensavam os mesmos absurdos). Quando eu tentava me aceitar, recebia uma enxurrada de comentários dizendo que meu corpo era errado. Eu tive depressão, pensamentos suicidas, sentia culpa de comer na frente dos outros. Não conseguia fazer tarefas simples, como passar na catraca do ônibus ou afivelar o cinto no avião.
No auge dos meus 150 quilos, fiz acompanhamento com psicólogo e psiquiatra e descobri que tinha transtorno de stress pós-traumático e compulsão alimentar. Entendi que não era falta de vontade de mudar — como as pessoas me falavam —, mas que eu estava doente. Tratei a raiz do problema e, de maneira saudável, emagreci 90 quilos em três anos.
Durante esse processo conheci Carlos pelo Tinder. Eu procurava um relacionamento sério, mas apenas encontrava machistas e gordofóbicos no aplicativo. Lia biografias que diziam ‘não aceito gordas’ ou ‘não adianta só colocar foto de rosto se você for enorme’. Eu não gostava muito de sair, como conheceria pessoas assim? Lembro que orei a Deus e disse que, se eu não encontrasse alguém legal naquela mesma noite, iria desinstalar o app do meu celular. Por volta da meia-noite, Carlos apareceu. Ele também era caseiro e gostava de música instrumental. De primeira, não tive coragem de encontrá-lo. Fui sincera e disse que queria emagrecer antes. Ainda pesava 120 quilos e achava que seria impossível alguém me querer assim. Além disso, estava machucada do meu último relacionamento. Meu ex-namorado me traía e falava mal do meu corpo pelas minhas costas. Eu estava tão acostumada a ser maltratada, e Carlos era um cara tão gentil, que fiquei desconfiada. Marquei nosso primeiro encontro em um shopping. Eu conhecia o mapa do local e escolhi uma entrada que me fizesse chegar pelas costas dele. Queria ver sua reação quando me visse pela primeira vez. Assim que ele se virou, percebi que gostou de mim.
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Durante um tempo, ele me pediu em namoro diversas vezes. Eu dizia que não estava pronta, mas só não aceitava porque ainda tinha medo de me magoar. Só consegui confiar nele quando viajamos juntos para Fernando de Noronha e eu contraí dengue. Fiquei muito doente e Carlos deixou o passeio de lado para cuidar de mim com um zelo que nunca recebi na vida. A preocupação comigo era genuína. Aceitei o pedido de namoro e em três meses ele me pediu em casamento em uma live no Instagram. Eu disse ‘sim’ na frente dos meus seguidores. No dia seguinte, já estávamos organizando a cerimônia.
Eu fiz uma cirurgia de remoção de pele na região das costas e barriga. Virei uma múmia porque precisava de ajuda para fazer tudo. Carlos foi essencial nesse processo. Ele me dava banho, me colocava na cama, me alimentava. Também me deu forças para aceitar um novo corpo e cicatrizes enormes. Eu me sentia uma boneca de retalhos e chorava quando me via no espelho.
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No ano passado decidimos ter filhos. Engravidei em uma viagem às Maldivas, mas descobri um problema nas minhas trompas e perdi o bebê. Fomos a uma clínica de fertilidade e optamos pela FIV (fertilização in vitro). O processo demorou cinco meses e engravidei de novo. Foi um choque descobrir que estou esperando um menino e uma menina — exatamente o que queríamos —, e ainda gêmeos idênticos, uma raridade. Voltei a ganhar peso e hoje não tenho problema nenhum em mostrar meu corpo na internet. Ele está a serviço dos nossos futuros filhos, Noah e Aurora.
Nós temos de lidar com haters diariamente. Eles não entendem por que motivo um homem magro está com uma mulher gorda. Ou, quando estou magra, uma mulher que tem celulite. Dizem que Carlos me trai ou é interesseiro. É cruel. Não vou mentir que não ligamos, mas na terapia aprendemos que jogam na gente as próprias frustrações. Entendemos nosso valor e que aquelas pessoas não nos conhecem de verdade.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 15 de setembro de 2021, edição nº 2755