Quilo de “uva gourmet” é vendido por 90 reais em supermercados
Produzida no interior paulista, fruta de grife tem cuidados especiais durante o crescimento
Passar no setor de frutas do supermercado, pegar 1 quilo de uvas na gôndola e descobrir que ele custa mais do que toda a compra. Isso é o que pode ocorrer com o consumidor que adquirir um simples pacote da Pilar Moscato, chamada por seus próprios produtores de “primeira uva gourmet do Brasil”. Em algumas redes de supermercados, o quilo do fruto pode custar cerca de 90 reais.
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O segredo do preço mais do que excepcional está na produção da fruta, concentrada na cidade de Pilar do Sul, no interior paulista. “Nossa mão-de-obra é mais qualificada e realiza um trabalho exaustivo”, diz Harue Sawada, gerente da Associação Paulista dos Produtores de Caqui (APPC), responsável pela plantação. “Não deixamos os cachos crescerem aleatoriamente. Funcionários fazem cortes periódicos para que as bagas fiquem maiores e eles precisam saber como isso tem de ser feito”.
Durante o período de crescimento da Pilar, os cachos são envoltos por sacos totalmente fechados, para evitar a ação de insetos. A cobertura também evita o contato direto da fruta com defensivos agrícolas, mesmo sendo usados aditivos para potencializar o plantio. “É importante ressaltar que não é uma fruta orgânica, como alguns pensam. Nós usamos agrotóxicos”, diz Harue Wasada.
Mesmo com todo o cuidado na plantação, o teste final da Pilar é na colheita. Com o auxílio de um aparelho, os produtores avaliam a quantidade de açúcar nas uvas. Se o medidor registrar 18 graus Brix (medida utilizada para calcular a concentração de elementos em líquidos), significa que ela está no ponto. Para chegar à qualidade atual da fruta, de origem europeia, os agricultores desenvolvem uma pesquisa há cerca de sete anos. “Mesmo assim, ainda não chegamos à perfeição”, diz Harue.
O marketing também faz seu trabalho para tentar levantar ainda mais a moral e emplacar o selo de exclusividade da Pilar Moscato. “Pense numa uva que dá para consumir com a casca e não tem aquele gosto de remédio”, diz um dos anúncios.
Nos mercados e redes de hortifruti pesquisados pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, o quilo mais barato da Pilar não saía por menos de 50 reais. Segundo os produtores, cerca de 60% desse valor está embutido na mão-de-obra da plantação. Comprar outros tipos da fruta como a Itália e a Niágara, por exemplo, custa dez vezes menos.
Anualmente, cerca de 360 toneladas da Pilar são produzidas. A distribuição se concentra principalmente na região Sudeste, mas também são feitos pedidos de estados como Mato Grosso e capitais da região Nordeste. Trinta produtores se concentram no cultivo.
“Nenhum deles conseguiria produzir frutas como essa sozinho”, diz a gerente do grupo. Uma vez associados, os produtores são obrigados a participar de reuniões, eventos e cursos de degustação para atualizar a técnica de plantio. Os chamados “dias de campo” ocorrem, em média, cinco vezes ao ano.
O associativismo, segundo Harue, compensa.
“É preciso sobreviver. Não dá mais para sustentar uma plantação vendendo uva de menor qualidade por um real o quilo”.