Rael vai lançar álbum deluxe: “Usei a felicidade como ferramenta de luta”
O rapper paulistano fala sobre paternidade e a sua nova fase, com show em rotação e o fim da parceria com o Laboratório Fantasma

Rael, 43, cai na pista com o dançante e solar disco Onda (2025), lançado em março — que ganha uma versão deluxe ainda este ano, intitulada Nas Profundezas da Onda.
O verão musical que o rapper paulistano registrou é sinal de uma nova estação na sua carreira, com mudança nos bastidores e show inédito em rotação, que volta a São Paulo no dia 8 de novembro, na Casa Natura Musical.
Após doze anos como artista do Laboratório Fantasma, empresa criada pelos irmãos Emicida e Fióti, a parceria chegou ao fim. Ele firmou um contrato com o escritório Elemess em agosto. “Os ciclos se encerram, faz parte tentar outros formatos. É um renascimento”, define o músico, conhecido pela assinatura mais melódica e hits românticos como Envolvidão e Ela Me Faz.
Primeiro fruto da nova fase, o álbum deluxe trará faixas inéditas. “Fiz muitas músicas para o disco — sobraram vinte. Trago outras questões, ambientais, emocionais. Sou inquieto”, conta.
A sonoridade leve e pop de Onda veio para mostrar outro lado de um artista do rap, para além da postura combativa. “Quis usar a felicidade como ferramenta de luta. Vindo de onde eu vim, fazer um disco assim também é político. Temos o direito de amar e ter uma vida bacana”, defende.
Criado no Jardim Iporanga, na Zona Sul, Rael começou a carreira em 1999, com o grupo Can KND e, depois, com o Pentágono. “Quando comecei a ouvir Racionais MC’s, aos 11 anos, entendi quem eu era. Com 14, usava black power e fazia trança de raiz”, diz.
Sobre o rap nacional, ele elogia a pujante cena feminina, citando Ajuliacosta, Tasha & Tracie e Duquesa. “Vejo que é uma indústria que está girando, fazendo dinheiro com seus próprios selos, parcerias com marcas. Nos meus 26 anos de carreira, nunca foi assim”, pontua.
Meia-maratonista nas horas vagas e morador de Moema, Rael é pai de Martin, de 13 anos. “O nome vem de Martin Luther King. É Martin Jorge, porque sou devoto de Ogum”, explica. “A paternidade me ensinou a ser mais profissional. Existe um Rael antes e outro depois — eu era meio porra-louca, agora sou um pouco menos (risos)”.
Em dezembro passado, o rapper relatou nas redes sociais um caso de racismo que seu filho sofreu em um supermercado. “É triste, porque eu vivi isso na escola, na minha vida inteira, no trabalho e até onde moro”, lamenta. “Vemos isso até na indústria. Fiz um disco que é pop, mas, pelo fato de eu ser preto, eles classificam como urbano”, diz, sobre Onda.
Rimando sobre as dores do mundo ou cantando as coisas leves da vida, Rael sabe bem usar a sua voz — e seguir sempre em movimento. “As ondas, embora encontrem barreiras, não cessam. Quando estamos focados, mesmo encontrando obstáculos, não paramos. A gente continua no garimpo”, conclui. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 10 de outubro de 2025, edição nº 2965