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Designer elabora estudo sobre tipografia tradicional de rua de São Paulo

A paulistana Raquel Euzébio fez um guia didático sobre os pixos que tomam conta da capital paulista

Por Mattheus Goto
Atualizado em 17 fev 2024, 02h25 - Publicado em 16 fev 2024, 06h00
Processo de criação: Raquel Euzébio replicou e criou pixos a partir do repertório
Processo de criação: Raquel Euzébio replicou e criou pixos a partir do repertório (Acervo pessoal/Divulgação)
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Espalhado por ruas, empenas de prédios, muros e viadutos. Basta caminhar por alguns quarteirões de São Paulo para se deparar com um dos aspectos mais marcantes da paisagem urbana: o pixo (assim mesmo, com “x”, distinguindo-se da forma dicionarizada, com “ch”, para demarcar seu propósito crítico). Uma análise mais profunda das obras revela características particulares da cidade, não só pelos dizeres, mas também pelo estilo.

Foi o que a designer Raquel Euzébio, 24, fez em seu novo estudo sobre a tipografia tradicional de rua da capital (veja abaixo) e suas variações. A ideia para a investigação partiu de uma necessidade pessoal da designer de catalogar as fontes para o uso em seu trabalho. “Nunca vi um estudo concreto, só análises picadas em livros e documentários”, ela conta.

Com dois anos de formada, ela já trabalhou em outros projetos relacionados, como a criação de artes inspiradas na pixação. Hoje moradora de Lisboa, onde faz pós-graduação em fotografia, Raquel veio a São Paulo no fim do ano passado e coletou uma série de registros (um deles abaixo). “Foi uma obsessão. Por gostar de desenhar, eu tirava fotos ou pegava a caneta e reproduzia”, diz. “Quando voltei para cá (em janeiro), cataloguei o que vi e também criei com base no repertório de anos, de forma despretensiosa.”

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Guia criado por Raquel Euzébio sobre a tipografia de rua
Guia criado por Raquel Euzébio sobre a tipografia de rua (Acervo pessoal/Divulgação)

A designer publicou seu estudo de tipografia de rua no X, antigo Twitter, e chamou atenção com a análise, atingindo mais de 1 milhão de interações. “Muita gente veio pedir para usar, falando que nunca ninguém tinha feito de forma simples e visual. Não disponibilizei abertamente, para marcas por exemplo, porque tenho receio dos rumos que isso poderia tomar. Afinal, o pixo não quer ser arte. Convivo com pixadores e sei”, diz Raquel. “Mas enviei o arquivo para quem entrou em contato, como o caso de um professor que pediu para usar em sala de aula.”

Um dos traços específicos do pixo na capital é a verticalidade. “As hastes verticais são a grande característica”, comenta a designer. “No Rio, é o xarpi, um tipo de pixo sintetizado em uma forma menor. E, no Nordeste, a letra é mais caligráfica, estendida, com curvas e contornos”, explica. Na sua análise, a causa para esse perfil paulistano é a verticalização da “cidade de pedra”, com todos os prédios. “A pixação exprime o que a cidade vive, o que a cidade grita”, ela define.

Das ruas para o Adobe Illustrator: Raquel Euzébio fez registros e os reuniu em um guia
Das ruas para o Adobe Illustrator: Raquel Euzébio fez registros e os reuniu em um guia (Acervo pessoal/Divulgação)

Há também variações dentro da própria capital, de acordo com o estilo de cada pixador. “Tem alguns que só usam retas, sem arcos. Outros, só arcos. E ainda tem os que misturam em uma só arte. Com serifa e sem. Vai depender do cunho, da mensagem visual e da linha de raciocínio”, descreve.

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A designer define o pixo como a voz da rua. “Ele reflete muito a população de São Paulo, uma cidade muito cultural mas com muita pobreza. É um instrumento para essas pessoas invisíveis e subjugadas expressarem sua raiva. Os pixadores querem que aquilo seja visto e incomode.”

Idealizadora do estudo: nascida em São Paulo, Raquel Euzébio viveu em Taboão, Cotia e Bauru
Idealizadora do estudo: nascida em São Paulo, Raquel Euzébio viveu em Taboão, Cotia e Bauru (Acervo pessoal/Divulgação)

Filha de costureira, Raquel conta que tem uma proximidade com a arte e a comunicação visual desde pequena. “Aos 13 anos, eu via o grafite acontecendo. Mas demorei para reconhecer que fazia parte de mim.” Foi só quando ela entrou na faculdade de design gráfico, na Unesp Bauru, que houve um despertar para o assunto, pelo contato com pessoas diferentes. “Percebi que a arte de rua e o rap falam sobre mim.”

Publicado em VEJA São Paulo de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

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