Nas ladeiras de Perdizes, na Zona Oeste, não faltam botecos tradicionais, lojas charmosas e restaurantes aconchegantes. A oferta diversificada da região, no entanto, não incluía espaços de arte. Essa “falha” foi resolvida no último dia 4 com a inauguração da Adelina Galeria, na Rua Cardoso de Almeida.
Espécie de centro cultural, o local dispõe de duas áreas abertas ao público: uma de três andares, com salas de exposições e setor para cursos, e a outra para oficinas e ateliês. Um terceiro galpão será implantado em 2018, com café e ambiente voltado a instalações de grande porte.
“Não queria abrir mais um endereço nos Jardins, na Vila Madalena ou em Pinheiros, bairros saturados de iniciativas do gênero”, conta o empresário Fabio Luchetti, presidente da seguradora Porto Seguro e dono do empreendimento de 3 milhões de reais.
“Preferi explorar novos territórios para atrair outros públicos.” Um de seus objetivos é estimular a participação de jovens artistas, como Renan Marcondes e Erica Kaminishi, que apresentam seus trabalhos na mostra de estreia Para que Eu Possa Ouvir, com instalações, vídeos e pinturas, em cartaz até 20 de maio.
Outra prioridade é a política da boa vizinhança. Assim, o local é abastecido com produtos de lojas do bairro, como livros da Livraria Zaccara, vinhos da Casa da Travessa e molduras da Jacarandá Montagens. O projeto inclui ainda programas educativos com aulas relacionadas a história da arte, filosofia e ciências sociais, e cursos gratuitos para escolas públicas. “Existem galeristas que se consideram agentes culturais, mas não contribuem em nada na formação do público”, critica Luchetti.
Para comandar a agenda de cursos livres, o executivo convidou Stela Barbieri, responsável pela implantação dessa área na Bienal e no Instituto Tomie Ohtake. “Muitos acreditam que educação e mercado não devam se misturar. Propostas como essa contribuem para a ampliação do acesso à cultura”, elogia Tamara Perlman, diretora da Parte, feira que reúne anualmente galerias no clube A Hebraica.
Mas um dos principais diferenciais do complexo é a oferta de hospedagem a artistas estrangeiros que estejam apresentando suas obras no local. Eles são acomodados em um apartamento de três quartos nas imediações, com tudo pago. Atualmente, o imóvel é ocupado pela dupla Beatriz Lecuona e Óscar Hernández, das Ilhas Canárias, que prepara a próxima mostra da galeria.
Os dois ficam no lugar até junho. “Nossa obra se relaciona diretamente com o contexto de onde vamos apresentá-la”, explica Beatriz. “Por isso, é fundamental passar um tempo em São Paulo antes da exposição.” Batizada em homenagem à sua mãe, Adelina, a galeria é um plano de aposentadoria de Luchetti, CEO da Porto Seguro desde 2006.
Contratado pela empresa em 1984 como office-boy, o paulistano de 51 anos é um amante das artes. Criou uma coleção pessoal de cinquenta trabalhos, mas a lista não deve aumentar. “Meu interesse maior é o processo criativo, e não a obra em si”, justifica.
Essa paixão o levou a frequentar o curso de pós-graduação em museologia, colecionismo e curadoria da Belas Artes — ele entrega o TCC em junho. Essa não é sua primeira empreitada no cenário artístico. Ele foi o responsável pela criação do ambicioso Espaço Cultural Porto Seguro, aberto em fevereiro de 2016 em Campos Elísios.
Com uma média de 15 000 visitantes por mês, o local abarca 480 obras, teatro e o Gemma Restaurante. Além do público geral, o complexo é frequentado pelos 10 000 funcionários da empresa. “Ter contato diário com a arte desperta a criatividade e estimula novos olhares.”
Adelina Galeria. Rua Cardoso de Almeida, 1285 e 1372, Perdizes. Terça a sexta, 10h às 19h; sábado, 10h às 17h. Grátis.