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Ópera Aída chega pela primeira vez com duas protagonistas negras no Municipal

Prevista para 2020, montagem da ópera de Verdi com direção cênica de Bia Lessa finalmente estreia no palco do Teatro Municipal na próxima semana

Por Arnaldo Lorençato e Tomás Novaes
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h57 - Publicado em 27 Maio 2022, 06h00
Imagem mostra três pessoas. Ao centro, uma mulher de vestido branco. À direita, um homem, sentado, com manta de pelos sobre o peitoral e um capacete. À esquerda, ao fundo, um homem de roupa dourada olha fixamente para a mulher.
A estrela Priscila Olegario ao lado do canadense David Pomeroy (Radamés) e David Marcondes (Amonasro): história de amor e guerra. (Stig de Lavor/Divulgação)
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Em um mundo ainda pré-pandêmico, a antepenúltima das 28 óperas do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901), Aída, era ensaiada a todo vapor, com estreia marcada para 28 de março de 2020 no Teatro Municipal.

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O que se sucedeu a partir daquele mês foi um capítulo desafiador e triste para a produção, com a perda de cinco membros da equipe para a Covid-19, além da maestrina Naomi Munakata, responsável pelas afinadas vozes do coro.

Dois anos depois, a montagem assinada por Bia Lessa com regência e direção musical do maestro Roberto Minczuk finalmente virá à luz, numa temporada composta de sete récitas a partir da sexta, 3 de junho. “A única coisa que leva a gente a fazer ópera é o desejo de realizar. Então imagine passar pelos ensaios e dez dias antes da estreia tudo parar. Para mim foi um trauma. Fiquei três dias chorando”, conta a diretora cênica e cenógrafa Bia Lessa.

Imagem mostra mulher com as mãos erguidas, com olhar preocupado. Ao fundo, um homem de roupa dourada estenda a mão em direção a ela.
Marly Montoni: estrela do segundo elenco. (Stig de Lavor/Divulgação)

Apesar do atraso de dois anos, a motivação de apresentar essa história não arrefeceu. “Aída é um grande elogio à guerra, à vitória dos egípcios contra o povo etíope. Então é uma oportunidade muito boa de fazer dessa ópera um pedido de paz”, propõe Bia. Em quatro atos, a obra ficou pronta em1871 e estreou no Cairo. A trama traz a história de Aída, princesa etíope que é escravizada e se apaixona pelo comandante do Exército egípcio, Radamés. Embora correspondida pelo militar, ela terá de enfrentar a fúria da rival, Amnéris, a filha do faraó.

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Duas árias encantam o público desde então, Celeste Aida, de Radamés, e Ritorna Vincitor!, reservada para Aída. “É uma ópera perfeita, que está para o mundo da ópera como Hamlet está para o mundo da literatura”, diz o maestro Minczuk.

Numa atualização, a nova montagem vai além dos campos de batalha e do desfile carnavalesco de elefantes. “Quando a gente está falando de guerra, a gente não está falando só da guerra da bomba, dos mísseis, a gente está falando da guerra social, dessa diferença assustadora. Então eu acho que ficou mais urgente ainda a montagem da Aída”, define Bia Lessa.

Minczuk também reforça que essa versão inova pela escolha do elenco. “Os papéis principais, tanto do primeiro quanto do segundo elenco, são majoritariamente de brasileiros, e também estamos usando os dois coros do Municipal: o Lírico e o Paulistano.” Como Radamés, estão o canadense David Pomeroy, o único solista estrangeiro, e o brasiliense Paulo Mandarino . A voz de Amnéris será de Ana Lucia Benedetti, no primeiro elenco, e de Andreia Souza, no segundo. Amonasro, rei etíope, é vivido por David Marcondes e por Douglas Hahn.

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Não somente simbólica para a equipe, esta montagem tem significado especial pela dupla de sopranos que interpreta a princesa etíope, Priscila Olegario e Marly Montoni, que se alternam no papel. É a primeira vez em 111 anos de Teatro Municipal que a protagonista de Aída é interpretada por cantoras negras.

Priscila, que está escalada para a estreia e mais três apresentações, vem fazendo carreira internacional em teatros como o San Carlo, de Nápoles, onde interpretou esse mesmo papel. “Um pouco triste fazer história por um fato como esse. É muito complicado num país como o Brasil a gente ter esse histórico”, lamenta.

A colega Marly é ainda mais enfática. “Enxergo como uma vitória de toda uma geração de cantores. Olhar para o palco e não ver mais cantoras brancas sendo pintadas de negro é uma vitória imensa”, afirma Marly, que fará o papel em outras três noites. Bia Lessa contou que essa era uma das premissas da montagem. “Isso foi fundamental. Não faz sentido um branco tomar um lugar de um negro. E realmente é a primeira vez no Brasil que isso acontece.”

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Vozes negras no Municipal

Imagem mostra diversas fotos de cantores e cantoras negros que cantaram em óperas no Teatro Municipal de São Paulo.
(Crédito/Veja SP)

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Publicado em VEJA São Paulo de 1 de junho de 2022, edição nº 2791

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