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Rosana Paulino é a primeira artista negra com mostra no Malba

Paulistana celebra 30 anos de carreira ocupando museu em Buenos Aires com retrospectiva

Por Humberto Abdo
Atualizado em 12 abr 2024, 18h39 - Publicado em 12 abr 2024, 06h00
Mulher negra posa com peça escura de pedra em parte do rosto. Veste camiseta cinza
Rosana Paulino (Henk Nieman/Divulgação)
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“Artista também é comunicador”, define Rosana Paulino. Após completar 30 anos de carreira, a paulistana tem a oportunidade de falar diretamente ao público argentino. Ela é a primeira artista negra a estrelar uma exposição individual no Malba, museu de arte latino-americana em Buenos Aires.

Com cerca de oitenta obras, a mostra Amefricana celebra as interpretações que ela, também pesquisadora e professora, faz de seus antepassados e da diáspora africana no Brasil.

“Eles chamam de sala, mas ganhei praticamente um andar inteiro. Acho que é até maior do que a mostra na Pinacoteca”, comemora.

Quadro branco, preto e cinza
As Filhas de Eva (2014) (Isabella Matheus/Divulgação)

Foi em 2018 que ela ocupou parte do 1º andar da Pina Luz, com obras produzidas entre 1993 e 2018 — muitas delas escolhidas para estarem no Malba. Parede da Memória, que fincou o início da sua trajetória em 1994, exibe centenas de retratos em preto e branco, todos impressos em “patuás”, pequenas almofadas de tecido usadas como amuleto por praticantes da umbanda e do candomblé.

Ao formar esse grande painel como uma espécie de álbum de família, Rosana já apontava os problemas de representação dos negros na arte, com aspectos históricos e culturais ausentes até então.

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“Sempre penso na obra como um iceberg. A parte da qual tenho consciência é só uma ponta. A linha debaixo d’água ainda guarda muita coisa.”

A série Assentamento, de 2013, também compõe a mostra. Por conta de seu tamanho, com fotografias gigantes, foi exibida com todas as obras apenas uma vez no Brasil.

Parede com vários retratos
Parede da Memória (1994-2015) (Isabella Matheus/Divulgação)

Uma das criações mais emblemáticas é a imagem em tamanho real de uma mulher negra escravizada, que Rosana cortou em vários pedaços para depois “suturar” e incluir elementos como raízes e um coração. No museu, ela é acompanhada pelos ruídos do mar.

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“É uma instalação sobre a travessia dos homens e mulheres sequestrados na África e trazidos para o Brasil. No começo, para evitar rebeliões, eles ficavam presos na mesma posição, uma maneira de enfraquecer tanto o corpo como o espírito”, conta. “E assim só ouviam o som do mar.”

Em cartaz até 10 de junho, a exposição se divide em quatro núcleos: “Memórias Atlânticas”, “As Estruturas Coloniais da Ciência”, “As Narrativas da Arte Brasileira” e “Tecidos da Subjetividade”.

Quadro preto e branco
Pata de Vaca (2021) (Bruno Leão/Divulgação)

Com curadoria de Andrea Giunta e Igor Simões, é quase uma retrospectiva do percurso da artista e inclui cinco grandes instalações, desenhos, gravuras e um vídeo.

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O título remete ao termo “amefricanidade”, cunhado pela filósofa e ativista brasileira Lélia Gonzalez e usado para se referir à experiência comum de mulheres e homens negros contra a dominação colonial.

Para Rosana, seu destaque em terras estrangeiras é um movimento necessário para a cultura brasileira.

“O Brasil ainda se coloca de costas para a América Latina, mas não podemos ignorar o resto do continente”, opina. “Já estive em Cuba e parecia estar em Salvador. Até os gestos corporais, o jeito de andar e falar e os instrumentos tinham semelhanças com os nossos. Podemos ter novas trocas por toda a América.”

Avenida Figueroa Alcorta, 3415, Palermo, Buenos Aires. Quinta a segunda, 12h/20h. Quarta, 11h/20h. Fecha terça. De 2 500,00 a 5 000,00 pesos argentinos. Até 10/6. malba.liit.com.ar

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Peças de barro em parede branca e amontoadas no chão
Instalação Tecelãs (2003) (Rosana Paulino/Divulgação)

Publicado em VEJA São Paulo de 12  de abril de 2024, edição nº 2888

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