“Jornada de um Imbecil até o Entendimento”: a esmola nossa de cada dia
A peça, escrita por Plínio Marcos em 1968, chega ao fim da segunda década do século XXI como uma crítica resistente ao capitalismo

Texto pouco visto de Plínio Marcos (1935-1999), a comédia dramática Jornada de um Imbecil até o Entendimento (1968) chega ao fim da segunda década do século XXI como uma crítica resistente ao capitalismo. A peça gira em torno de seis moradores de rua que sobrevivem em uma grande cidade pedindo dinheiro.
Proprietários de vários chapéus, Mandrião e Teco (representados por Jairo Mattos e Fernando Trauer) convertem-se em poderosos chefões ao alugar a preços abusivos os utensílios usados para recolher os tostões. O intermediário é Pilico (papel de Helio Cicero), que contrata os pedintes e usa de assédio moral para que eles se sintam dependentes do emprego. Assim, Manduca, Popô e Totoca (os atores Rogério Brito, Douglas Simon e Fernanda Viacava) penam em seu cotidiano, tirando um lucro que mal paga a comida. O roubo de um chapéu instaura uma inquisição e exige uma tomada de posição dos envolvidos.
+ Trinca poderosa de atores em “Terrenal”.
Também diretor, Cicero reforça o diálogo social, com alusões políticas e a uma classe artística sujeita a cachês minguados. Fica sugerida uma leitura capaz de mostrar o elenco como uma trupe que apresenta o texto de Plínio nas ruas em uma opção de metalinguagem que, se assumida, valorizaria o resultado e a ambientação circense.
A direção musical de Dagoberto Feliz reuniu um coro de seis cantores e instrumentistas em torno de temas como Silêncio no Bixiga, de Geraldo Filme, Wave, de Tom Jobim, e Quero que Vá Tudo para o Inferno, de Roberto e Erasmo. As intervenções musicais, no entanto, não aliviam a duração e o peso de algumas cenas que soam arrastadas.
+ “Chaplin, O Musical” em apresentação gratuita.
Ponto forte do elenco, o ator Jairo Mattos sobressai ao injetar um cinisco revelador em seu personagem e estabelece uma irônica parceria com Fernando Trauer. Preste atenção nas delicadas intervenções da atriz Luiza Curvo, responsável ainda pelos figurinos, que imprime poesia e revela belas imagens dentro de uma atmosfera densa (100min). 14 anos. Estreou em 9/11/2018. 14 anos.
+ Centro Cultural São Paulo — Espaço Cênico Ademar Guerra. Rua Vergueiro, 1000, Paraíso. Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 30,00. Até o dia 16.