Imagine um bairro central, loteado há quase 100 anos, formado quase exclusivamente de casarões ocupados por apenas uma família. Por leis redigidas numa época em que os casais tinham muitos e muitos filhos e os empregados moravam com os patrões, cada residência poderia abrigar apenas uma família, com uma só escritura. Se a população crescesse, que fosse morar mais longe (ou que aquele metro quadrado encarecesse pelo excesso de demanda para pouca oferta, inviabilizando a chegada de novos vizinhos).
Parece que estamos falando do Pacaembu, onde, segundo estimativas, até 35% das casas estão no mercado, para vender ou alugar (algumas com as placas pegando poeira há anos). Mas o caso se repete em Minneapolis, no norte dos EUA. A região metropolitana de 3,6 milhões de habitantes vive seu maior crescimento populacional em setenta anos, com 250 000 novos moradores desde 2010. Habitar a área central ficou impraticável, e os recém-chegados estão se espalhando em áreas distantes de onde os empregos se encontram.
Como resposta ao problema, a prefeitura local aprovou uma lei revolucionária: cada casa pode abrigar até três unidades residenciais. O rearranjo interno tem de seguir o código de obras. A ideia é preservar as casas mas aumentar o número de moradores e baratear o custo de viver ali.
Em Nova York e Londres, décadas atrás, muitos casarões foram preservados. Novas regras permitiram que fossem subdivididos em apartamentos, com interfone na entrada, portas independentes, com total autonomia. Às vezes, o quintal é compartilhado. Em outras, o jardim fica apenas para a unidade térrea, enquanto o primeiro andar, o segundo ou uma edícula viram outros apês.
Medidas assim salvariam o Pacaembu, que vive um despovoamento acelerado, com sinistro impacto na segurança.