Iniciativas incentivam o esporte entre a população LGBT
De futebol a treinos funcionais, grupos se reúnem para praticar exercícios e combater o preconceito na área
Cada vez mais, vemos pessoas LGBT ocupando espaços de visibilidade. Nos esportes, porém, a homossexualidade ainda é um tabu muito grande. Apesar do preconceito, pelo menos cinco atletas brasileiros falaram abertamente sobre sua sexualidade durante as Olimpíadas Rio 2016: a medalhista de ouro no judô Rafaella Silva, o saltador Ian Matos, a goleira da seleção de handebol Mayssa Pessoa e a jogadora da seleção de rúgbi Izzy Cerullo, que foi pedida em casamento pela namorada em frente às câmeras.
Pensando em promover a prática esportiva em grupo entre a população LGBT, paulistanos se uniram para formar coletivos que praticam corrida, futebol, queimada, rúgbi e treinos funcionais. Esses eventos ajudam a aumentar a representatividade no meio: todos eles acolhem homens e mulheres, de todas as idades e tipos físicos, com ou sem habilidades esportivas. A única exigência normalmente é não ser heterossexual. Confira algumas dessas inciativas:
Tamanduás-Bandeira Rugby Clube
Engana-se quem pensa que para jogar rúgbi é preciso ser forte e musculoso. Para montar um bom time da modalidade sevens (mais comum entre os grupos amadores no Brasil), são necessários atletas rápidos e fortes, independentemente do tipo físico. Mas a organização do Tamanduás-Bandeira Rugby Club garante que essas são habilidades que os atletas desenvolvem nos treinos. “Não importa se você tem experiência ou não, o nosso rúgbi é para você”, diz Bruno Kawagoe, publicitário e um dos fundadores do time.
Ao lado de outros dois veteranos do rúgbi – Marcelo Cidral e Alan Alves –, ele criou o primeiro time de rúgbi inclusivo do Brasil. Desde maio, cerca de 25 pessoas LGBT se reúnem duas vezes por semana para treinar: às quintas, 20h, na Praça da Paz e aos sábados, 15h, ao redor do Obelisco do Ibirapuera. Para participar, é só aparecer!
Unicorns Brazil
Em 2015, três paulistanos se uniram em torno da vontade de jogar futebol. Até aí, nenhuma novidade. Mas Pedro Gariani, Filipe Marquezin e Bruno Host são gays e, por conta da sexualidade, não se sentiam acolhidos no esporte. A ideia de incentivar a população LGBT a jogar bola se expandiu para outros campos e hoje, a Unicorns Brazil é um grupo poliesportivo que inclui corrida e treinos funcionais.
Atualmente, o grupo reúne cerca de 140 pessoas e quatro turmas nos três esportes. “Antes, os gays só tinham dois lugares para conhecer outras pessoas: as baladas e a internet. Além de incentivar o esporte, nossa proposta é criar um ambiente social divertido”, explica Pedro Gariani.
Como a procura é grande, os interessados precisam se inscrever e entrar na fila por uma vaga, mas a organização garante que a espera não passa de um mês. “É o tempo que a gente precisa para abrir novas turmas, ampliar a estrutura e receber melhor os novos atletas”, explica Pedro. Quando começam a treinar, os atletas precisam contribuir com uma mensalidade, que varia de 50 a 100 reais, de acordo com a modalidade praticada.
Sarrada no Brejo Futebol Clube
A primeira partida se deu em janeiro, quando mulheres lésbicas e bissexuais que se reuniam na festa Sarrada no Brejo migraram da balada para o campo de futebol. Por meio de um grupo no WhatsApp, cerca de trinta jogadoras organizam os eventos, que geralmente rolam no Parque da Juventude e terminam em confraternização, com comida e bebida.
Apesar de ser voltado a lésbicas e bissexuais, mulheres heterossexuais também podem jogar e a família é bem-vinda para assistir aos jogos. Também não é preciso ter experiência em futebol para participar! “Os times são sorteados na hora da partida e o único critério é ser mulher e ter vontade de jogar”, afirma Talita Santos, uma das atletas do time.
Em junho, o Sarrada no Brejo Futebol Clube foi campeão nos Jogos da Diversidade, organizados pela Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo com o apoio do governo estadual.
Gaymada São Paulo
A ideia de trazer a queimada para o público LGBT de São Paulo surgiu depois que o jornalista Lucas Galdino conheceu uma iniciativa semelhante em Belo Horizonte. “Como não existia nada parecido em São Paulo, decidi eu mesmo criar o primeiro evento”, conta. Já no primeiro jogo, em março de 2016, a Gaymada reuniu sessenta pessoas no Largo da Batata.
Além de promover a prática esportiva, que ainda é muito associada a homens heterossexuais, a Gaymada faz um apelo político. “A Comunidade LGBT ainda é muito marginalizada e associada a lugares fechados e noturnos. Então, desde a primeira edição nosso foco é levar aos parques, às quadras, às ruas e a qualquer local público nosso brilho e mostrar que sim, existimos, e não vamos mais nos esconder”, diz o jornalista.
Os jogos acontecem sempre no último final de semana do mês e são abertos para qualquer pessoa LGBT que aparecer. Mas é importante ficar atento à página Gaymada São Paulo para não perder a próxima oportunidade!