Continua após publicidade

André Sturm prepara-se para reabrir o cinema Belas Artes

Responsável pelo sucesso atual do Museu da Imagem e do Som, o diretor André Sturm está por trás também da reabertura do cinema, que deve ocorrer no sábado (19)

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 1 jun 2017, 17h17 - Publicado em 12 jul 2014, 00h30
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Centenas de pessoas empunhando faixas e bradando gritos de guerra se reuniram em frente ao cinema Belas Artes, em 2011, naqueles que deveriam ser seus últimos dias de funcionamento. Nem todo o estardalhaço evitou que o espaço, localizado na Rua da Consolação e fundado em 1943 como nome de Cine Ritz, fechasse as portas após uma sessão de A Doce Vida, de Federico Fellini, em 17 de março.

    + Confira a programação da abertura do Belas Artes

    + Veja a programação de cinema na cidade

    + Ranking: os dez melhores filmes em cartaz

    O local marcou época principalmente nos anos 80, sob o comando da distribuidora e produtora francesa Gaumont, quando se tornou referência na programação de filmes de arte na cidade. Recebia naqueles tempos convidados como a atriz francesa Catherine Deneuve e tinha estrutura muito melhor e mais confortável do que a dos cineclubes improvisados. O encerramento das atividades ocorreu devido a desentendimentos com o proprietário do imóvel, Flávio Maluf. 

    + O prefeito Fernando Haddad está sozinho em campo

    Continua após a publicidade

    + A recuperação do Incor

    Descontente com os 63 000 reais recebidos de aluguel mensalmente, ele decidiu reajustar o valor para 150 000 reais. André Sturm, diretor e dono do cinema, fez uma oferta de 85 000, que foi recusada, e precisou entregar as chaves. Como último recurso, tentou-se o pedido estratégico de tombamento do prédio (a fachada ganhou o reconhecimento em 2012), dificultando, assim, ao dono conseguir um novo locatário. Vazio, o espaço foi se deteriorando, com paredes e vidros pichados.

    + Theatro Net é a primeira das cinco salas em shoppings

    protesto fechamento cine belas artes
    protesto fechamento cine belas artes ()

    Três anos depois, quando tudo parecia perdido, Sturm conseguiu dar uma virada na situação. “Nunca desisti de colocar o negócio novamente em operação”, conta ele. Após diversas negociações, a promessa é que o Belas Artes volte a funcionar no sábado (19), às 16 horas, com pré-estreias e um festival de clássicos. “Vamos resgatar aquele ambiente com uma programação de personalidade”, promete.

    Continua após a publicidade

    + Cresce relação de barbearias com serviço e decoração no estilo antigo

    Para atingir a vitória, Sturm uniu forças com o Movimento Belas Artes, de voluntários dispostos a lutar pela sobrevivência do ponto, com a Secretaria Municipal de Cultura e com a Caixa Econômica Federal. O banco vai pagar 1,8 milhão de reais por um ano de patrocínio do cinema. Esse acordo é renovável por outros cinco, período em que o investimento pode chegar a 11 milhões. Também ajudaram a engordar o orçamento esquemas como a venda de cadeiras cativas. A atriz Marisa Orth, por exemplo, foi uma das que adquiriram um plano anual de 3 000 reais, com direito a uma sessão diária com acompanhante.

    cine belas artes obras no saguão
    cine belas artes obras no saguão ()

    Para recuperar o endereço, gastaram-se cerca de 7 milhões de reais na reforma. “Estamos atualizando o lugar, mas mantendo seu DNA”, afirma o arquiteto Roberto Loeb, responsável pelo projeto e frequentador de velhos tempos. Desde 2004, essa é a terceira reforma do Belas Artes em que o profissional está envolvido. “Temos de preservar a experiência proporcionada pelos cinemas de rua, que são tão poucos na cidade”, afirma. Sistema de ar condicionado, fios elétricos, parte acústica, poltronas e projetores foram trocados. O local continuará com a divisão de seis salas, com capacidade total para 1 050 espectadores.

    Uma delas será dedicada apenas a produções nacionais. Outra, com abertura programada para janeiro, levará o nome de Drive-In. Trata-se de uma parceria com o Riviera Bar, ponto badalado do outro lado da rua. Contará com poltronas, sofás e mesas, além de um pouco mais de luz. Será permitido conversar, e garçons servirão comidinhas, como hambúrgueres e milk-shakes, de um cardápio elaborado pelo chef Alex Atala, que é sócio do Riviera.

    Continua após a publicidade

    + Livro sobre Mussum traz episódios da vida do artista na capital

    O renascimento do Belas Artes será outro marco na vida cultural da metrópole com as digitais de Sturm, um gaúcho de Porto Alegre radicado por aqui desde os 4 anos de idade. Filho de uma dona de casa e de um diretor de empresa de confecções, sempre foi um cinéfilo inveterado. No segundo ano do curso de administração, na Fundação Getulio Vargas, sua frustração com as aulas foi atenuada quando entrou para o cineclube da escola. Após acumular experiência no comando da programação do cinema da faculdade, resolveu abrir uma distribuidora em 1989, a Pandora, de filmes cult. “Viajei com a cara e a coragem para feiras internacionais e comprei filmes com o dinheiro que não tinha, mas no fim deu tudo certo”, lembra. “Tive furos, prejuízos que chegarama 500 000 reais em um só longa de bilheteria ruim, mas seguimos até hoje.”

    + Clássicos são artigos mais procurados na Galeria do Rock

    Pela empresa, lançou as duas produções que dirigiu, que ocuparam as telas sem grande repercussão, Sonhos Tropicais (2001) e Bodas de Papel (2008). Atualmente, sua filha, Barbara, de 25 anos, dirige o negócio. “Meu pai tem temperamento rígido”, define. Sturm concorda. “Gosto das coisas benfeitas”, diz.

    barbara sturm  - capa perfil andré sturm
    barbara sturm – capa perfil andré sturm ()
    Continua após a publicidade

    Barbara é fruto de um relacionamento anterior ao único casamento do diretor, em 1993. Essa união terminou cinco anos depois com uma tragédia familiar. Na ocasião, sua esposa, Valéria, enfrentou sérios problemas durante a gestação daquele que seria o primeiro filho do casal. Tanto ela quanto o bebê acabaram morrendo devido às complicações de saúde.

    Nas últimas semanas, o curador tem aumentado o ritmo de trabalho devido aos últimos preparos para a reabertura do Belas Artes. Ele sempre cobiçara um cinema próprio. Nos anos 90, chegou a possuir um na Rua Augusta e outro em Mogi das Cruzes, no interior. Em 2003, quando ouviu que o Belas Artes poderia ser fechado por causa das instalações e programação decadentes, resolveu comprá-lo. Logo, juntaram-se à sociedade os donos da produtora O2, entre eles o diretor Fernando Meirelles. “Era um negócio arriscado, mas tinha um interesse emocional e até uma sensação de dever”, lembra o cineasta responsável por sucessos como Cidade de Deus. “Ali, aprendemos a amar o cinema.”

    + Sobrado tem mais de 600 livros sobre história militar

    Meirelles deixou o empreendimento em 2011. A vida profissional de Sturm não se resumiu ao cinema e à sua produtora. Após trabalhar na Secretaria de Estado da Cultura, de 2007 a 2011, ele foi convidado para dirigir o Museu da Imagem e do Som (MIS), nos Jardins, que recebia na época cerca de 60 000 pessoas por ano. Teve carta branca para arriscar na programação com o objetivo de multiplicar o público.

    + Galeria nos Jardins permite o aluguel de obras de arte

    Continua após a publicidade

    Com orçamento anual médio de 10 milhões de reais, recheou o espaço com mostras estrangeiras com apelo pop, tendo em foco personagens como o diretor Stanley Kubrick, o cantor David Bowie, o artista plástico Andy Warhol e o cineasta Georges Méliès. O resultado da mudança: nos últimos três anos, mais de 500 000 visitantes formaram filas enormes para ver as montagens.

    Essa linha bem-sucedida de programação mais popular vai prosseguir. A partir de quarta (16), será aberta no local a exposição do Castelo Rá-Tim-Bum, programa infantil de sucesso nos anos 90, da TV Cultura. Dez ambientes da série serão recriados, servindo de cenário para figurinos, objetos de cena e fotos. Recentemente, Sturm recebeu uma carta de um curador francês oferecendo uma mostra sobre o cineasta FrançoisTruffaut, que deve chegar a São Paulo em julho do ano que vem. “Por coincidência, havia acabado de comprar os direitos de dezessete filmes dele para relançá-los no Brasil”, diz. “Farei também uma retrospectiva no Belas Artes.”

    › CAMPEÕES DE FILAS

    Os blockbusters recentes do MIS e as grandes mostras programadas

    Em 2016, espera-se mais um megaevento: uma exibição do diretor Tim Burton que já passou por cidades como Nova York e Paris. São desenhos, maquetes, bonecos e outros itens do criador de Edward Mãos de Tesoura.

    + Evangélico e abstêmio, Thiago Mansur faz sucesso nas pistas

    Sturm está solteiro no momento e vive em um apartamento nos Jardins. É torcedor do Palmeirase, sempre que pode, vai ao La Casserole, no centro, onde aprecia receitas tradicionais como magret de pato e profiteroles. Mesmo nas horas vagas, não consegue se desgrudar de sua paixão por cinema. Assiste a cerca de três filmes por semana, muitos deles clássicos como Quanto Mais Quente Melhor, com Marilyn Monroe, que calcula ter visto pelo menos uma dezena de vezes.“A obra me marcou por misturar humor, provocações inteligentes e roteiro extraordinário”, conta o diretor.

    Não por acaso, o longa foi um dos escolhidos por ele para abrir a programação da nova fase do Belas Artes.

    DOS FILMES AO PALMEIRAS

    Alguns dados e curiosidades sobre o curador

    › Idade: 47 anos

    › Natural de: Porto Alegre (RS). Mora em São Paulo desde os 4 anos

    › Formação: administração na Fundação Getulio Vargas

    › Estado civil: viúvo. Em 1998, perdeu a esposa, grávida, e seu bebê, por complicações na gestação

    › Casa: apartamento nos Jardins

    › Filha: Barbara, cineasta de 25 anos

    › Time: Palmeiras

    › Rendimento mensal: 25 000 reais

    › Cargos: diretor do Museu da Imagem e do Som e do cinema Belas Artes, do qual também é dono. É proprietário ainda da distribuidora de filmes Pandora

    › Maiores bilheterias da Pandora: Trainspotting (1996), de Danny Boyle, e As Bicicletas de Belleville (2004), com, respectivamente, 200 000 e 150 000 espectadores

    › Filme favorito: Quanto Mais Quente Melhor (1959), de Billy Wilder

    › Local preferido na cidade: o restaurante La Casserole, que “tema cara de São Paulo”

    › Longas que dirigiu: Sonhos Tropicais (2001) e Bodas de Papel (2008)

    + Confira o que acontece agora na cidade

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Domine o fato. Confie na fonte.
    10 grandes marcas em uma única assinatura digital
    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de São Paulo

    a partir de 49,90/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.