São Paulo nas Alturas Por Raul Juste Lores Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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Chafariz à própria sorte, térreos vazios e quiosques sem uso no Anhangabaú

#SPSONHA: A oportunidade perdida no novíssimo Vale, que já exibe vários detalhes ainda crus para uma obra “quase” pronta

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 ago 2020, 16h56 - Publicado em 7 ago 2020, 06h00
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  • “O local reservado para a instalação do café só será ocupado depois que a regional abrir concorrência pública. O espaço ainda está sendo preparado.” Eis a nota da gestão Luiza Erundina na inauguração do novo Vale do Anhangabaú, em dezembro de 1991. A obra de 200 milhões de dólares, uma laje de 50 000 metros quadrados com dois túneis de 570 metros embaixo, foi inaugurada com chuva de papel picado, balé e um grupo performático argentino. Mas o café e o solitário banheiro, equivocadamente afundados no encontro com a Avenida São João, não ficaram prontos. Nem seriam abertos nas sete gestões seguintes. Os espelhos d’água ganharam a cor do Rio Tietê. A “maior praça de São Paulo”, como foi chamada, não se concretizou.

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    A sensação de oportunidade desperdiçada volta a assombrar um espaço público. A gestão Haddad manteve a Praça das Artes inacabada e entregou um calçadão da Sete de Abril bastante malfeito; anos antes, a gestão Serra tinha se limitado a passar um asfalto barato ali e na Rua 24 de Maio. Já com Kassab, o projeto da Praça Roosevelt, sucesso graças a uma juventude faminta por espaços públicos, não entrou na história, assim como o do Largo da Batata. Três anos depois de Doria decretar o fim da Cracolândia e dois anos após a entrega dos prédios da Nova Luz, não há vestígio do conservatório musical e da grande rua de comércio que surgiriam ali. O novo Arouche, de Covas, já dá pena. Dá pra confiar? Mantendo a tradição, o novíssimo Anhangabaú já exibe vários detalhes ainda crus para uma obra “quase” pronta:

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    CHAFARIZES À PRÓPRIA SORTE

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    (Divulgação/Divulgação)

    A maior novidade da esplanada é a presença da água, com 850 jatos que poderão virar chafarizes no verão ou em eventos especiais. Versões bem mais reduzidas realmente atraem adultos e crianças no High Line nova-iorquino e no Sanlitun Village, em Pequim. Mas a prefeitura paulistana nem sequer consegue manter a Fonte dos Desejos na vizinha Praça Ramos de Azevedo, aquela com o monumento a Carlos Gomes. A manutenção supostamente estará a cargo da empresa que receber a concessão do espaço. Mas o resultado do edital ainda não saiu e é dado como certo que a concessionária só começará sua gestão no ano que vem. Até lá, a municipalidade será responsável pela novidade.

    QUIOSQUES AINDA SEM SERVIÇOS

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    Além dos chafarizes, o concessionário será o responsável por operar os doze quiosques, todos com banheiros públicos acoplados. O contraste é triste entre projeto e o resultado quase pronto, com deques bastante apertados para abrigar poucas mesas. Poderão se espalhar fora do deque? Haverá gritaria pela ocupação do espaço do Vale? Como o resultado do edital ainda nem saiu, e é a futura concessionária que vai estudar o que colocar em cada um (casa de sucos? hamburgueria? empanadas?), a obra será entregue com os quiosques sem uso. Repetindo o drama do café do projeto de 1991, que nunca saiu do papel.

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    CONFIANÇA NO TÉRREO

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    (Raul Juste Lores/Divulgação)

    Os três arranha-céus com entrada pela Líbero Badaró não dão sinais de novidades. Seus térreos no Anhangabaú se encontram fechados ou com plaquinhas de aluga-se. Não há movimentação para instalar cafés ou sorveterias em seus mezaninos com generosa vista. Entende-se. Em 1991, para a entrega da anterior versão do Vale, empresários reformaram e abriram novos comércios na área à espera de um grande movimento que jamais ocorreu. Muitos fecharam pouco depois. Nem camelôs se interessaram pelo ponto pouco frequentado.

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    GALERIAS CONTINUAM SEM USO

    (Raul Juste Lores/Veja SP)

    A Galeria Prestes Maia, que liga o baixio do Viaduto do Chá à Praça do Patriarca, é um deserto há 24 anos. A prefeitura colocou o espaço de 6 000 metros quadrados no edital do Anhangabaú para tentar atrair interessados na licitação, que poderiam usar seus belos salões para eventos. Mas a Secretaria de Cultura anunciou, no ano passado, que queria instalar um museu dos direitos humanos ali (coordenação, cadê?). Do lado do Municipal, também sob o Chá, ainda existe outra galeria, que hoje abriga um grupo de dança e um pequeno centro para idosos. Vereadores criticam a concessão, o que pode atrasar mais ainda o uso da área.

    POR ENQUANTO, SÓ NO DESENHO

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    Uma visita ao canteiro de obras deixa claro que a esplanada não estará pronta no mês que vem, quando estava prevista a inauguração. Mas as obras nem começaram para duas promessas que levariam mais gente ao novo Anhangabaú. Uma é a arquibancada na escadaria que sai da Líbero Badaró, em frente ao Edifício Sampaio Moreira, atual sede da Secretaria Municipal de Cultura. A outra é uma passagem que trará os passageiros dos ônibus que descem no cavernoso ponto do túnel sob o Vale. Da última vez que isso aconteceu (obra “meio entregue”), a espera foi longa. O governo Kassab inaugurou a incompleta Praça das Artes no fim de 2012. Só faltava terminar a ligação com o próprio Vale. Foram mais de seis anos até a retirada dos tapumes. Os pontos comerciais e restaurantes da “travessa das artes” não surgiram. Nem se tornou a “praça” que lhe dá nome.

    HIBERNANDO HÁ VINTE ANOS

    (Raul Juste Lores/Veja SP)

    O Palácio dos Correios, quase do tamanho do Municipal, teve sua transformação em centro cultural anunciada em 1997. Mas o restauro e a abertura só se deram em 2013, sem os prometidos cinema, café e restaurante. Tirando a agência no térreo e uma pequena galeria, pouca atividade. Ali perto, os antigos cinemas Marrocos e Art Palacio, desapropriados em 2011 pela prefeitura, continuam ociosos. Mais peças sem vida no Anhangabaú. Arquitetura, sem gente, não faz um lugar. Que o digam a Praça do Relógio, da USP, ou o Eixo Monumental, de Brasília. Aprenderemos desta vez?

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    Publicado em VEJA SÃO PAULO de 12 de agosto de 2020, edição nº 2699. 

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